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O futuro da agricultura está nas cidades

[Entenda essa reportagem em 1 minuto]

As fazendas de milhares de hectares já não são mais a única realidade possível para a produção do alimento necessário para assegurar o futuro da humanidade. Segundo dados da ONU, cerca de 800 milhões de pessoas no mundo estão envolvidas com a agricultura urbana, seja cultivando uma horta no quintal de casa ou num canto do apartamento. Os modelos são os mais variados possíveis: individuais, coletivos ou comerciais. 

Metrópoles como Londres, por exemplo, vêm investindo na valorização de lugares pouco prováveis para o cultivo, como espaços subterrâneos até então inutilizados. É o caso da Growing Underground, que funciona em um antigo abrigo antiaéreo de 1940, a 33 metros abaixo do solo, em Clapham Common. São 6 mil metros quadrados, dos quais 500 metros são de área cultivada permanentemente. A fazenda produz de 1 a 3 quilos de folhosas por metro quadrado semanalmente. 

Boa notícia para um cenário global em grande transformação. Relatório publicado em agosto pelo Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas deu o sinal de alerta.

Especialistas de 100 países concluíram que a urbanização acelerada e o aquecimento global aumentarão de maneira significativa o custo da produção agrícola nos próximos anos.

Na previsão da ONU, o número de pessoas vivendo em cidades no mundo vai saltar dos atuais 54% para quase 70% em 2050. Por isso, a mensagem é clara: as grandes cidades terão que responder cada vez mais por uma parte do alimento que consomem se quisermos evitar o esgotamento dos recursos naturais do planeta.

Fazenda paulistana

Na Vila Leopoldina, bairro da zona oeste de São Paulo conhecido pela presença de produtores de moda e de audiovisual, foi criada a primeira fazenda urbana vertical em escala comercial do Brasil. A produção de hortaliças da Pink Farms acontece em um galpão de 200 metros de área produtiva, próximo à Marginal Tietê.

O cultivo das hortaliças se dá em um ambiente 100% controlado e fechado, que dispensa o uso de qualquer tipo de agrotóxico. Da semente que entra na fazenda até o alimento que sai embalado e pronto para consumo, não há praticamente contato humano. 

As plantas são alimentadas por luzes de LED azul e rosa, daí o nome da empresa, que simulam a luz do sol e aceleram a fotossíntese. Os nutrientes (água e adubo) são fornecidos em doses exatas, como na hidroponia, e todas as variáveis climáticas são controladas. A fase de desenvolvimento das hortaliças acontece em uma estrutura vertical de sete metros de altura com oito níveis. 

[Veja como funciona o cultivo na Pink Farms]

O negócio foi criado por três jovens engenheiros: Geraldo Maia, de 28 anos, engenheiro de produção, e os gêmeos Mateus e Rafael Delalibera, de 30, ambos formados em engenharia elétrica. 

No início de 2017 foi dado o primeiro passo com um investimento de R$ 100 mil. O dinheiro foi usado para montar uma fazenda vertical piloto, de 20 metros quadrados, em Jundiaí, São Paulo. Foi o momento de experimentação, uma espécie de laboratório em que eles testaram diferentes variáveis até chegar a uma fórmula considerada “perfeita”. 

Os resultados foram bastante positivos. As alfaces produzidas no ambiente controlado finalizaram o ciclo entre 35 e 40 dias, da fase inicial à colheita. No campo, segundo pesquisa feita pelos empreendedores, o tempo varia de 55 a 70 dias, considerando o plantio de mudas pequenas.

De acordo com Geraldo Maia, cofundador da Pink Farms [assista à entrevista], o espaço produtivo atual da fazenda urbana hoje equivale a 1600 metros quadrados de campo e a previsão é atingir, com a mesma estrutura, até 7 mil metros quadrados. Ele explica que a empresa conseguiu controlar 100% das variáveis que chegam às plantas: temperatura, umidade, nível de CO². Isso permite fornecer as condições ideais, o que reflete na qualidade e no sabor das hortaliças. Além disso, a economia de água chega a 95%. 

Com o modelo validado, os empreendedores partiram em busca de investidores. Em apenas seis meses, levantaram R$ 2 milhões de dois fundos de capital de risco. Foi com este dinheiro que a construção da fazenda vertical em São Paulo foi possível e a equipe pode crescer: hoje são dez funcionários. A primeira safra, de microgreens, miniplantas usadas em decoração de pratos e receita, foi colhida em maio. A previsão de colheita é de até 140 toneladas de hortaliças/ano. 

“Estamos falando de uma produção cem vezes maior por metro quadrado em comparação com o campo”.

Por hora, os produtos Pink Farms são vendidos no varejo, em empórios e em alguns supermercados, e também para restaurantes e buffets. O próximo passo será testar o e-commerce, com a intenção de entender o comportamento do consumidor final.

“Nós estamos em busca de uma segunda rodada de investimentos que nos permitirá aumentar a capacidade produtiva e também chegarmos a preços mais competitivos. Hoje, o consumidor paga entre R$45 e R$70 o kilo do nosso produto, o que ainda é alto para o poder de compra dos brasileiros”, diz Maia.

Texto: Luana Dalmolin

Vídeo: JPlay/Experience Club

Imagens: Divulgação

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