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Nyse e Nasdaq disputam IPO de empresas brasileiras

O tempo em que abrir o capital e vender ações em bolsas estrangeiras era um movimento restrito às grandes empresas e às estatais ficou para trás. O jogo mudou e o vento está soprando a favor das companhias brasileiras. Agora, muitas delas são cortejadas por algumas das principais bolsas internacionais, como as gigantes americanas Nasdaq e Nyse.

Por enquanto, a primeira – historicamente conhecida por atrair os IPOs de Tecnologia -, está na frente. Recebeu, desde o ano passado, as ofertas de ações da empresa de maquininhas Stone e das educacionais Arco e Afya. A próxima da fila é a XP Investimentos, cuja abertura de capital está prevista para ocorrer em dezembro.

A Nyse, entretanto, não acompanha o movimento da rival de forma passiva. Ao contrário, abocanhou simplesmente a operação de maior volume financeiro entre as brasileiras: a da PagSeguro, empresa de meios de pagamentos do UOL, cuja oferta inicial levantou US$ 2,3 bilhões em janeiro do ano passado.

Embora não exista uma receita de bolo a ser copiada como fórmula de sucesso garantido por futuras postulantes ao IPO no exterior, as companhias brasileiras que acessaram recursos em bolsas estrangeiras têm alguns pontos em comum.

Além de histórias bem-sucedidas, combinando crescimento acelerado e expectativa de sustentabilidade operacional, contam também com modelos de negócio apoiados em inovação, escala e uso intensivo de tecnologia.

Essas características as diferenciam de outras companhias brasileiras. Por isso mesmo, não é raro que o segmento em que atuam não tenha sequer empresas com papéis negociados na Bolsa brasileira, a B3.

 “Esse foi nosso primeiro racional quando buscamos a ida ao mercado. Percebemos que não tínhamos, no Brasil, um concorrente integrado na cadeia do setor. E nos questionamos se o valor do negócio não seria melhor precificado em uma bolsa fora do país”, lembra Virgilio Gibbon, CEO da Afya Educacional.

A escolha se mostrou acertada. O IPO, que somou cerca de US$300 milhões em julho deste ano, teve demanda 14 vezes superior à oferta. Ao todo, mais de 300 ordens de compra foram feitas. Algumas delas por grandes fundos de diversas partes do mundo.

Sobre a concorrência entre Nasdaq e Nyse pela operação, o executivo destaca que a disputa pela listagem foi intensa nos bastidores.

“Fizemos várias reuniões com os representantes dos dois lados e bancos de investimentos. Os executivos das bolsas são muito agressivos no approach”, define. 

Se o apetite das bolsas estrangeiras por IPOs brasileiros é cada vez maior, o interesse dos investidores é bastante seletivo.

“Claro que, em termos de liquidez e valor mais adequado das ações, estar na Nyse ou Nasdaq é um ótimo negócio e traz visibilidade. Mas é preciso entender também que a operação continua no Brasil e, portanto, carrega os riscos do país”.[autor]Alexandre Pierantoni, responsável pela área de Finanças Corporativas no Brasil da consultoria Duff & Phelps.[/autor]

Em outras palavras, o investidor estrangeiro busca projetos sólidos para colocar seu dinheiro. Outro aspecto que precisa ser considerado num IPO no exterior – algo fundamental para que o investidor estrangeiro acolha bem a oferta – é o grau de maturidade da governança corporativa da empresa.

“Para acessar o capital em um mercado pulverizado como o americano, inclusive o chamado dinheiro da viúva, a companhia precisa estar num patamar bastante avançado em termos contábeis e de compliance. Para essas empresas, os ganhos são maiores que os altos custos”, afirma Márcia Andrade, sócia do escritório M.Andrade Advogados.

A rotina dos executivos brasileiros também sofre alterações importantes com a abertura de capital em outro país. Junto com o calendário de divulgação de resultados trimestrais vem uma turnê/rodada de negócios.

“Temos uma agenda internacional intensa. Todo trimestre fazemos um road show”, explica Gibbon, da Afya.

Não por outro motivo, a área de Relações com Investidores é uma das mais impactadas com a decisão de IPO em bolsa estrangeira.

“O profissional passa a estar mais exposto do ponto de vista da regulação. A agenda regulatória americana é bastante pesada. Muitas normas precisam ser cumpridas. Mas algo ainda mais importante é a necessidade de compreender como funcionam a cultura e as estruturas de negócio fora do país”, exemplifica Diego Barreto, Conselheiro de Administração do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores.

ALERTA PARA A B3

A janela de oportunidades que se abriu para brasileiras venderem ações no mercado externo é uma ótima notícia para as empresas, mas acende um sinal de alerta para a B3, bolsa brasileira que passou a ter esse nome após reunir BM&F, Bovespa e Cetip.

O número de empresas listadas em bolsa no Brasil, que chegou a superar 550 em 1996, recuou para as atuais 328, um dos menores da história.

Especialistas ouvidos pelo Experience Club defendem que, para atrair IPOs e parar de perder listagens para concorrentes estrangeiras, a bolsa terá de ser mais agressiva. Principalmente no que diz respeito ao Bovespa Mais, segmento dedicado às listagens de empresas de menor porte.

“É nítido que, num ambiente de taxas de juros em queda e busca dos investidores por novos ativos de Renda Variável, há muito espaço para dar novo ânimo ao segmento de acesso à Bolsa. Sou otimista e acredito que esse momento ainda está para acontecer”, diz Ricardo Martins, presidente nacional da Associação dos Analistas e Profissionais do Mercado de Capitais (Apimec).

Lançado em 2006, o segmento recebeu a primeira listagem – da empresa agrícola Nutriplant -, apenas dois anos depois. Após isso ganhou outras empresas, mas nunca deslanchou. E não só por causa da B3.

“Os bancos emissores, intermediários que distribuem as ações, sempre preferiram as ofertas de maior porte. Trabalham com um ticket-médio de R$ 300 milhões, o que afasta os IPOs de empresas de menor porte”, lamenta Marcelo Tommasi, diretor de finanças corporativas da empresa de auditoria e consultoria Crowe.

A B3 procura não demonstrar preocupação com o tema. A Bolsa lembra que menos de 5% dos IPOs realizados nos últimos 15 anos aconteceram fora do país. No entanto, reconhece que está se movimentando em busca do terreno perdido.

“Um dos pontos identificados é que, se uma empresa tem sede fora do país, mas possui mais de 50% dos seus ativos aqui, ela não consegue se listar no Brasil, nem como emissora estrangeira nem como brasileira. A revisão desse conceito de emissor estrangeiro é uma das prioridades em discussão. Nos concentraremos ainda em aprimorar iniciativas para capacitar e ajudar as empresas na jornada até a abertura de capital”, detalha Flávia Mouta, diretora de Emissores da Bolsa brasileira.

Texto: Luciano Feltrin

Imagens: Divulgação

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