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Além da ordem – Mais 12 Regras para a vida

Além da Ordem

Autor: Jordan B. Peterson

Ideias centrais:

1 – Se deseja adquirir valor inestimável no local de trabalho, ou em qualquer comunidade de pessoas, basta fazer as tarefas úteis que ninguém mais faz ou quer fazer. Por exemplo, organize o que conseguir identificar como perigosamente desorganizado.

2 – Se você decidir se posicionar e recusar uma ordem, se fizer algo que os outros desaprovam, mas que acredita firmemente ser o correto, faça isso em uma posição de confiança nos seus valores. Essa atitude ajudará a sociedade a se manter de pé.

3 – Adquira uma obra de arte. Encontre uma que toque seu coração e compre-a; se for uma obra artística genuína, ela invade e transfigura sua vida. Uma verdadeira obra de arte é uma janela para o transcendente e você precisa disso, pois é um ser humano finito e limitado.

4 – Não seja ingênuo e não espere que a beleza do amor se mantenha sem todo o esforço de sua parte.  O sucesso dependerá de sua capacidade de negociação. Para negociar, você e seu cônjuge devem primeiro saber o que cada um precisa e deseja. Depois, ambos devem estar dispostos a discutir esses aspectos com franqueza.

5 – Dedique-se ao máximo a pelo menos uma tarefa. Quando me tornei professor e comecei a orientar alunos de graduação e pós-graduação, observei que os alunos de graduação em psicologia que se associaram a um laboratório, e, portanto, assumiram tarefas adicionais, obtiveram notas melhores do que aqueles que se sobrecarregaram menos.

Sobre o autor:

Jordan B. Peterson é autor de 12 Regras para a vida: Um antídoto para o caos, que vendeu mais de 5 milhões de exemplares em todo o mundo. Além deste livro escreveu a presente obra, Além da ordem, que acrescenta mais 12 regras às anteriormente lançadas. Publicou também Mapas do significado: Arquitetura da crença. Seus vídeos no YouTube e podcasts atingiram audiência de centenas de milhões.

Introdução

Assim como 12 Regras para a vida, este livro oferece uma explicação de regras extraídas de uma lista mais extensa que contém 42, originalmente publicada e popularizada no site de perguntas e respostas Quora. Ao contrário do livro anterior, Além da ordem explora, como tema abrangente, de que maneira os perigos do excesso de segurança e controle podem ser beneficamente evitados.

Tendo em vista que o que entendemos é insuficiente (algo que descobrimos quando as coisas que nos esforçamos para controlar dão errado), precisamos manter um pé na ordem ao mesmo tempo que estendemos o outro, hesitantemente, além. Assim, somos impelidos a explorar e encontrar os significados mais profundos quando estamos na fronteira, seguros o suficiente para controlar o medo, mas aprendendo, constantemente, ao enfrentar algo com que ainda não nos conciliamos ou nos adaptamos.

É esse instinto de significado: algo muito mais profundo do que o mero pensamento que nos orienta de forma adequada na vida, para que não fiquemos sobrecarregados pelo que está além de nós ou, igualmente perigoso, embrutecidos e paralisados por sistemas de valor e descrenças antiquados, medíocres ou defendidos com tanta soberba.

Regra 1 – Não difame as instituições sociais ou as realizações criativas de forma negligente

Este foi meu melhor exemplo pessoal e prático de algo que vim a perceber ao longo de mais de vinte anos de psicologia clínica: as pessoas dependem de comunicação constante com outras para manter a mente organizada. Precisamos pensar para compreender, mas esse processo é feito principalmente ao falar. Precisamos conversar sobre o passado para que possamos diferenciar as incessantes preocupações triviais – que, do contrário, dominariam nossos pensamentos – das experiências verdadeiramente importantes. Precisamos conversar sobre a natureza do presente e nossos planos para o futuro, para que saibamos onde estamos, para onde estamos indo e por quê. Precisamos submeter as estratégias e táticas que formulamos ao julgamento alheio para nos certificarmos de sua eficiência e resiliência. Também precisamos nos ouvir enquanto falamos – a fim de organizar nossas reações físicas, motivações e emoções, normalmente incipientes, em algo articulado e organizado – e nos livrar das preocupações exageradas e irracionais. Precisamos falar – tanto para lembrar, quanto para esquecer.

Um dos meus clientes precisava desesperadamente de alguém para ouvi-lo. Ele também precisava integrar de forma plena outros grupos sociais maiores e mais complexos – algo que ele planejava em nossas sessões e depois executava por conta própria. Caso caísse na tentação de menosprezar o valor das interações e dos relacionamentos interpessoais, por causa de seu histórico de isolamento e tratamento hostil, ele teria poucas chances de recuperar sua saúde e seu bem-estar. Mas, em vez disso, aprendeu a lidar com esse aspecto e ingressou no mundo.

Regra 2 – Imagine quem você poderia ser e mire esse alvo com determinação

Os alquimistas consideram a matéria prima a substância fundamental da qual tudo o mais emerge ou é derivado, incluindo matéria e espírito. É vantajoso pensar nesse elemento primordial como o potencial que enfrentamos ao confrontar o futuro, incluindo nosso “eu” futuro, ou o potencial que não conseguimos deixar de repreender a nós mesmos e aos outros. Também é útil conceituá-lo como a informação a partir da qual construímos a nós mesmos e o mundo, em vez da matéria que compõe a realidade, como costumamos considerar. Cada interpretação, a de potencial e a de informação, tem suas vantagens.

Todo mundo precisa de uma história para estruturar suas percepções e ações no que, de outra forma, seria o caos opressor do ser. Cada história requer um ponto de partida que não seja bom o suficiente e um ponto de chegada que seja melhor. Nada pode ser mensurado na ausência desse ponto de chegada, desse valor mais elevado. Sem ele, tudo afunda em falta de sentido e tédio ou degenera e mergulha em terror, ansiedade e dor.

Tendo em vista que o tempo transforma tudo de modo inexorável, toda história específica baseada em valores pode falhar, em sua personificação e palco específicos, e precisará ser substituída por algo mais novo, mais completo, porém diferente. Em consequência, o ator de uma dada história (e, portanto, profundamente infundido à trama e à caracterização) ainda deve se curvar ao espírito de transformação criativa que originalmente criou essa história e, talvez, destruí-la e recriá-la.

Regra 3 – Não esconda na névoa o que é indesejável

Então, o que você pode e deve fazer em vez de esconder as coisas na névoa? Admita seus sentimentos. Essa é uma questão muito complexa e não significa apenas “ceder” a eles. Em primeiro lugar, é constrangedor perceber, e mais ainda expressar, sentimentos de raiva mesquinha ou dor provocada pela solidão, de ansiedade em relação a algo trivial ou de ciúme provavelmente injustificado. A admissão de tais sentimentos é uma revelação de ignorância, insuficiência e vulnerabilidade.

O mundo está cheio de perigos e obstáculos ocultos, mas também repleto de oportunidades. Deixar tudo escondido na névoa devido ao medo do perigo que pode encontrar não ajudará muito quando o destino forçar a correr desenfreado na direção do que se recusou a ver. Após se ferir em galhos afiados, tropeçar em pedregulhos e ignorar locais de refúgio, você se recusará a admitir que poderia ter dissipado a névoa com o brilho de sua consciência, se não tivesse escondido a sua luz sob um vaso. Então, você amaldiçoará o homem, a realidade e o próprio Deus por produzir um labirinto tão impenetrável de impedimentos e barreiras.

A corrupção o tentará, também guiada, cada vez mais, pelas motivações não examinadas e obscuras, geradas pelo fracasso e intensificadas pela frustração, culminando cruelmente na crença ressentida de que aqueles que o contrariaram estão recebendo de você exatamente o que merecem. Essa atitude e as ações e omissões que ela inevitavelmente acarreta empobrecerão sua vida, sua comunidade, sua nação e o mundo. Isso, por sua vez, empobrecerá o próprio Ser e é exatamente o que suas motivações mais obscuras e não examinadas desejam.

Não esconda na névoa o que é indesejável. Com uma busca cuidadosa, com atenção diligente, você pode pender a balança para as oportunidades e afastá-la dos obstáculos de modo que a vida valha a pena ser vivida, apesar de sua fragilidade e sofrimento.

Regra 4 – Perceba que a oportunidade se esconde onde a responsabilidade foi abdicada

Se deseja adquirir valor inestimável no local de trabalho, ou em qualquer comunidade, basta fazer as tarefas úteis que ninguém mais faz. Chegue mais cedo e saia mais tarde do que seus colegas, mas não se negue a ter uma vida. Organize o que conseguir identificar como perigosamente desorganizado. Quando estiver no trabalho, efetivamente trabalhe, em vez de parecer que está trabalhando. Aprenda mais do que já sabe sobre o negócio, ou sobre seus concorrentes. Isso o tornará inestimável, uma pessoa imprescindível. Todos perceberão suas atitudes e começarão a apreciar seus méritos conquistados com tanto esforço.

Você pode argumentar: “Bem, eu não conseguiria assumir algo tão importante.” Mas e se começasse a se transformar em uma pessoa capaz disso? Experimente resolver um problema pequeno – algo que está incomodando-o, que acha possível solucionar. Comece enfrentando um dragão do tamanho que conseguirá derrotar. Uma serpente pequena pode não ter tido tempo para acumular muito ouro, mas ainda pode haver algum tesouro a ser conquistado, além de uma probabilidade razoável de sucesso nessa empreitada. Sob circunstâncias adequadas, assumir responsabilidade excedente é uma oportunidade de se tornar verdadeiramente inestimável.

Lembre-se de que não faltam pessoas genuinamente boas que ficarão empolgadas se puderem ajudar alguém útil e confiável. Esse é um dos prazeres verdadeiramente altruístas da vida e sua profundidade não deve ser subestimada.

Regra 5 – Não faça o que odeia

Melhor se posicionar antes que a capacidade de fazê-lo seja comprometida de forma irremediável. Infelizmente, muitas vezes as pessoas agem contra sua consciência mesmo sabendo disso, e o inferno tende a chegar, passo a passo, uma traição após a outra. Lembre-se de que é raro que as pessoas se posicionem contra o que sabem ser errado, mesmo quando as consequências são relativamente pequenas. Isso é algo a considerar profundamente, se você está preocupado em levar uma vida moral e cuidadosa: se não objetar quando as transgressões contra sua consciência são menores, por que presumir que não participará voluntariamente quando elas de fato saírem de controle?

Parte de se mover “Além da Ordem” é saber quando há motivos para isso. Parte de se mover para “Além da Ordem” é entender que sua consciência tem primazia sobre sua ação, de modo a se sobrepor ao dever social convencional. Se você decidir se posicionar e recusar uma ordem, se fizer algo que os outros desaprovam, mas que acredita firmemente ser o correto, faça isso em uma posição de confiar em si mesmo. Isso requer tentar viver uma vida honesta, significativa e produtiva, exatamente o tipo de vida de uma pessoa que despertaria sua confiança. Se você agiu com honra e, portanto, se mostrou uma pessoa confiável, será a sua decisão de se recusar a obedecer ou de agir de maneira contrária às expectativas do público que ajudará a sociedade a se manter de pé. Ao fazer isso, você pode se juntar à força da verdade que põe fim à corrupção e à tirania. O indivíduo soberano, desperto e atento à sua consciência, é a força que impede o grupo, que é uma estrutura que norteia as relações sociais normativas, de se tornar cego e mortal.

Se você deseja se envolver em um grande empreendimento, mesmo que se considere uma mera peça da engrenagem, precisa deixar de fazer coisas que odeia. Deve fortalecer sua posição, independentemente de sua mesquinhez e pequenez, enfrentar a falsidade organizacional que mina seu espírito, enfrentar o caos que emerge, resgatar seu pai quase morto das profundezas e viver uma vida genuína e verdadeira.

Regra 6 – Abandone a ideologia

Nietzsche e Dostoievski previram que o comunismo pareceria terrivelmente atraente, uma alternativa aparentemente racional, coerente e moral à religião ou ao niilismo, cujas consequências seriam letais. Nietzsche escreveu, em seu estilo inimitavelmente ríspido, irônico e brilhante: “Na verdade, eu gostaria que fizessem alguns experimentos para demonstrar que na sociedade socialista a vida nega a si mesma e se corta pelas raízes. A terra é grande o suficiente e há pessoas o suficiente para que eu considere esse tipo de prática e demonstratio ad absurdum válida. Ainda que só possa ser realizada com um alto custo de vidas humanas.”

O socialismo a que Nietzsche se referia não era a versão relativamente branda que depois se popularizou na Grã-Bretanha, na Escandinávia e no Canadá, com sua ênfase às vezes genuína na melhoria da vida da classe trabalhadora, mas o coletivismo total da Rússia, da China e de uma série de países menores. Se de fato aprendemos a “lição prática”, a demonstração do absurdo da doutrina, como consequência do “alto custo de vidas” previsto por Nietzsche, ainda não sabemos.

Nietzsche parece ter adotado incondicionalmente a ideia de que o mundo, na maneira postulada pelas ciências físicas emergentes, era ao mesmo tempo objetivo e sem valor. Isso o deixou com uma única escapatória ao niilismo e ao totalitarismo: o surgimento do indivíduo forte o suficiente para criar seus próprios valores, projetá-los na realidade sem valor e, então, segui-los. Ele postulou que, no rescaldo da morte de Deus, seria necessário um novo tipo de homem, o Übermensch (a pessoa superior ou super-homem).

Há outros problemas com o argumento de Nietzsche. Se cada um de nós vive de acordo com os próprios valores criados e projetados, o que resta para nos unir? Esse é um problema filosófico de crucial importância. Como uma sociedade de Übermenschen poderia evitar o constante conflito entre si, a menos que houvesse alguma semelhança nos valores criados? Por fim, não temos evidências de que alguns desses super-homens tenha existido. Em vez disso, ao longo do último século e meio, com crise de significado e a ascensão de estados totalitários como a Alemanha nazista, a URSS e a China comunista, parece que chegamos exatamente ao Estado niilista ou ideologicamente dominado que Nietzsche e Dostoievski temiam, com as mesmas consequências catastróficas e psicológicas que eles previam.

Regra 7 – Dedique-se ao máximo a pelo menos uma tarefa e veja o que acontece

Quando eu cursava a pós-graduação na Universidade McGill, em Montreal, estudando para meu doutorado em clínica, notei uma melhora acentuada no caráter de todos que perseveraram no programa de cinco a seis anos. O programa tinha um nível crescente de dificuldade. Notei que suas habilidades sociais melhoraram, eles se tornaram mais articulados, encontraram um profundo senso de propósito pessoal. Desempenharam uma função útil em relação aos outros, tornaram-se mais disciplinados e organizados. Divertiram-se mais. Tudo isso apesar do fato de os cursos de pós-graduação muitas vezes serem de qualidade inferior à que poderiam ter, o trabalho clínico não ser remunerado e ser difícil de conseguir, e os relacionamentos com os supervisores de pós-graduação às vezes (mas nem sempre) serem abaixo da média.

Os que estavam começando a pós-graduação muitas vezes ainda eram imaturos e confusos. Mas a disciplina que lhes era imposta pela necessidade da pesquisa e, mais especificamente, pela preparação da tese, logo aprimorou seu caráter. Escrever um trabalho longo, sofisticado e coerente significa, pelo menos em parte, tornar-se mais complexo, articulado e profundo em sua personalidade.

Quando me tornei professor e comecei a orientar alunos de graduação e pós-graduação, observei a mesma coisa. Os alunos de graduação em psicologia que se associaram a um laboratório, e, portanto, assumiram tarefas adicionais, obtiveram notas melhores do que aqueles que se sobrecarregaram menos.

É certamente possível e razoável ter algumas dúvidas e discutir qual jogo seria melhor jogado aqui e agora; mas não é razoável afirmar que todos os jogos são, portanto, desnecessários. Da mesma forma, embora seja possível discutir qual moralidade é a necessária, não é possível argumentar que a moralidade em si é desnecessária. A dúvida sobre qual jogo é apropriado agora não é relativismo. É a ponderação inteligente do contexto.

Regra 8 – Tente deixar um cômodo de sua casa o mais bonito possível

Criar algo bonito é difícil, mas vale a pena. Se você aprender a tornar algo realmente belo em sua vida, mesmo que seja um aspecto isolado dela, terá estabelecido uma relação com a beleza. A partir daí, pode começar a expandir esse relacionamento para outros elementos de sua vida e do mundo. É um convite ao divino. É uma reconexão com a imortalidade da infância e com a verdadeira beleza e majestade do Ser que você já não é mais capaz de enxergar. Isso requer ousadia.

Adquira uma obra de arte. Encontre uma que toque seu coração e compre-a. Se for uma produção artística genuína, ela invade e transfigura sua vida. Uma verdadeira obra de arte é uma janela para o transcendente, e você precisa disso em sua vida, pois é finito, limitado e restrito pela sua ignorância. A menos que possa fazer uma conexão com o transcendente, não terá forças para triunfar quando os desafios da vida se tornarem assustadores.

É por isso que precisamos entender o papel da arte e parar de pensar nela como uma opção, um luxo ou, pior, uma afetação. A arte é o alicerce da própria cultura, é a base do processo pelo qual nos unimos psicologicamente e conseguimos estabelecer uma paz produtiva com os outros. É o que diz o provérbio: “Nem só de pão viverá o homem” (Mateus 4:4). Vivemos pela beleza, pela literatura, pela arte. Não podemos viver sem alguma conexão com o divino, e a beleza é divina, porque, em sua ausência, a vida é muito curta, sombria e trágica.

Devemos estar atentos e preparados para que possamos sobreviver, orientar adequadamente e não destruir tudo, incluindo a nós mesmos. E a beleza pode nos ajudar a apreciar a maravilha do Ser e nos motivar a buscar a gratidão quando poderíamos, de outra forma, ser propensos a ressentimentos destrutivos.

Regra 9 – Escreva em detalhes todas as velhas lembranças que ainda o perturbam

Para nos orientarmos no mundo, precisamos saber onde estamos e para onde vamos. Para saber onde estamos devemos incluir um relato completo de nossa experiência do mundo até o momento. Se você não sabe quais estradas percorreu, é difícil avaliar onde está. Para saber onde estamos indo, essa é a projeção de nosso ideal final, que não é, em absoluto, apenas uma questão de realização, amor, riqueza ou poder, mas o desenvolvimento do caráter que torna os resultados felizes mais prováveis e os infelizes menos prováveis. Mapeamos o mundo para que possamos nos mover de onde estamos para onde estamos indo. Usamos esse mapa para guiar nosso movimento e encontramos êxitos e contratempos ao longo do caminho.

Os sucessos geram confiança e são estimulantes. Não estamos apenas nos movendo em direção ao nosso desejo final, mas parecemos estar fazendo isso da maneira certa e, portanto, não apenas avançando, mas validando nosso mapa. Os obstáculos e as falhas são, em contraste, causadores de ansiedade, depressão e dor. Eles indicam nossa profunda ignorância. Indicam que não entendemos com profundidade suficiente onde estivemos, onde estamos ou para onde vamos. Indica que algo que construímos com grande dificuldade e que desejamos proteger acima de tudo é defeituoso em um grau ao mesmo tempo sério e não totalmente compreendido.

Devemos recordar nossas experiências e derivar delas sua moral. Do contrário, ficamos no passado, importunados por reminiscências, atormentados pela consciência, cínicos pela perda do que poderia ter sido, implacáveis conosco e incapazes de aceitar os desafios e as tragédias que enfrentamos. Devemos reunir tudo que evitamos no passado. Devemos reavivar todas as oportunidades perdidas. Devemos nos arrepender dos erros, refletir sobre eles, adquirir agora o que deveríamos ter adquirido antes e nos recompor.

Regra 10 – Planeje e se esforce para manter o romance em seu relacionamento

Procure adotar uma estratégia mais ampla e abrangente para manter o romance com seu cônjuge ao longo do tempo. Seja qual for essa estratégia, o sucesso dependerá de sua capacidade de negociação. Para negociar, você e a pessoa com quem está negociando devem, primeiro, saber o que cada um precisa e deseja e, em segundo lugar, estarem dispostos a discutir esses aspectos com franqueza. Existem muitos obstáculos sérios tanto para saber o que você precisa e deseja quanto para discutir o assunto. Se você se permitir saber o que deseja, também saberá exatamente quando não estiver sendo atendido. Você se beneficiará, é claro, pois também conseguirá identificar quando for bem-sucedido. Mas talvez você falhe, e pode muito bem ficar assustado o suficiente com a possibilidade de não conseguir o que precisa (e quer) a ponto de manter seus desejos vagos e não especificados. E a chance de obter o que deseja, caso não se esforce para identificá-lo, é muito pequena.

Combine alguns encontros e depois crie o hábito de cumpri-los até se tornar um especialista. Negocie e pratique isso também. Permita-se tomar consciência do que você quer e precisa e tenha a decência de contar esse segredo ao seu cônjuge. Afinal, para quem mais contaria? Dedique-se ao ideal mais elevado do qual obrigatoriamente depende um relacionamento honesto e corajoso, e faça isso com a seriedade que manterá sua alma intacta. Respeite seus votos matrimoniais, de modo que esteja desesperado o suficiente para negociar com honestidade.

Não deixe seu cônjuge desprezá-lo com alegações de ignorância ou recusa em se comunicar. Não seja ingênuo e não espere que a beleza do amor se mantenha sem todo o esforço de sua parte. Distribua as necessidades de sua casa de uma forma que ambos considerem aceitável e não tiranize ou se sujeite à escravidão. Decida o que precisa para se manter satisfeito, tanto na cama como fora dela. E talvez, apenas talvez, você continuará a ter o amor da sua vida, um amigo e confidente.

Regra 11 – Não permita que você se torne ressentido, dissimulado ou arrogante

Contextualizamos o que experimentamos na forma de história. Essa história é, em termos gerais, a descrição do lugar em que estamos agora, bem como do lugar para onde estamos indo, das estratégias e aventuras que implementamos e vivenciamos ao longo do caminho, e de nossas quedas e reconstituições durante essa jornada. Você se percebe e age dentro de uma estrutura assim o tempo todo, pois está sempre em um lugar, indo para outro, e está sempre avaliando onde está e o que está acontecendo em relação ao seu objetivo.

Parte desse racional nas histórias reflete nossa tendência de ver o mundo como uma seleção de personagens, cada um dos quais representa onde estamos ou para onde estamos indo, as ocorrências inesperadas que podemos encontrar ou nós mesmos nos papéis de atores. Vemos intenções animadas em todos os lugares e certamente apresentamos o mundo dessa forma para nossos filhos. É por isso que Thomas, o trem do desenho animado Thomas e seus amigos, tem um rosto e um sorriso, assim como o sol com o qual ele interage. É por isso que, mesmo entre os adultos, há um homem na lua e divindades espalhadas nas estrelas. Tudo é animado.

Ambos os elementos da existência se manifestam em nossa imaginação de forma personificada. Um é a Rainha Má, a Deusa da Destruição e da Morte; o outro é sua contraparte positiva, a Fada Madrinha, a monarca benevolente, a jovem e amorosa mãe que observa com infinito cuidado seu protegido indefeso. Para viver adequadamente, você precisa estar familiarizado com essas duas figuras. Uma criança maltratada pela mãe, familiarizada apenas com a Rainha Má, é prejudicada pela ausência de amor, abatida pela falta de atenção e arbitrariamente sujeita ao medo, à dor e à agressão. Isso não é jeito de viver, e é muito difícil crescer de modo funcional, capaz e sem desconfiança, ódio ou desejo de vingança. Então, ela precisa encontrar alguém para fazer o papel da Rainha benevolente: um amigo, um familiar, um personagem fictício, ou uma parte de sua própria psique, motivada pela compreensão de que esse tratamento cruel é errado e pelo juramento de aproveitar qualquer oportunidade que surja em seu caminho para escapar dessas circunstâncias infelizes, deixá-las para trás e equilibrar sua vida de maneira adequada. Talvez o primeiro passo nessa direção seja postular, apesar da forma cruel com que foi tratada, que é de fato digna de cuidado; e o segundo seja continuar a se doar, onde puder, apesar de ela mesma receber tão pouco.

As pessoas não apenas se sentem encorajadas, para que, de uma perspectiva psicológica, possam afastar o horror e o ressentimento, mas também se tornam mais capazes. Não apenas estão lutando, de uma perspectiva espiritual, com o fardo existencial da vida de maneira mais eficaz, mas também começam a ser pessoas melhores no mundo. Em seus próprios corações, elas começam a reprimir a maleficência e o ressentimento, que tornam o horror do mundo ainda mais sombrio do que deveria ser. Elas se tornam mais honestas. São amigas melhores.

Regra 12 – Seja grato, apesar do sofrimento

É no âmbito dessa tarefa impossível, a decisão de amar, que a coragem se manifesta, permitindo que, mesmo nos piores momentos, cada pessoa que adota o caminho corajoso tome as difíceis atitudes necessárias para agir na busca do bem. Ao resolver manifestar as duas virtudes do amor e da coragem, ao mesmo tempo e de forma consciente, você decide que trabalhará para tornar as coisas melhores para si mesmo, ainda que saiba que, por causa de todos os seus erros e omissões, já está praticamente perdido.

Você trabalhará para melhorar sua situação, como se fosse alguém sob sua responsabilidade. Fará a mesma coisa por sua família e pela comunidade em geral. Você se esforçará para alcançar a harmonia que pode se manifestar em todos esses níveis, apesar do fato de conseguir ver a subestrutura defeituosa e danificada das coisas, e por isso ter sua visão prejudicada. Esse é o caminho correto e corajoso a seguir. Talvez seja essa a definição de gratidão, de reconhecimento, e não consigo ver isso como algo distinto da coragem e do amor.

Apesar do fato de o mundo ser um lugar muito obscuro, e de cada um ter seus elementos sombrios de alma, vemos uns nos outros uma mistura única de realidade e possibilidade que é uma espécie de milagre: um milagre que se manifesta verdadeiramente no mundo e nas relações baseadas na confiança e no amor. Isso é algo pelo qual você pode ser corajosamente grato. Isso é algo no qual você pode descobrir parte do antídoto para o abismo e as trevas.

 

Ficha técnica - Além da Ordem

 

Ficha técnica:

Título: Além da ordem: Mais 12 Regras para a vida

Título original: Beyond order: 12 more rules for life

Autor: Jordan B. Peterson

Primeira edição: Alta Books

Resumo: Rogério H. Jönck

Edição: Monica Miglio Pedrosa

 

 

 

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