Você gostaria de saber quantos anos de vida ainda lhe restam? E o que você faria se soubesse que a morte se aproxima? Questões como essas ainda soam como brincadeira sobre o nosso futuro, mas a possibilidade de saber quando a morte chegará para cada pessoa está muito próxima de se tornar uma realidade. Estudos genéticos sobre o envelhecimento humano têm avançado e já começam a movimentar o mercado de seguros de vida.
Destaca-se entre essas pesquisas a realizada pelo geneticista Steve Horvath, da Universidade da Califórnia (UCLA), nos Estados Unidos. No final de janeiro, ele revelou detalhes do projeto denominado DNA GrimAge, que prevê a expectativa de vida por meio da metilação do DNA. Nesse processo, quanto mais partes metiladas têm em nossos genes, mais rápido o envelhecimento do corpo e, consequentemente, menor o tempo de vida. O estudo foi publicado ao lado do colega Ake T. Lu no jornal americano Aging, especializado em publicações científicas.
Horvath trabalha neste projeto há pelo menos cinco anos e os resultados do GrimAge foram obtidos após a análise de 2.356 amostras de sangue coletadas nas últimas décadas de pessoas cuja data de morte subsequente era conhecida. O resultado surpreendeu estudiosos na área ao apresentar um erro de apenas 3,6 anos em média sobre a expectativa de vida de pessoas cuja data da morte já se sabia.
“Quando se tenta prever a longevidade das pessoas, o GrimAge é 18% mais preciso do que a idade cronológica e 14% melhor do que os estudos epigenéticos anteriores”, comenta Horvath, que aponta também o benefício que seu projeto tem para detectar problemas de saúde. “Com relação à previsão de tempo para doenças coronarianas, o GrimAge é 61% mais eficaz do que a idade cronológica e 46% melhor do que as pesquias já realizadas até o momento”, diz ele.
Seguros
O projeto de Horvath é mais um a estudar a conexão entre DNA e o envelhecimento. Há dois anos, a pesquisadora Yan Zhang, do Centro Alemão de Pesquisas sobre o Câncer, publicou um estudo com uma pontuação que indica o risco das pessoas falecerem. Projeto semelhante foi publicado no início deste ano por pesquisadores da Universidade de Edimburgo.
Todo esse conhecimento sobre o tempo de vida das pessoas tem mexido com o mercado de seguros, já que saber a data de sua morte ou quando terá uma doença grave impacta diretamente na política de preços das apólices. É o caso da holding Reinsurance Group of America, especializada em resseguros de vida e saúde que já tem realizado estudos para a adoção de novos preços tendo como base as descobertas de Horvath.
Até o momento, apenas uma pessoa com vida realizou o teste de GrimAge, que foi o próprio autor do projeto. Horvath, entretanto, não gostou do resultado. “Soube que sou quatro ou cinco anos mais velho do que minha idade real. E eu não gostei de saber disso”, brincou ele.
Texto: Fábio Vieira