Envelhecer é algo inédito e extremamente recente no Brasil e no mundo. Basta dar uma olhadinha nos números: se na década de 1960 o brasileiro vivia uma média de 54 anos, hoje chegamos, sem grandes sustos, aos 76 – um salto de 22 anos.
Já temos mais de 19 milhões de adultos acima dos 65 anos, o equivalente a 9,2% da população. E em 2060, 1 em cada 4 brasileiros será da terceira idade.
Nos Estados Unidos, a terceira idade é ainda mais poderosa e crescente. Mais de 50 milhões de americanos estão acima dos 65 anos e outros 10 mil atingem essa marca todos os dias. A fatia é de 13% da população – e subirá para 19% até 2030, chegando a cerca de 72 milhões de pessoas.
“Todo mundo quer envelhecer, mas não quer ficar velho. A visão da velhice é estereotipada e marcada pela falta de autonomia”. Dr. Carlos André Uehara, Presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.
De olho neste segmento que não para de crescer, startups começam a investir em um público até então avesso às modernidades da tecnologia.
Um mercado tentador para empresas como a Papa, uma das startups mais “hype” da Flórida. A ideia é simples (e genial): fornecer “netos sob demanda” para ajudar no transporte, tarefas domésticas ou fazer companhia para os idosos, usando tecnologia.
Através do aplicativo, site ou telefone, a startup de Miami dá assistência e cria socialização para idosos disponibilizando jovens e entusiasmados membros da equipe, chamados de Papa Pals. “São como ‘netos sob demanda’”, disse o CEO Andrew Parker, em entrevista ao jornal Miami Herald.
Os Papa Pals levam os idosos a compromissos, como cabeleireiro e consultas médicas, ajudam em tarefas domésticas ou apenas saem para passear, conversar ou jogar uma partida de xadrez. A ideia surgiu de uma necessidade pessoal. O avô de Parker foi diagnosticado com início precoce de demência, que progrediu para Alzheimer.
Como a família tinha dificuldade em administrar as necessidades diárias do avô, o CEO da startup criou a Papa, para conectar esses grupos intergeracionais: de um lado, jovens universitários que querem se tornar futuros enfermeiros, médicos e outros líderes; de outro, idosos que necessitam de algum tipo de assistência.
O serviço, que é segurado, tem cerca de 250 idosos cadastrados, que pagam uma taxa mensal de US$ 15 a US$ 30. As visitas dos estudantes (Papa Pals) custam US$ 15 por hora. Para prestar serviço é necessário estar matriculados em uma faculdade, ou estar fazendo mestrado, trabalho social, ou ter um diploma de enfermagem ou medicina. Além de ter um carro de quatro portas e passar por uma verificação de antecedentes. Um teste de personalidade, criado pela empresa, avalia a empatia, paciência e a capacidade de conversar dos candidatos.
Atualmente, o serviço está disponível apenas na Flórida, mas a empresa planeja expandir os negócios para dez Estados americanos. “Estamos focando na cura da solidão”, disse Parker em entrevista ao jornal Washington Post.
Amigo cibernético
Mas nem sempre a tecnologia oferece companhia de carne e osso. O ElliQ é um pequeno robô desenvolvido para “acompanhar” e ajudar idosos a fazer atividades simples, como lembrar de tomar seus remédios, passear ou mesmo auxiliá-los a fazer uma vídeo-chamada para os filhos ou netos, responder mensagens e compartilhar fotos.
O equipamento não se parece em nada com os robôs humanoides que nos acostumamos a ver nos filmes de ficção científica, lavando roupa ou cozinhando. Dá para dizer que o ElliQ está entre o cruzamento de uma elegante lâmpada de design e a luminária de assinatura da Pixar. Ele também não é muito mais alto do que um tablet. Graças à inteligência artificial, o robô é uma presença amigável que interage com o idoso, oferece dicas e conselhos, responde perguntas e dá sugestões de viagens, por exemplo.
O ElliQ pode ser encomendado pela internet e custa US$ 1.500 – o valor inclui 12 meses de assinatura grátis do serviço. A mensalidade é de US$ 50.
Texto: Andrea Martins
Imagens: Divulgação