Por Helô Passos
O ano era 1995, Bill Gates até então só um jovem promissor, tentava explicar em rede nacional no talk show do David Letterman o que era a internet. “É uma loucura o que está acontecendo, as pessoas podem ter sua página e mandar mensagens eletrônicas umas para as outras. É a nova grande coisa!”, dizia o fundador da Microsoft.
Como explicar para um mercado tradicional que você iria conhecer os novos charutos, entender as novas estatísticas automobilísticas e encontrar pessoas com os mesmos interesses que você em pleno 1995, quando mal se tinha acesso a computador doméstico e quem dirá acesso à internet? Bill Gates via além do que as pessoas enxergavam. Vinte e sete anos depois, Bill Gates possui uma das maiores empresas do mundo, com valor de mercado de US$ 2,2 trilhões.
Como explicar ao mundo agora que as pessoas vão ser detentoras dos seus ativos podendo levar suas contas, personagens e publicações de rede para rede? Que uma cadeia de suprimento terá rastreabilidade imutável, desde seu ponto inicial de produção até o cliente final? Que as finanças em alguns casos não estarão sob o guarda-chuvas do Banco Central? Como explicar que não só a internet, mas grande parte do consumo será descentralizado com a blockchain?
Estive no Blockchain Expo Global, evento de Web 3.0 dentro da grande feira Tech Expo Global, em Londres, com diferentes setores da tecnologia como Cloud (nuvem), Inteligência Artificial, cybersegurança, Internet das Coisas (IoT), Big Data e transformação digital. O setor de blockchain contava com dois palcos principais, o blockchain for enterprise e o digital tokenization assets e, antes de caminhar pelas tendências, vou explicar os dois conceitos de mercado para você.
Quando falamos de blockchain, poucas vezes associamos essa palavra com tecnologia (isso quando associamos) e acabamos conectando os conceitos de criptomoeda e especulação a ela.
A blockchain nada mais é do que uma tecnologia, uma rede que permite a programação em várias linguagens. Muitas aplicações podem rodar nela: artes digitais, ativos de jogos (NFTs), protocolos financeiros para empréstimo, compra e venda de tokens (ativos de utilidade), aplicações para cadeias logísticas e monitoramento de diversos itens, incluindo a produção industrial.
Por ser uma tecnologia de validações, de tempos em tempos (às vezes a cada 10 minutos!) as transações são registradas em um “livro contábil” digital. Desta forma, nenhuma transação consegue ser alterada, pois para corromper apenas uma delas seria necessário ir até à primeira e corromper as transações bloco por bloco, algo que nem o mais potente computador do mundo consegue fazer hoje.
Quando falamos de tokenização, estamos falando em quebrar partes de um negócio – ativo ou qualquer outro bem – em pedaços menores, para que um maior número de pessoas possa ter acesso a ele. Um token é como se fosse a “moeda” da blockchain, um ativo que vai ter usabilidade dentro de um ecossistema, seja ele financeiro ou não.
Entendendo esses dois conceitos, percebemos o quão importante serão as ferramentas de onboarding e usabilidade em um processo de adoção massiva da blockchain, tese defendida por estudiosos do mercado e reforçada no Blockchain Expo Global.
Suportar a transformação digital será um dos grandes pilares que irá separar os negócios que serão bem-sucedidos na Web 3.0 dos que irão falhar no meio do caminho. Entender que não viveremos de especulação ad eternum e trilharemos um caminho de utilidades e engajamento das comunidades. Saber que a velocidade é mais importante do que nossos egos, que querem criar grandes ecossistemas e fazer tudo internamente ao invés de ter bons parceiros durante a jornada.
Abraço quando é largo demais, acaba sendo frouxo.
Um dos pontos que mais me chamaram atenção é entender que negócios precisam ter modelos bem definidos, algo que muitos projetos de blockchain (tal como empresas tech na grande bolha de venture capital) erram ao prometer grandes visões de valuation futuro quando não têm sequer o básico: um produto que transforma quem o usa.
Quando pensamos em construção de negócios, ou modelos que podem ser melhorados usando a tecnologia blockchain, não podemos nos esquecer do que vem sendo discutido a nível global: a regulação, um “bicho” que não sabemos como se parece, mas que certamente está vindo.
A questão é: o que atacaremos primeiro? Quais leis ou diretrizes permitirão um processo de aceleração econômica no setor? Apesar de divergir de alguns colegas, acredito que a regulação será benéfica em alguns setores, mas não atingirá o mercado inteiro, apenas corretoras centralizadas, real estate e finanças. Entender essas regras será essencial para a segurança do consumidor de varejo e de grandes investidores.
Conseguiremos ver os Três Bs (em inglês) ou os 3Ms, em português, sendo aplicados no setor: Melhores serviços, Melhores ferramentas e Melhores experiências do usuário.
Em suma, os três conceitos que você deve absorver hoje é:
- A blockchain veio para ficar e ela não é mais futuro, ela é o presente.
- A regulação vai acontecer a nível global, e você terá (mais!) segurança para investir e construir negócios em cima da Web 3.0.
- O onboarding da grande população na tecnologia virá, e tem gente trabalhando incansavelmente em vários lugares do mundo para isso.
Meu papel com o diário de bordo do NAVE aqui no [EXP] é te informar. Seu papel é construir conosco uma jornada ainda maior da que já estamos vivendo. Te vejo no próximo artigo.
Câmbio, desligo.
Helô Passos é fundadora da Trexx e especialista em blockchain games e criou o projeto NAVE para aproximar comunidades e projetos web3 com o mercado nacional e internacional.