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Rede de academias se une a concorrente digital para crescer

Selfit, líder do setor no Norte e Nordeste, revê modelo de negócio de forma radical e aposta cada vez mais em tecnologia e aquisições para alcançar outras regiões do país

O mercado das academias de ginástica foi, sem dúvidas, um dos mais abalados pelos dois anos de pandemia no Brasil. A partir de meados de março de 2020, as medidas restritivas aplicadas em várias partes do país esvaziaram milhares de academias e o setor praticamente parou. Dois anos depois, o cenário resultante da crise apresenta perspectivas distintas: se, por um lado, muitos negócios sucumbiram pela falta de clientes, hoje se vê uma demanda reprimida de pessoas interessadas em atividades físicas e saúde. “Já temos um ramp-up [alavancagem] igual ou superior ao que se via antes da pandemia”, afirma o pernambucano Leonardo Pereira, fundador e sócio da Selfit, rede de academias low cost líder na região Norte e Nordeste do país.

Fique ligado:

  1. Demanda reprimida durante a pandemia promete aquecer mercado de academias em 2022, com pessoas mais interessadas em cuidar da saúde e do bem estar, acredita empresário do setor.
  2. Rede de academias que vinha em ritmo acelerado de inaugurações de unidades físicas sofreu mudança radical na operação e passou a investir em mais produtos e serviços via digital
  3. Aquisições também fazem parte da estratégia de ampliar a presença da marca no sudeste e aumentar a escalabilidade com uma proposta de valor mais ampla

Cavalo de pau na direção dos negócios

Fundada em 2012, com sua primeira academia inaugurada em Salvador (BA), a Selfit vinha em ritmo forte de crescimento nos últimos anos. Encerrou o ano de 2019 com 200 mil clientes ativos. Naquela época, a meta era abrir uma nova unidade a cada sete dias. Eis que em 2020, veio a pandemia e a rede teve de ficar quatro meses e meio de portas fechadas. “Naquele momento, a Selfit se viu obrigada a mudar muita coisa. As prioridades passaram a ser manter os empregos, engajar os alunos à distância e preservar o caixa, porque a gente sabia que o inverno prolongado viria”, diz.

A receita da empresa naquele ano totalizou R$ 86,8 milhões, com queda de 28,4% na comparação com 2019.

De acordo com o empresário, a mudança de rota precisou ser radical para manter a musculatura do negócio. “Foi uma mudança de modelo fundamental que parou tudo e redirecionou a companhia para um caminho absolutamente impensável até então”, relembra Pereira, que compara a manobra drástica na operação com um “cavalo de pau”.

Hoje, com dez anos de mercado, a Selfit tem aproximadamente 100 unidades, marcando presença em 15 estados do Brasil. Seria um exagero dizer que depois do vendaval veio a bonança. Mas a empresa já tem indicadores de crescimento com as inaugurações feitas em 2022. “Enquanto a gente imagina atingir o ponto de maturidade de uma academia com entre 10 e 12 meses, isso está acontecendo nas últimas inaugurações de uma forma muito mais acelerada. Então, isso é bem animador e, quem sabe, uma poxy (representação abstrata de um movimento de mercado) para todo o resto”, afirma o empresário.

Empresa tech-enabled

Como forma de se manter competitiva e se diferenciar da concorrência, a Selfit sempre apostou no uso de recursos tecnológicos para ampliar o relacionamento com seus clientes e aumentar a oferta de produtos e serviços. Isso desde antes da pandemia. Mas é fato que o processo de digitalização da rede foi acelerado por causa do momento. “Eu diria que nenhuma outra empresa do setor é ou foi tão tech-enabled (habilidade no uso de tecnologia) como a Selfit”, afirma Pereira. A rede já permitia compra de aulas avulsas de forma digital, o booking (reserva) de aulas, a transferência entre alunos de unidades distintas, o up-grade, além de disponibilizar um app de treinos para serem executados dentro ou fora da academia e orientação nutricional via ferramenta mobile. “O negócio já carrega tecnologia no DNA.”

Para elevar ainda mais a presença digital, a rede adquiriu 55% das ações da Weburn, plataforma de fitness digital, em 2021. Além de oferecer solução 360º de atividade física, saúde e nutrição por meio de diferentes plataformas digitais, a ação faz parte da estratégia de ampliar a presença da marca no sudeste e aumentar a escalabilidade do negócio com uma proposta de valor mais ampla. “A Selfit é líder no mercado no Norte e o Nordeste do Brasil, a WeBurn é uma plataforma que está mais no Sudeste, então vemos uma complementaridade, não há um overlap (sobreposição) de forma significativa. Ainda que houvesse, a gente acha que seria saudável”, explica Pereira.

Modelo mais amplo

A aquisição parcial da WeBurn aponta para um modelo de negócio mais amplo, que não envolve só a prática de exercícios em unidades físicas, mas também uma série de produtos e serviços relacionados à saúde e bem estar como produtos alimentares suplementares e complementares, planos de emagrecimento, entre outros . “Existe uma série de ações nesse sentido, de termos um modelo de negócios um pouco mais competitivo, um pouco mais amplo e também voltado para crescer”, comenta.

De acordo com o empresário, a Selfit também pretende investir em mais aquisições para 2022. O fundador da rede indica que já existem alvos no radar. “Existe sim (aquisições no radar), players identificados, conversas nesse sentido. Faz parte das avenidas de crescimento que a gente espera no curto prazo”, diz.

Abertura de capital na B3

Além de novas aquisições, inauguração de mais lojas e contínua digitalização, os planos futuros da Selfit também incluem a abertura de capital junto à B3. Em dezembro de 2021, a rede protocolou na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) o prospecto preliminar para a realização de uma oferta pública inicial de ações (IPO). “Nós temos um fundo dentro da Selfit, já há algum tempo, chamado HIG Capital, que é o nosso grande driver no que diz respeito às ações que envolvem a abertura da companhia no mercado de capitais”, afirma. “Mas, além disso, eu diria que há um pouco mais de ações profundas nesse processo como um todo: o histórico de execução, o track record, a governança, que trazem certa segurança para esse caminho (da abertura do capital). Estou confiante de que esse movimento será feito de uma forma inteligente, no melhor momento.”

Retomada em comparação ao mercado externo

O empresário observa que o crescimento do setor no Brasil, que não ultrapassa a marca de 5%, segue a tendência mundial, porém em ritmo mais lento do que o esperado. “Quando a gente olha empresas de capital aberto como a Basic Fit, por exemplo, na Europa, vê que ela já superou as suas médias históricas e que o número de unidades inauguradas tem sido crescente, com planos de crescimento”, diz.

No Brasil, ou seja, por questões diversas, entre elas a questão política, a retomada está um pouco mais lenta se comparada com outras economias, pondera Pereira. O principal fator de preocupação atualmente, segundo ele, é a inflação, que afeta em cheio modelos que tem como base o low cost. “Mas a ideia é continuar posicionado sim, no value for money, ou seja, garantindo uma boa entrega e preços competitivos, tudo com muita tecnologia. Isso é o que a gente espera em termos de propostas de valor, que já vem acontecendo e que a gente espera continuar fazendo, obviamente, sofrendo alguns ajustes ao longo do tempo”, afirma. “A Selfit voltou a crescer. E a ideia é continuar crescendo.”

Texto: Ana Letícia da Rosa

Imagem: Freepik, Divulgação

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