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Quem são as startups que estão acelerando na quarentena

Enquanto o mundo assiste perplexo às projeções econômicas derreterem nas grandes economias e setores projetando desaceleração neste e até nos próximos anos, um segmento parece estar vacinado contra os impactos do novo coronavírus: o mercado de startups.

Com DNA digital, menores e mais ágeis, estas empresas têm demonstrado fôlego em meio à crise da Covid-19. Estima-se que o Brasil tenha entre 15 mil e 20 mil startups – destas 13 mil estão listadas na Associação Brasileira de Startups, grande parte da área de fintechs (setor financeiro) e edtechs (área de educação).

Mas com o isolamento de parte da população e novos hábitos de consumo, alguns segmentos viram a demanda crescer em plena crise da pandemia. É o caso de planos e seguros de saúde, as chamadas insurtechs; deliveries de alimentação; telemedicina (healthtechs); plataformas de vídeo; e as edtechs, principalmente àquelas voltadas para EAD, educação à distância.

“As startups, por definição, têm um mindset de adaptabilidade. Já trabalhavam no digital e tinham a tecnologia como principal fator de escala. Então, já operavam como sanfona, crescendo e encolhendo de acordo com a movimentação do mercado”, destaca Amure Pinho, investidor-anjo em dezenas de startups e presidente da Associação Brasileira de Startups.

Ele acrescenta que, com este DNA de adaptabilidade aprenderam desde o início que precisam ser ágeis e controlar ao máximo o custo delas”, destaca.

Outro profissional com longa experiência em inovação contextualiza que as startups, como disruptoras, são adaptáveis, mas os riscos também são grandes.

“As startups podem se beneficiar desse momento onde tudo fica mais difícil, mas, por serem menores e mais jovens, também sofrem mais com caixa e capacidade de sobrevivência em momentos como esse”, reforça Bob Wollheim, Chief Strategy Officer (CSO) da CI&T e investidor early stage na The Next Company.

PSICOLOGIA

Caixa não é preocupação para a Vittude, plataforma de psicoterapia online que une psicólogos a pessoas em busca de terapia. Além de receber cerca de R$ 5,2 milhões de investidores como Vetor Editora, Superjobs VC e Redpoint eventures, que liderou a rodada de investimentos seed no final de 2019, a startup viu a demanda por consultas online explodir com o isolamento.

Em meio ao stress e ansiedade causados pela quarentena, o número de pessoas na plataforma digital saltou de 30 mil para mais de 100 mil, em grande parte impulsionado pelos contratos corporativos. Dois novos contratos foram assinados com as empresas SAP e Raia Drogasil, que, sozinha, levou mais de 50 mil novas pessoas para a Vittude. Outro grande contrato, em fase de confidencialidade, deve ser anunciado em breve.

Entre os clientes corporativos estão Banco do Brasil, 99, Nubank e os escritórios de advocacia Trigueiro Fontes e Lobo de Rizzo. “Antes da pandemia tínhamos 20 clientes corporativos. Hoje já somamos 29, mas ainda temos cerca de 80 propostas em negociação”, conta Tatiana Pimenta, CEO e fundadora da Vittude (na foto que abre esta reportagem).

Tatiana acredita que com a chegada do coronavírus a demanda por serviços de saúde mental corporativa vai crescer muito e com muita força. “Ninguém estava preparado para viver 6 a 8 semanas em situação de confinamento. Para garantir que seu time fique equilibrado emocionalmente, as empresas precisarão repensar seus pacotes de benefícios. Muitas incluirão a psicoterapia online como uma alternativa”, analisa a CEO da startup fundada em 2016 e que deve chegar a 1 milhão de vidas pelo Vittude Corporate este ano.

MINHA NETFLIX

Em tempos de #fiqueemcasa, outro segmento que tem ganhado importância é o de vídeos online e transmissões ao vivo. Justamente a especialidade da Netshow.me, startup de tecnologia que oferece plataforma OTT (Over The Top) para que empresas ou profissionais inovem na comunicação, distribuindo conteúdo digital online ou fazendo transmissões ao vivo. Desde o começo do isolamento, houve incremento de 425% no número de pedidos de proposta para estas soluções digitais. Em apenas 15 dias geraram o equivalente a um trimestre.

“As áreas que mais demandam são referentes a eventos, principalmente os corporativos, que aconteceriam de maneira física e passam agora a ter que se adaptar e fazer transmissão ao vivo”, reforça Rafael Belmonte, cofundador da Netshow.me.

Outro “filão” é o de profissionais liberais ou produtores de conteúdo, como professores de ioga ou meditação, que querem monetizar as transmissões, criando seus próprios “Netflix” para conseguir uma receita digital recorrente.

Lançada em 2013 por Belmonte e o sócio Daniel Arcoverde com foco em transmissões ao vivo para o universo musical, a Netshow.me mudou o formato em 2016 para o atual modelo de entrega e recebeu investimentos importantes, como do braço de inovação da Telefonica, além dos fundadores do Buscapé, GymPass e Esporte Interativo, além do fundo de investimento Provence Capital.

A empresa conta atualmente com 350 clientes. “A expectativa para os próximos meses é bem alta. As pessoas vão acabar olhando para o digital não mais como uma alternativa, mas, sim, como uma obrigatoriedade em fazer”, comenta.

HOME OFFICE E HAPPY HOUR

O trabalho home office também impulsionou as atividades da FindUP, startup criada em 2015, em Recife (PE), que conecta técnicos de informática às áreas de TI de grandes empresas, principalmente do varejo. São 9 mil técnicos em mais de 700 cidades brasileiras que têm recebido chamados para atender colaboradores do varejo que estão trabalhando em casa. “Também é uma oportunidade para fazer mudanças na parte de TI nas lojas”, destaca Fábio Freire, CEO da FindUP, que tem clientes como Riachuelo, Pernambucanas, Centauro e Magazine Luiza.

A mudança de hábitos de consumo também tem impulsionado as startups de delivery, como o Bebida na Porta, que entrega bebidas alcoólicas e não alcoólicas, já refrigeradas, em até 30 minutos, por meio de aplicativo ou Whatsapp.

Segundo levantamento divulgado pela Opinion Box, sobre o “Impacto da Covid-19 nos Hábitos de Compra e Consumo”, 26% das pessoas passaram a pedir delivery, sendo que 16% dos entrevistados aumentaram o consumo de bebida alcoólica. A pesquisa ouviu mais de 2 mil consumidores em março.

Com o isolamento social, o Bebida na Porta registrou aumento de 50% nos pedidos, em relação ao mês anterior. As bebidas alcóolicas representam mais de 70% dos pedidos. Água é o terceiro produto mais comprado, atrás somente de cervejas e refrigerantes. Com o home office, o happy hour também começa mais cedo. Se antes da quarentena o horário de pico era à noite ou início da madrugada, agora os pedidos chegam a partir das 15 horas, com destaque para o final da tarde até o começo da noite.

“Por meio
da quarentena estamos conquistando novos clientes e temos atualmente um percentual de fidelização em torno de 70%”, explica Jessica Gordon, CEO e fundadora da startup criada em 2019 e que atua nas regiões Oeste e Sul da capital paulista, além de Alphaville. A expectativa é expandir o atendimento em 2020 para a Grande São Paulo.

DESAFIOS

Para Bob Wollheim, apesar do crescimento de alguns setores durante a crise, é preciso ficar atento aos desafios. “A lição aqui é, claro, surfar o momento, mas ter certeza que a empresa está também construindo o seu próprio futuro para quando o mundo se assentar (new normal), sob o risco de um voo curto e um tropeço enorme em alguns meses”, afirma.

Vale reforçar que o mercado de startups é extremamente elástico. Se por um lado a crise do coronavírus pode forçar o fechamento de 10 a 15% das startups brasileiras em 2020, segundo estimativas analistas do mercado, por outro, estima-se o surgimento de 10% a 20% de novas startups este ano.

“Existe um estudo da Kauffman Foundation que mostra que as crises são propícias para o nascimento de startups – 57% das empresas Fortune 2009 foram fundadas em anos ruins. Portanto, assim que as coisas se assentarem um pouco vamos conseguir entender qual o ‘new normal’ e devemos ver o nascimento de muitas novas empresas”, analisa Wollheim.

“Startups aparecem também em momentos de crise porque elas buscam trazer eficiência para os negócios. É natural que depois de uma grande crise, oportunidades apareçam, problemas fiquem evidenciados e as startups nasçam para resolvê-los”, conclui Amure Pinho.

 

Texto: Andrea Martins

Imagens: Divulgação

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