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Próximo desafio: transformar empresas em sistemas operacionais

A pressão da concorrência pela inovação e a transformação digital colocou o modelo de negócios em plataforma no centro da discussão do mercado. Com a consolidação do conceito criado por grandes companhias como Apple e Amazon, ou startups que se tornaram gigantes como Airbnb, o mundo das plataformas já está ficando para trás.

As conclusões são do CEO do T-Labs e Chair de Economia e Finanças da Singularity University, Amin Toufani, criador do conceito da Exonomics. Ele fez uma apresentação de impacto no Brasil na Confraria de Economia, realizada na terça-feira, dia 19 de março, na casa Charlô, em São Paulo. Mais de 200 CEOs de grandes empresas representando os principais setores da economia do país estiveram presentes no evento exclusivo para associados e convidados especiais do Experience Club.

Trazendo uma série de insights novos sobre os efeitos de aceleração exponencial da economia provocados por novas tecnologias, Amin Toufani foi enfático sobre a mudança de modelo protagonizada pelo ambiente de negócios. “Primeiro temos as plataformas, que estão evoluindo para os ecossistemas de plataformas, que até agora só existe um de fato, o WeChat na China”, diz o economista.

“O desafio da próxima década será transformar as empresas como os sistemas operacionais que estão no centro dos mercados”, prossegue. Para o acadêmico da SU, os futuros candidatos a sistemas operacionais são gigantes como a IBM, em inteligência artificial, e a Amazon no varejo.

Novo pensamento

Para se tornar um sistema operacional, Amin Toufani explica que as grandes empresas precisam de três elementos-chave: ser altamente adaptáveis, escaláveis e auto gerenciáveis. “É o momento em que o sistema serve para qualquer um e não é possível fazer negócios sem ele”.

Mais importante do que a eficiência em si, é a filosofia imposta ao modelo do negócio. “O processo evolutivo passa por uma pergunta simples: como eu posso tornar a vida do meu concorrente mais fácil? ”, questiona. Um exemplo citado pelo economista é a fabricante de carros elétric
os Tesla. Em vez de insistir na velha fórmula do segredo industrial, o fundador Elon Musk abriu para o mercado toda tecnologia que havia desenvolvido até 2014. O objetivo foi acelerar a busca por soluções que poderiam levar anos – ou nunca ser alcançadas – pela empresa. “Thomas Edison chegou a processar 81 vezes um dos seus concorrentes alegando quebra de patentes”, comparou Amin Toufani, relembrando o notório espírito bélico do genial inventor da lâmpada elétrica.

Drives tecnológicos

Entre as grandes mudanças que estão por vir, o CEO do T-Labs, que estuda novas tecnologias em sua sede em Palo Alto, Califórnia, aponta quatro frentes que impactar em absolutamente todos os negócios:

1-Computação quântica, pela capacidade de processamento de dados até então inimaginável.

2-Blockchain, que será capaz de validar e ordenar toda a cadeia a valor.

3-Energia solar, que num futuro próximo será mais barata do que qualquer outra fonte renovável ou fóssil.

4-AI, a presença da Inteligência Artificial em todos os aspectos da vida humana e do funcionamento das máquinas, facilitada por todas a tecnologias anteriores.

“O futuro da internet será o que nós estamos chamando de ‘Blaiq-net’: a web movida pelo blockchain, a Inteligência Artificial e a computação quântica”, prevê Amin Toufani.

A grande bifurcação

Tantas mudanças de impacto terão, porém, seu saldo social negativo. Para o pensador da Exonomics, depois da grande depressão da década de 1930, e a grande recessão que se abateu após 2008, o mundo viverá “a grande bifurcação”: a distância intransponível entre a minoria da sociedade com acesso a todos os benefícios proporcionados pela tecnologia, e bilhões de seres humanos que ficarão à margem dessa transformação. “A riqueza e a pobreza estão crescendo cada vez mais rápido”, diz Amin Toufani, que atualmente comanda um fundo de investimentos focado em negócios que podem crescer com soluções para diminuir a pobreza no mundo.

O professor da SU lembra do fato de que cinco embarcações avisaram pelo rádio o Titanic sobre a posição do iceberg que levou a seu naufrágio, sem que o seu capitão tivesse mudado o curso. É o que ele chama da “Iceberg blindness”. “Alterações insignificantes costumam passar despercebidas da nossa mente, mas esses são os casos em que a mudança é tão grande que o cérebro simplesmente rejeita a informação”. É assim, segundo o economista, que a maioria da sociedade – empresas incluídas – estão abordando a revolução tecnológica.

Os efeitos, embora parcialmente previsíveis, podem ir muito além da imaginação e provocar mudanças profundas na ordem econômica e social. “Com base nas pesquisas que desenvolvemos no T-Labs, nós acreditamos que até 2030 todos os países estarão discutindo a sério modelos de renda básica universal para seus cidadãos”.

Em sua mensagem final, Amin Toufani ironiza que, embora seja um economista, sua visão de futuro é positiva. A tecnologia será capaz para dar respostas às maiores necessidades da humanidade, se forem bem aproveitadas. Seu temor é o que chama de “crise de imaginação”. “O nosso maior risco é não pensar grande o suficiente”.

Texto: Arnaldo Comin

Fotos: Marcos Mesquita/Experience Club

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