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“Por muito tempo as empresas olharam só para o consumidor para pensar inovação”

Na visão de Mariana Achutti, CEO da Sputnik, as empresas precisam de profissionais aptos a inovar com uma visão 360º, de forma sustentável e com inclusão social  

Sustentabilidade e inclusão social galgaram o topo das principais preocupações da sociedade moderna, mas muitas empresas no Brasil ainda não estão preparadas para inovar e assumir suas responsabilidades nesse novo ambiente de negócios. “Ainda temos muita atitude greenwashing e pouca ação prática”, diz Mariana Achutti, CEO da Sputnik, startup que tem o objetivo de provocar mudanças nas corporações por meio de uma educação criativa e disruptiva. 

Para Mariana, os próximos anos serão de grande transformação na forma como as empresas interagem com a sociedade. “Vamos vivenciar uma mudança cultural, onde as empresas vão ter que inovar não mais pensando apenas em produtos e no consumidor, mas em todo o impacto socioambiental que geram, nas necessidades de seus funcionários e de todos os seus stakeholders”, afirma.

Essa mudança cultural irá demandar profissionais criativos, com pensamento crítico, capazes de entender as demandas da sociedade e desenvolver soluções para problemas complexos, e líderes facilitadores, que criam um ambiente propício para o florescimento da inovação colaborativa e transformadora. 

A educação tradicional, nas escolas e universidades, não proporciona as habilidades necessárias para os profissionais lidarem com esse novo ambiente de negócios.  

“A educação corporativa preenche essa lacuna, estimulando o lifelong learning  (o aprendizado contínuo) nas organizações”, afirma Mariana, uma intraempreendedora que criou a Sputnik em 2014, como o braço in company da escola livre de atividades criativas Perestroika, e hoje inclui na sua lista de clientes organizações como Google, Facebook, Globo, Boticário e Ambev. 

Confira os principais trechos da entrevista ao Experience Club 

 

1 – Inclusão social e sustentabilidade 

Muitas empresas trocam copos descartáveis por copos de vidro e colocam reciclagem de lixo no escritório e se dizem sustentáveis. Isso não é o que se precisa para trabalhar o impacto socioambiental que o mundo vive hoje. Muitas organizações ainda não levam a sério o lugar que elas têm para fazer a transformação acontecer. Algumas já se deram conta desse movimento e a importância de fazer isso ser algo prático. Estão começando a despertar para essa visão. Hoje, 2021, a sigla ESG (environmental, social and governance) deve alimentar o board das organizações. Nós (Sputnik) estamos num processo de ajudar as empresas a de fato olhar a sustentabilidade com a importância que ela tem. Não como um greenwashing. A gente precisa mudar a mentalidade das organizações, não só pensando em sustentabilidade, mas em impacto, governança, em todos os argumentos 360º para gerar um impacto socioambiental no mundo.  

 

2 – Inovação, mudança cultural e bem estar 

É preciso olhar para os colaboradores, para todos os stakeholders (públicos de interesse). Por muito tempo as empresas olharam só para o consumidor para pensar inovação, para pensar transformação e produto. Hoje precisa ir além, precisa olhar todos os stakeholders, desde o cliente final, mas também quem são os funcionários, quem são os fornecedores. Como trabalhar olhando para isso de forma 360º. Uma mudança cultural coloca essas pessoas no centro do entendimento do que é relevante. 

Durante o período pandêmico, vimos uma enxurrada de profissionais com escassez de trabalho e empresas que não conseguiam contratar por fit cultural, e ainda um tsunami de turnover. As empresas buscam colaboradores que entregam seus trabalhos, pensando em produtividade, em lucro, mas as pessoas estão passando por problemas complexos, de saúde mental.  

É preciso olhar para as pessoas de verdade, para o mundo, para entender o que está acontecendo dentro das organizações e, a partir daí, criar um plano de ação estratégico, olhando lucratividade, sustentabilidade, mas também as pessoas.

 

3 – Conflito geracional estimula inovação 

Hoje se vive um conflito geracional. Nunca se teve tantas gerações trabalhando juntas – dos baby boomers à geração Z. São pensamentos diferentes e culturas diferentes. É muito rico. A inovação busca a diversidade de olhar. A partir da diversidade se consegue pensar de forma inovadora.  

 

4 – Profissional do futuro  

Nós não fomos formados nas universidades, nas escolas, para sermos pessoas inovadoras. Nós estudamos e fomos capacitados mais com skills técnicos e não com skills de transformação, de pensamento crítico, de inovação e criatividade, de coisas que são muito importantes em inovação. Hoje, as empresas estão entendendo que sua força de trabalho não está apta muitas vezes por não ter contato com outras formas de pensar. A educação (corporativa) ajuda as empresas a entender que, se seu time não está apto, é preciso deixar o colaborador apto para pensar de forma inovadora. O profissional do futuro é dotado de skills de transformação e inovação.

 

5 – Líder facilitador 

As lideranças precisam se adaptar e repensar a forma como lideram, mas as lideranças também são pessoas que podem falhar, que também podem estar perdidas. O líder do futuro é menos o líder herói, que tem todas as respostas e vai mostrar o caminho, e é para quem vou recorrer quando tiver um problema. Esse tipo de liderança de comando e controle não condiz mais com o pensamento de hoje. É algo oriundo da revolução industrial. O dia de hoje nas organizações é digital, mais fluído. Esse líder não se encaixa. 

Estamos passando por uma transição de liderança heróica por liderança facilitadora. O líder facilitador é aquele que consegue arar a terra para florescer dentro de seu time opiniões, novas lideranças. O facilitador é um semeador de novas formas de pensar. É daí que vem a inovação e uma nova forma de trabalho.

A inovação vem da tentativa e erro, de montar times fluidos que muitas vezes vão funcionar para uns desafios e para outros não. 

É preciso estar aberto para o erro acontecer. O líder facilitador cria o ambiente de segurança psicológica para daí fomentar o processo de inovação. 

 

6 – Lifelong learning 

Não podemos parar de aprender. A gente vai viver muito mais. A expectativa de vida aumentou. A gente vai trabalhar muito por muito mais tempo dentro das organizações. Achar que o tempo de aprender ocorre só na sala de aula, na universidade, e quando eu me formar estarei apto a viver até o final da minha carreira, não condiz com a velocidade com que as coisas estão mudando hoje. Nós vamos viver um processo de transformação e desenvolvimento eternos.

Para isso, (as empresas) precisam criar um organismo vivo dentro das organizações para que esse processo seja algo cultural. Se quisermos (as empresas) ter profissionais contemporâneos, adaptados a volatilidade dos dias de hoje, as empresas precisam fomentar que essa transformação (do profissional) aconteça. Não podem achar que os profissionais vão entrar prontos nas organizações e só vão buscar conhecimento fora. É preciso fazer as coisas acontecerem. É aí que a educação corporativa entra. É preciso olhar para nosso (empresa) ecossistema como uma plataforma impulsionadora de conhecimento.

 

7 – Intraempreendedorismo 

Um dos pontos mais requeridos hoje no recrutamento e seleção são pessoas com protagonismo, com pró-atividade. Tem aquela máxima, quero contratar alguém com olhar de dono. O empreendedorismo é uma skill muito interessante para os profissionais de hoje desenvolverem.  

Eu gosto muito do intraempreendedorismo, que é justamente esse pensamento de aproveitar o ecossistema da organização como um pool de colaboradores que tem os skills de empreender, mas não necessariamente tem vontade, ou privilégio, ou possibilidade de abrir seu próprio negócio. Então tem muitas empresas que olham para esse perfil de pessoas como uma possibilidade de criar novas empresas, dentro de suas próprias empresas, e inclusive podem no futuro matar a empresa (original). 

O desenvolvimento de uma cultura intraempreendedora fomenta a inovação justamente por ter pessoas que estão lá pensando e desenvolvendo projetos e novas empresas, pensando em transformação e inovação. 

Um dos pilares hoje do profissional do futuro é ter skill de empreendedor, independente de se é empreender por si só ou se é para intraempreender dentro de um ecossistema. É um skill de puro protagonismo.

 

Texto: Domingos Zaparolli

Foto: divulgação

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