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O roadmap para investir em criptomoedas

Entrevista: Dov Najman, CEO da Gennesys Consulting e da Zahav Investments, explica como construir uma carteira bem estruturada de moedas virtuais, com visão de longo prazo

Investir em criptomoedas exige paciência, visão de longo prazo e resiliência para não entrar em pânico quando o valor do ativo digital despencar, literalmente, de uma hora para outra. Na semana passada, por exemplo, em questão de horas, as principais perderam US$ 100 bilhões em valor. Um solavanco e tanto num mercado estimado em US$ 1 trilhão.

É preciso, portanto, estratégia e calma. É o que sugere o investidor Dov Gilvanci Levi Najman, CEO da Gennesys Consulting e da Zahav Invesrments. Ele decidiu apostar nas criptomoedas em agosto de 2013, inicialmente colocando US$ 285 mil em recursos próprios.

A valorização rápida despertou o interesse de criar uma carteira maior, a partir do aporte de fundos familiares de clientes da sua consultoria de gestão financeira Gennesys Consulting. Levantou cerca de US$ 1,3 milhão junto aos clientes, em 2017. “Comecei a ligar para os investidores para dizer: ‘Vou alocar 1%. Se virar pó, o que muda na sua vida? Se explodir, será exponencial.’ O crescimento foi uma progressão geométrica. Não acreditávamos que seria tão rápido”, afirma.

Nascido em Nazaré (TO), Najman começou a investir aos 15 anos de idade. Formou-se em contabilidade, depois montou uma consultoria especializada em gestão de negócios e administração de recursos de sócios. A Gennesys opera recursos oriundos de family offices.

Najman criou uma carteira digital com algumas das principais criptos do mercado: Bitcoin, Etherium, Solana, Luna, Elrond, Sandbox, Mana, AAVE, CRV, Avalanche, Algorand, VeChain, Cardano, Polkadot, Yield Guild Games, Clash of Cars.

A carteira é avaliada atualmente em cerca de US$ 775 milhões. Ele afirma ter havido uma valorização de 185.321%, a partir de 2017.

Acesse o Roadmap para montar seu primeiro plano de investimentos:

Veja a seguir os principais trechos da conversa com Dov Najman ao [EXP] e as dicas dele para quem deseja começar a desvendar os segredos do mercado de criptomoedas.

Por que decidiu investir em cripto?

Tenho um histórico de 23 anos investindo em startups e, quando entramos em criptomoedas, o bitcoin tinha quatro anos de mercado. Embora muito incipiente, o custo já era na casa dos US$ 120. Nós testamos, porque naquele momento já havia essa tendência de ser algo muito disruptivo.

Houve risco em algum momento?

O que investi em 2013 caiu 93% no ano seguinte. Em 2015 e 2016 andou de lado. Em 2017 explodiu, com o bitcoin ultrapassando os US$ 20.600 em janeiro de 2018. Esse movimento foi basicamente pelo pequeno investidor, as pessoas físicas, que nós chamamos de ‘sardinha’. Em 2018, teve uma queda significativa, chegando na casa dos US$ 3 mil. Em 2020, os investidores institucionais começaram a comprar. A chegada de fundos de pensão, head founds, family offices fez o preço bater em US$ 64 mil em maio de 2021.

A volatilidade brusca não intimida o investimento?

Percebemos o movimento em que a cotação sobe forte, depois cai e se recupera é menor a cada ano. Isso mostra que a volatilidade está diminuindo. As criptomoedas  são extremamente sólidas e o ecossistema é inquestionável, valendo quase US$ 1 trilhão. A gente começa a ver com a entrada do investidor institucional uma relação com o S&P500, que é o principal índice da bolsa americana. A correlação é de 42%, o que significa que se o S&P500 subir 10%, o bitcoin sobe 4,2%.

O fato de os bancos centrais de vários países poderem lançar moedas digitais próprias significa controle e redução de ganhos?

Os bancos centrais viram a necessidade de ter o que é a moeda fiduciária hoje numa moeda digital, uma criptomoeda oficial. O Banco Central brasileiro, por exemplo, está discutindo a criação do Real Digital. Isso significa, por exemplo, que uma pessoa ao viajar pode pagar uma conta sem precisar comprar dólar. A criptomoeda institucional não afeta o mercado como é hoje. Pelo contrário, a criptomoeda institucional vai fazer crescer o ecossistema como um todo. Outro ponto é que a regulação é importante para evitar as pirâmides financeiras. Às vezes o cidadão é muito crédulo, acredita em histórias como uma em que o cara compra uma cripto para alugar e receber 7% ao mês [de lucro], o que não existe. É uma pirâmide. Não é possível garantir esse rendimento por causa da volatilidade. Por isso, a regulação é necessária.

Como avalia o mercado cripto no Brasil?

O Brasil teve a vanguarda na regulamentação dos fundos de investimento de criptomoedas. Fomos um dos primeiros países a fazer essa regulamentação. Isso foi feito pela CVM e, por volta de 2020, já tínhamos fundos em cripto aqui. Os EUA só vieram a permitir em outubro de 2021, mas de um ETF atrelado a derivativos, não a criptomoeda spot dentro desse fundo. A diferença do preço spot para o derivativo pode ser de 4% ou 5%. A regulação, portanto, é importante para proteger o cidadão. Havia receio de criptos serem usadas para lavagem de dinheiro, porque se imaginava que não seria possível rastrear o caminho que fariam. Isso é uma inverdade. Recentemente, o FBI recuperou bitcoins roubadas em 2016, refazendo todo o caminho de carteiras digitais por onde passaram, inclusive prendendo os ladrões.

Há relatos de companhias energéticas atacadas por hackers, que cobram resgate em criptomoedas para cessar o ataque…

Eles recebem o resgate numa carteira e distribuem para 100, 300 outros, mas ficam os registros no blockchain. As empresas precisam melhorar muito o investimento em segurança de dados. Na prática, a tecnologia para fazer o rastreamento e a possível recuperação de pagamentos realizados em criptomoedas tem melhorado ao longo do tempo. Foi isso que ajudou o FBI. Por mais que hackers sejam sofisticados, o registro está lá.

Como será o futuro das criptomoedas daqui a cinco ou dez anos?

Vou te dar um exemplo: precisei transferir 5,5 milhões de francos suíços da conta de um cliente na Suíça para a conta dele nos EUA. Via bancos, teria de pagar uma taxa de 0,25% sobre a transação [13.750 francos] e o prazo para transferência seria de até dois dias. Eu comprei uma stable coin, que é uma cripto sem volatilidade, para não correr risco. A transação demorou 2 minutos e 28 segundos, com custo de 4,82 francos. Essa é a realidade fora do Brasil. Aqui, no máximo, o que podemos fazer é comprar os fundos de criptomoedas que temos na bolsa de valores. Eu acredito que esse ecossistema vai evoluir a cada dia, tendo aderência de empresas – a Tesla já aceita bitcoin. Na Ásia, vários países aceitam cripto como meio de pagamento. Esse caminho é irreversível. Eu comparo o caminho das moedas digitais com o que era a internet em 1995, quando muita gente duvidava do que iria acontecer.

Como você se tornou investidor, pensando desde o início até as criptomoedas?

O fato de ser investidor de startup me fez acompanhar tendências de tecnologia. Quando surgiu o blockchain lá em 2009, de forma completamente inovadora, começamos a testar os modelos de investimento. Em 2017, comecei a ligar para os investidores para dizer: “Vou alocar 1%. Se virar pó, o que muda na sua vida? Se explodir, é exponencial’. O crescimento foi uma progressão geométrica. Não acreditávamos que seria tão rápido.

Já operava no mercado financeiro?

Eu tenho uma gestora offshore e já fazia para o meu cliente o mesmo tipo de investimento que fazia para mim, claro que resguardando o perfil de cada um. Eu, por exemplo, sou um cara arrojado: 58% do meu patrimônio está em cripto. Mas eram 5% quando comecei e, ao longo do tempo, foi crescendo. Então, sempre estive próximo da tecnologia. Tenho dois sócios na área de tecnologia, sendo que um é especializado em cripto, com o qual lancei em janeiro nossa cripto, um NFT play to earn. Eu ficava vendo meu filho de 12 anos pagando para jogar e disse: “Não, cara. Você tem que ganhar para jogar.” Fizemos um play to earn chamado Clash Off Cards, com investimento inicial de US$ 30. Hoje, meu filho faz de US$ 10 a US$ 12 por dia. Ele recebe a recompensa em Clash e converte em criptomoedas. Nessa brincadeira, ele recebe seus US$ 280 por mês.

Como começou sua vida profissional?

Sou contador de formação. Comecei cedo a ler os livros de Warren Buffet sobre gestão de investimento e a comprar ações. Eu compro Petrobras desde os 15 anos de idade. Tenho Vale há 25 anos, Itaú há 20 anos. Fui comprando esses papéis.

Qual a sua origem?

Eu venho de família muito pobre do norte do Tocantins. Comecei a ganhar meu próprio dinheiro trabalhando em escritórios de contabilidade e minha formação foi toda na área. Foi quando eu percebi que todo mundo precisava de um contador e um financial advisor para cuidar de investimentos. Eu falei: “Taí a minha oportunidade”.  Criei a Gennesys Consulting, que faz a terceirização de toda área de backoffice das empresas: contabilidade, tributário, folha de pagamento, controladoria, TI, etc. Outra divisão é a gestora offshore e aqui no Brasil somos agente autônomo vinculado ao BTG Pactual, que cuida do dinheiro.

Quantos clientes sua empresa tem hoje?

Costumo dizer que meu core business é cuidar do acionista. Eu ajudo a empresa crescer com todas as ferramentas e, quando ela tem liquidez, pego o dinheiro para fazer gestão. Na carteira de BPO [Business Process Outsourcing] temos 15 clientes. O negócio não é ter muitos clientes, é fazer barba, cabelo e bigode dentro desse cliente. Um exemplo: eu fui levar uma proposta de abertura de capital para uma grande companhia que fatura R$ 2,5 bilhões e o gestor me disse: “Eu só preciso de um contador”. Eu disse que era comigo mesmo. Assumimos a contabilidade e, quatro meses depois, a gestão de controladoria, a gestão do dinheiro pessoal dos sócios e tinha captado R$ 480 milhões para o caixa da empresa. Fizemos um fundo de investimento para a empresa e, agora, estamos discutindo com outros fundos a venda de um pedaço da empresa para acelerar o crescimento. Ao invés de ter 100 clientes para fazer o mesmo serviço, prefiro pegar alguns e colocar todos os serviços do nosso portfólio dentro.

A Gennesys Consulting então, faz uma gestão personalizada de serviços?

É isso, taylor made. Temos clientes que faturam de R$ 100 milhões por ano até R$ 3,5 bilhões por ano. E temos a divisão internacional que opera em Dubai, Israel e Emirados Unidos.

Imagens: Divulgação, Freepik

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