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“O apetite por fusões e aquisições se mantêm, mas as empresas estão mais cuidadosas” 

Para Guilherme Stuart, sócio de uma das mais respeitadas empresas de assessoria da área, a RGS Partners, o principal reflexo da alta dos juros é sobre o valor atribuído aos negócios comprados 

Fique ligado:

  1. A alta dos juros tornou a compra de startups menos atrativa para muitos investidores, mas não acabou com os fundamentos para fusões e aquisições.
  2. Há outros mecanismos, como a troca de ações, que ainda permitem viabilizar fusões estratégicas.
  3. Ninguém sabe ainda ao certo qual será a profundidade e a duração da atual crise de liquidez no mercado.

A escalada na taxa básica de juros vem reduzindo sensivelmente o apetite de risco dos investidores no Brasil. É o que está por trás, por exemplo, de uma série de demissões em startups que nos últimos meses vinham contratando, comprando outras menores e queimando caixa para acelerar o crescimento. Mas isso não significa que as empresas tenham perdido o interesse por M&A (fusões e aquisições, na sigla em inglês). Mostra apenas que estão mais cuidadosas no processo. 

A avaliação é de Guilherme Stuart, sócio da RGS Partners, uma das mais importantes boutiques de assessoria em fusões e aquisições do país, com participação em negócios como a aquisição da Remessas Online pela Ebanx, da Vadu pela Dimensa, e da Clínica AMO pela DASA, entre outros. 

“É certo que quando os juros sobem, a economia esfria e há menos oferta de capital de risco”, afirma o executivo. “Mas temos visto um efeito maior sobre os valuations (o valor atribuído aos negócios comprados) do que sobre o apetite para fusões e aquisições. Isso porque, os fundamentos para as fusões e aquisições não necessariamente se alteram com a elevação da taxa básica”. 

Sem a mesma facilidade para captar recursos, empresas com pouco caixa podem recorrer, por exemplo, a fusões estratégicas com troca de ações, afirma Stuart. Fusões do tipo são feitas, em geral, por motivos que vão da ampliação de portfólio de produtos ao acesso a novos mercados. Para muitas empresas em processo de transformação digital, aquisições também seguem sendo uma boa alternativa para mudar a forma de operar e de atender os clientes, ou abrir novos canais de vendas. 

“O mercado deixou de ser o da drogaria que compra outra drogaria, ou seja, que compra mais do mesmo, como era há cinco ou seis anos atrás”, afirma Stuart. “Hoje, muitas vezes, as transações são mais arriscadas, mas também mais transformadoras para que a empresa possa se manter no jogo ou jogar de forma diferente, ganhando espaço dos concorrentes”. 

Mercados quentes 

Entre os mercados mais dinâmicos no Brasil, afirma, estão os de tecnologia, saúde, educação, telecom, agro e logística, nessa ordem. Além de estarem mais relacionados ao perfil da economia brasileira, por suas demandas, vocações e estágio de desenvolvimento, são também os setores em que, segundo o executivo, as fusões e aquisições apresentam resultados mais claros.  

O que ninguém sabe ao certo ainda é qual será a magnitude e a duração da redução da oferta de capital de risco sobre esses mercados, diz Stuart. Independente disso, afirma, a expectativa da empresa é continuar a crescer, em 2022, no mesmo ritmo dos últimos três anos, mantendo o foco em empresas de médio porte. Antes da pandemia, a empresa tinha cerca de 15 funcionários. Hoje, tem 43. “Devemos crescer bem nos próximos anos, mesmo com a economia não colaborando.” 

A expectativa, afirma, se baseia no histórico e na especialização da empresa. Segundo ele, apesar de o mercado de fusões e aquisições não ter barreiras de entrada à concorrentes – não demanda titulação dos envolvidos, por exemplo -, a experiência dos sócios e o foco em fusões e aquisições –  a empresa não assessora a captação de investimentos, como outras do ramo – fazem diferença.  

Guilherme tem passagem pela área de fusões e aquisições do J.P.Morgan e pela área de private equity do BTG, e é quem fica focado nos setores financeiro e de tecnologia. Seu irmão gêmeo, Renato, além do BTG, passou pelo UBS, e é o responsável por negócios na área de saúde. Entre os sócios, estão ainda Fábio Jamra, ex-Deutsche Bank, Hugo Pacheco, Pedro Scharam e Jonathan Kim. 

Efeito geopolítico  

No médio e no longo prazo, Stuart avalia que mudanças geopolíticas aceleradas pela guerra na Ucrânia também podem levar a um aumento dos investimentos no Brasil. Isso porque o país, apesar dos problemas, é estável politicamente. “Todo mundo fala de desglobalização. Para mim, é desconcentração de cadeias de suprimentos para fora de países não democráticos”, diz o empresário. “O copo meio cheio é que não dá para grandes empresas mundiais conviverem com essa insegurança. Porque, em países não democráticos, sempre pode dar a louca no governante, como deu no Putin. O Brasil, apesar das críticas que possam ser feitas, é uma democracia”. 

Apesar do cenário futuro positivo, e do potencial para mais investimentos em infraestrutura para a integração a cadeias de suprimento globais, afirma Stuart, será preciso promover o Brasil lá fora da maneira certa. “Se não, o investimento não vem. É preciso trabalhar para que isso se fortaleça”, diz. 

Foto: divulgação

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