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No futuro do trabalho híbrido a exclusão digital será combatida ou aperfeiçoada?

Nivelar por cima, com gestores de recursos humanos pensando que todos têm os recursos financeiros e de infraestrutura para desenvolver as atividades profissionais remotamente, é de uma cegueira social impressionante 

Por Gustavo Glasser

Um mapeamento conduzido pela McKinsey & Company e repercutido pelo Fórum Econômico Mundial apontou que nove em cada dez organizações – de um universo de 100 empresas de vários países – estão mudando para o modelo híbrido, ou seja, combinando o trabalho remoto com o presencial. A decisão de enxergar o futuro do trabalho com este cenário misto, de acordo com a análise, tem por base o resultado entregue pelos profissionais durante a pandemia: as companhias viram a produtividade individual aumentar e, com ela, subiu o índice de satisfação dos clientes. O outro lado da moeda, entretanto, demanda um exercício de pensar de forma mais crítica sobre as diferentes realidades socioeconômicas dos funcionários. O que quero dizer é que nivelar por cima – com gestores de recursos humanos pensando que todos têm os recursos (financeiros e de infraestrutura) para desenvolver as atividades profissionais remotamente – é de uma cegueira social impressionante. Ou seja, esse futuro híbrido pode tornar o mundo do trabalho ainda mais excludente e pouco diverso!

Esse é um alerta que julgo importante, porque na esteira dessa tendência de ambientes de trabalho híbrido surgirão mais programas de formação “gratuita” para endereçar a demanda por formar mão de obra e por disseminar o letramento digital. Entretanto, com as iniciativas que existem – e que são replicadas exaustivamente, como se não houvesse modelos inovadores e eficazes –, têm alunos pulando de um programa para outro, sem conseguirem o emprego tão fundamental para gerar renda. O fato é que a arquitetura desses projetos não prevê a geração de renda na formação; inclusive, para que o aluno possa acessar o curso. Muitos esquecem que a locomoção pela cidade, a alimentação e a moradia custam bastante caro. Se não houver disposição genuína de gerar renda para as pessoas, a base em situação de vulnerabilidade social e econômica continuará com acesso restrito à formação em tecnologia. E, os ambientes corporativos – remotos, presenciais ou híbridos – permanecerão repletos de pessoas privilegiadas. O triunfo da exclusão!

A falta de diversidade é uma responsabilidade de quem está dentro das empresas, não podemos nos esquecer disso. Digo isso não de ouvir histórias, mas amparado por um repertório pessoal. Nos primeiros três meses da minha formação em tecnologia – em um curso gratuito que exigia dedicação integral –, passei inúmeras privações; fiquei sem luz, porque não tinha dinheiro para bancar os gastos básicos da casa. Estudar implicava ficar sem renda, porque não dava para conciliar com os bicos que fazia. E essa é a história de milhares de excluídos que moram nas periferias. E, como essa é uma narrativa bastante comum no Brasil, não entendo esse suposto desconhecimento da realidade por parte das pessoas que desenvolvem esses programas. Será que é tão difícil enxergar os desafios dos mais pobres? Acredito que não…

Voltando ao futuro do trabalho, óbvio que será híbrido, diverso, inclusivo, colaborativo e abundante. Mas, não podemos esquecer que para além dos problemas que tínhamos antes da pandemia, teremos que lidar com novos desafios decorrentes, inclusive, do acirramento das desigualdades. Esse futuro no qual é possível combinar o remoto e o presencial em um modelo de emprego digno é vetado aos excluídos digitais. Por outro lado – como já expus em artigos anteriores e nas minhas palestras –, o porvir demanda ambientes corporativos construídos a partir de diferentes visões de mundo e de formas criativas de resolver problemas cotidianos. Contratar fora da bolha e educar os educados para enxergar a potência das diferenças são duas das práticas básicas que vão determinar se esse futuro será inclusivo ou não.

O letramento digital – como ferramenta para combater a exclusão e trazer diversidade para dentro dos ambientes corporativos – é uma responsabilidade das empresas, aliás, daqueles que detêm o poder econômico. E passa não apenas por uma contratação mais diversa, como por questionarmos como sociedade a falta de acesso a uma banda larga de qualidade. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 82,7% dos domicílios no país têm acesso à internet, sendo que a banda larga fixa está presente em 77,9% dos lares. E, acrescento aí, o problema do alto custo pago pelos serviços no Brasil. Entre outras restrições e limitações à população mais vulnerável, há o espaço físico, a falta de privacidade, a inexistência de um mobiliário adequado… para citar o mínimo!

A leitura de momento que fazemos na Carambola é que – em um mundo pós-pandemia e diante desse futuro do trabalho – a nossa presença dentro das empresas será ainda mais relevante para a construção de novos futuros inclusivos. A nossa plataforma vai habilitar as empresas a dispor de ferramentas inovadoras, que se adequam às necessidades individuais. Convidamos os gestores conectados com o futuro do trabalho a mudar, conosco, as regras do jogo; juntos, podemos permitir que se instale uma nova visão de abundância associada à contratação de pessoas que antes eram invisíveis. Esse é que deve ser o futuro!

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