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Necessidade de mais inovação é consenso na Cúpula do Clima

Os países e as principais lideranças políticas mundiais podem divergir quanto a forma de lidar com o problema. Mas na Cúpula de Líderes sobre o Clima, convocada pelo novo presidente americano Joe Biden para marcar a volta dos Estados Unidos ao Acordo de Paris, depois de um hiato de quatro anos, uma questão parece ser consenso. Evitar uma catástrofe climática no planeta vai depender, em grande medida, da capacidade de inovação e esforços integrados de governos e empresas, ao longo dos próximos anos.  

O evento, encerrado hoje, contou com a participação de 40 líderes mundiais e teve como destaque o compromisso firmado pelo americano de reduzir as emissões de gases geradores de efeito estufa em pelo menos 50%, até o final da década. Em busca de alinhamento com os americanos, mesmo o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, se comprometeu acabar com o desmatamento no país até 2030, e a neutralizar as emissões brasileiras até 2050. 

Para Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), com o compromisso público, o governo brasileiro precisa agora dar um passo à frente e coordenar uma retomada econômica de forma sustentável. O que passar, avalia, por ouvir e apoiar o setor privado, atento às oportunidades de negócios que a nova fase pode trazer à tona. 

“O Brasil não tem por que não falar disso. Agora que tem uma meta mais ambiciosa, aliada ao Acordo de Paris e à ciência, é preciso que isso vire uma prática. Todas essas questões estão entrelaçadas e ligadas à recuperação verde. É assim que os negócios estão caminhando”, afirma Marina. “O papel do governo ninguém substitui. É fazer essa coordenação e buscar o caminho mais adequado”, pondera a executiva. 

Corrente global 

Globalmente, isso já está acontecendo. Um dos grandes anúncios do primeiro dia da Cúpula foi o lançamento de uma coalizão de três governos e nove companhias provadas, com foco em ações de proteção ao meio ambiente e a populações em situação de vulnerabilidade. O objetivo inicial da iniciativa é levantar US$ 1 bilhão e investi-lo em projetos de proteção de florestas em larga escala e desenvolvimento sustentável que beneficiem povos indígenas e outras comunidades que vivem em áreas de floresta.  

O LEAF (sigla em inglês para Reduzindo Emissões Acelerando o Financiamento de Florestas), como foi batizado o projeto, tem como participantes estatais os governos dos Estados Unidos, Reino Unido e Noruega. A lista de empresas é composta por Airbnb, Amazon, Bayer, Boston Consulting Group, GlaxoSmithKline, McKinsey & Company, Nestlé, Salesforce e Unilever. Além de financiarem o projeto, as companhias se comprometem a reduzir as próprias emissões e as emissões em suas redes de fornecimento.  

O número, por ora, é limitado. Mas já se trata do maior investimento privado na proteção de florestas tropicais do mundo, diz Nathaniel Keohane, vice-presidente do Fundo de Defesa Ambiental (EDF, na sigla em inglês). E a expectativa é de que outros governos e empresas se juntem ao grupo, ampliando o alcance da iniciativa. 

Usado como referência pelo LEAF, o fundo liderado por Keohane, tem um modelo de financiamento gestado em colaboração com comunidades indígenas e ONGs brasileiras e americanas, ao longo das duas últimas décadas, para tentar proteger a Amazônia e outras florestas tropicais. Na visão de Keohane, a iniciativa é um marco na luta para salvar as florestas tropicais, por criar “um novo modelo para catalisar financiamento em uma escala que é realmente à altura do desafio”, diz, em comunicado no site da EDF. 

Tsunami ESG 

Para além do acordo, Marina observa que a maior parte dos países já incorporou, nos seus planos de recuperação, metas climáticas e sociais. A mobilização vem ganhando corpo rapidamente, também com a forte visibilidade dada ao tema ESG no meio corporativo.  

Em março, o CEBDS divulgou documento no qual mapeia oito temas prioritários para fazer decolar uma agenda sustentável de longo prazo no país. Entre os principais estão economia circular, biodiversidade, alimentos, energia, água e finanças. 

O desenvolvimento de um mercado regulado de crédito de carbono, capaz de gerar liquidez nas negociações e estimular as empresas a neutralizar suas emissões, é outra sugestão apoiada pela entidade. 

“Nossa proposta, que está no Ministério da Economia e está em ampla consonância com o próprio governo, só traz vantagens ao Brasil, porque nossos produtos são mais limpos no mercado de carbono”, afirma.  

Agenda de Estado 

Em vez de entrar publicamente em rota de colisão com a política ambiental do governo de Jair Bolsonaro, executada pelo Ministro Ricardo Salles, o CEBDS, que tem entre seus associados gigantes como Bradesco, Itaú, Natura, Siemens e Bayer, tem adotado a via diplomática para costurar acordos com as três esferas do poder e, dessa forma, pressionar o governo. 

Em várias ocasiões cartas foram elaboradas e assinadas em conjunto com o setor empresarial, e depois tornadas públicas. “É uma agenda construtiva. Por isso procuramos todas as instâncias. Essa é uma agenda de Estado. A questão da sustentabilidade e do meio ambiente não é de um governo. Não é a agenda dele. É de interesse de toda a sociedade brasileira”, avalia.  

Próximos passos 

No momento em que as práticas ESG estão no topo da agenda corporativa, o encontro liderado pelos Estados Unidos serviu, segundo Marina Grossi, para escancarar ao mundo que há muito dinheiro à disposição, mas os recursos estão carimbados. “Você só consegue dinheiro se mostra projetos sustentáveis, que contemplem aquilo que está nas três letrinhas”, diz a dirigente.      

Nesse sentido, a Cúpula organizada por Biden foi apenas um esquenta para um encontro que promete novidades, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática COP26, agendada para novembro em Glasgow, na Escócia. 

Veja as declarações de algumas lideranças empresariais na Cúpula de Líderes sobre o Clima: 

  1. “Combater o desmatamento e restaurar florestas são batalhas que precisam ser vencidas para enfrentar a mudança climática global.” Mark Schneider, CEO da Nestlé. 
  1. “A mudança climática é a maior ameaça ao nosso planeta, e a Coalizão LEAF nos oferece a oportunidade de reunir governos e empresas para combatê-la”. Jeff Bezos, fundador e CEO da Amazon.  
  1. “A Coalizão LEAF é um grande exemplo de como governos e empresas podem trabalhar juntos para enfrentar a crise climática.” Brian Chesky, cofundador e CEO da Airbnb. 
  1. “Não haverá solução climática sem proteção da floresta.” Werner Baumann, CEO da Bayer. 
  1. “As florestas mundiais – que hoje cobrem 30% da superfície terrestre da Terra – são um recurso incrivelmente valioso, armazenando carbono, purificando a água e o ar e protegendo a biodiversidade. Alcançar a rede zero globalmente depende de nossa capacidade de proteger este recurso vital”. Rich Lesser, CEO global do Boston Consulting Group. 
  1. “Acreditamos que a Coalizão LEAF oferece um mecanismo eficaz e confiável para ter um impacto real e sistêmico no clima, na natureza e na saúde”. Emma Walmsley, CEO GSK. 
  1. “Nenhuma organização ou país sozinho pode salvar nossas florestas de mais danos.” Marc Benioff, CEO da Salesforce. 
  1. “Aprendemos que as ações individuais por si só – por mais ousadas – nunca irão conduzir à mudança do sistema. A ação coletiva é necessária para um impacto real”. Alan Jope, CEO da Unilever. 
  1. “A McKinsey está entusiasmada em participar da LEAF para acelerar os investimentos na conservação e restauração florestal, ao mesmo tempo que apóia as comunidades locais e os meios de subsistência.” Kevin Sneader, sócio-gerente global da McKinsey & Company. 
  1. “Apenas usando as tecnologias de hoje não seremos capazes de cumprir nossas metas ambiciosas (relacionadas ao clima).” Bill Gates, cofundador da Microsoft e filantropo. 

Texto: Luciano Feltrin

Imagem: Reprodução

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