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“Mercado espera reforma da Previdência para o 3º trimestre”

Os investidores estrangeiros estão redobrando a cautela neste momento de transição de governo do Brasil. Ao contrário de outros tempos, quando o país parecia uma boa aposta para se antecipar quando havia a perspectiva de uma virada, os fundos estrangeiros mais calejados com o mercado local estão no aguardo de mudanças concretas no cenário macroeconômico.

“Há uma percepção de apetite muito clara de investimentos estrangeiros no Brasil. Mas acho mais provável que ocorra um movimento forte de entrada com o Ibovespa a 120 mil pontos, pós-reforma da Previdência, do que girando agora a 90 mil pontos, sem reforma alguma”, destaca o presidente B3, Gilson Finkelsztain. Para o principal executivo da bolsa brasileira, há um número grande de fundos sublocados no país, à espera do que será votado pelo Congresso.

Finkelzstain falou sobre o panorama da B3 e o crescimento do mercado de capitais brasileiro para um grupo restrito de 30 lideranças empresariais no CEO 2030, realizado pelo Experience Club na terça-feira, 07.05, na sede da Athié Wonhrath, em São Paulo. Na entrevista a seguir, o presidente da B3 faz sua avaliação sobre os altos e baixos no mercado desde o início do ano e enfatiza a qualidade técnica da equipe econômica para destravar o fluxo de investimentos no país.

[Experience Club] – O mercado entrou com tudo em 2019, a B3 registrou recordes de movimentação, numa perspectiva francamente otimista. A batalha pela reforma da Previdência vai tomando forma no Congresso, como se podia supor, e isso acabou esfriando os ânimos. Qual é a sua visão do cenário?

Gilson Finkelzstain – A gente começou com uma animação grande, com uma percepção de guinada econômica no novo governo e a perspectiva da reforma da Previdência que não saiu. O time econômico vem fazendo um trabalho muito assertivo, numa agenda liberal capitaneada pelo Paulo Guedes, que é muito acertada e começa a surtir efeito. Aqui eu destaco o bom trabalho que vem sendo feito pela equipe expandida do Paulo Guedes, digamos assim, com o Tarcísio [Gomes] de Freitas, no Ministério da Infraestrutura, e os presidentes [Pedro] Guimarães, na Caixa, e o [Joaquim] Levy, no BNDES. Temos uma agenda bastante atuante de leilões de portos e aeroportos, também. O lado político está deixando um pouco a desejar. A gente percebe uma maior necessidade de articulação. Então eu vejo uma animação grande em torno da reforma [Previdência], o empenho em uma agenda microeconômica forte e uma relativa frustração pela coordenação no congresso.

“É mais provável que ocorra um movimento forte de entrada com o Ibovespa a 120 mil pontos, pós-reforma da Previdência, do que girando a 90 mil pontos, sem reforma alguma”

[EXP] – Mas a reforma é dada como certa, ou pairam dúvidas no mercado?

Finkelzstain – Os mercados estão precificando, sim, uma reforma da Previdência, em meados do terceiro trimestre, o que pode destravar uma pauta grande de investimentos para o país. Eu sigo otimista, acho que houve um excesso de expectativa antes de o governo tomar posse, mas vamos lembrar que esse próprio grupo do novo presidente se surpreendeu com a possibilidade de ser eleito. Então era preciso treinar o time e eu acredito que isso será ajustado ao longo do ano.

[EXP] – Do ponto de vista da B3, o governo apresenta uma série de sinais positivos, sobretudo na questão das privatizações. Há uma intenção de privatizar partes da Petrobras e um grande número de projetos de infraestrutura. No meio privado, porém, parece haver uma certa falta de apetite do mercado. Tivemos este ano apenas um IPO, da Centauro, e operações pontuais. Por que esse descompasso?

Finkelzstain – Os empresários estão um pouco mais cautelosos, e isso está refletindo no crescimento do PIB. Todo mundo quer ver a agenda reformas caminhar. Não só o empresário brasileiro, mas o investidor estrangeiro também. Eu percebo que essa pauta de investimentos vai destravar aos poucos quando o empresariado entender que a agenda de reformas vai caminhar. Há, sim, muito dinheiro para vir ao Brasil e isso vai se transformar em investimentos no país. A agenda de IPOs foi de uma apenas até agora, mas tivemos também dois follow-ons (ofertas secundárias) e há uma agenda grande de venda de participações de estatais, como é o caso da Caixa, que já é público.

[EXP] – O volume de IPOs pode aumentar?

Finkelzstain – Temos um universo de 20 a 25 empresas bem preparadas, maduras para abrir capital. Nós também tivemos recorde nos últimos dois ou três trimestres na emissão de debêntures de dívidas. Isso quer dizer que o BNDES não é mais a fonte quase exclusiva do investimento privado. O banco fazia uma sombra nesse mercado. Então o cenário é otimista, mesmo com algumas nuvens cinzentas que começam a surgir no cenário internacional, com guerra comercial entre Estados Unidos e China. Mas o mercado americano continua forte, o mundo todo está crescendo e mesmo os países emergentes, que perderam força, estão crescendo também. Se a gente conseguir manter a inflação sob controle, juros baixos e implementar as reformas, nós teremos muitas alegrias no futuro.

Texto: Arnaldo Comin

Foto: Marcos Mesquita/Experience Club

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