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Legado é mais importante que propósito

O mundo está mudando tão rapidamente – e drasticamente – que a transformação digital está levando a sociedade a incorporar novos hábitos e os empreendedores a multiplicar tempo e esforço em projetos de inovação. Essa corrida contra o tempo pela busca de cases disruptivos tem gerado medo, ansiedade e incertezas em relação ao futuro.

Na ânsia de querer fazer e acontecer, tem muito empreendedor pensando unicamente no hoje e se esquecendo do amanhã. E é justamente aí que está o perigo. Muitos embarcar na chamada “ego trip do propósito, esquecendo-se de cuidar do legado que deixarão.”

“Legado é mais importante que propósito”, afirma o futurista Tiago Mattos, voz que deu o tom à palestra magna que abriu o Fórum CEO Brasil 2019, evento promovido pelo Experience Club que reúne 190 líderes empresariais no Tivoli Ecoresort Praia do Forte, na Bahia, de 5 a 9 de setembro.

Na apresentação, Mattos relembrou por diversas vezes que legado muda o mundo. Não adianta ter um propósito se não deixar um legado. “E não é você quem define seu legado. São os outros. Legado é a única forma de ser imortal”, declarou, citando como referência o livro Reinventing Organizations, de Frederic Laloux.

A obra, vale contar, detalha a jornada de organizações pioneiras, que estão ressignificando o trabalho. Um olhar para quem deseja prosperar em um futuro mais complexo, veloz, tecnológico e, acima de tudo, humano.

De carona na busca pela construção de um legado, Mattos alfinetou a plateia mais uma vez ao lembrar que a verdadeira liderança não é aquela que diz ser a melhor de toda sua categoria, mas a que faz o melhor pela categoria.

Outra pergunta lançada aos empresários e CEOs presentes foi: “como está a cultura de autodisrupção da sua empresa?”

Por questões de sustentabilidade financeira do negócio, a sugestão é apostar em duas curvas ao mesmo tempo – a do hoje e a do futuro –, que inevitavelmente vai usar a inovação como fundamento.

A inovação serve não apenas para sair na frente da concorrência, como até mesmo para transformar o rival em parceiro. Em resumo: pensar no big hit do amanhã sem, no entanto, abrir mão do hoje. 

“O meu futuro ganha pão está na nova curva. Empresas que fazem as duas curvas nunca têm crise”, avisa Mattos. E aí entra o papel do líder, que deve ter talento para orquestrar os recursos e saber identificar quais projetos merecem mais aporte de capital.

O CEO ou empreendedor também precisa olhar para trás e saber responder: do que mais você se orgulha? Fundador da Perestroika, escola brasileira de inovação e criatividade que chegou ao Vale do Silício, Mattos diz que seu sonho é mudar o país pela educação. “A gente criou um novo jeito de dar aula, ensinar e aprender”, contou.

Foi assim que ele foi contra a economia clássica e, ao invés de esconder o maior ativo do seu negócio que era a propriedade intelectual, ele resolveu mostrá-la de forma transparente ao mundo. Ao invés de quebrar, atraiu inúmeros interessados em projetos de consultoria.

2030

Quem quiser sobreviver na próxima década (de 2020 a 2030) vai ter que deixar de pensar de forma convencional e promover uma ruptura em seu mindset. Um exemplo é esse círculo vicioso de investidores que injetam milhões em startups em busca de retorno financeiro rápido. Não é essa a mentalidade que deve nortear nem os criadores e nem os investidores nesse futuro tão próximo.

O mundo mudou. Quem sempre foi visto como concorrente deve ser visto, muitas vezes como parceiro. No quesito profissional, a tendência também é de grandes mudanças. “Não acredito em plano de carreira, naquela ideia industrial e de esteira na qual a gente se imagina um produtinho e vai crescendo na esteira do trainee até chegar ao C-Level.”

Fica aí a reflexão para quem quer atrair e reter as novas gerações. Cabe ainda esse pensamento industrial em plena era digital?

O mesmo questionamento vale para as tomadas de decisões, hoje concentradas no topo da pirâmide. “Um monte de homem branco e rico ditando o futuro. Isso é ter o futuro ditado pelos outros. A partir de 2020, quero criar a nova escola fundamental que vai mudar o Brasil”, diz Mattos, pensando no filho de 7 meses.

Texto: François Terzian

Imagens: Marcos Mesquita e Unsplash

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