Ricardo Basaglia
Adoção de boas práticas ambientais, sociais e de governança sai do discurso para a transformação diária.
Tornar o negócio mais sustentável para o ambiente, socialmente responsável e com melhores mecanismos de governança parece apenas um discurso bonito? Essa fase do novo encanto já passou. O que estamos vivenciando é investimento concreto em padronização de informações, relatórios e implementação de boas práticas nas empresas. É esse caráter estrutural que está tornando o ESG uma realidade nas empresas, deixando de lado o estigma de neologismo ou sigla da moda.
Nesse sentido, gostaria de compartilhar três tendências que podem apontar alguns caminhos para as lideranças e a incorporação das práticas ESG nas empresas.
A primeira delas é ver o CFO assumir a responsabilidade de ser o principal influenciador dessa mudança na empresa. É essa posição que vai calcular os investimentos em ESG e vislumbrar como essa mudança se liga aos objetivos de crescimento no médio e no longo prazo. Afinal, qualquer empresa que pense em uma vida longa precisa saber como medir seus resultados e atrair investimentos, por exemplo, do mercado de carbono, que chegou ao valor transacionado de US$ 2 bilhões no ano passado.
Portanto, é preciso que o CFO entenda o ambiente regulatório e os diferentes formatos de informações utilizados nos mercados em que a companhia pretende atuar, para transformar dados em estratégias e investimentos.
Claro, uma mudança de cultura não pode depender de um analista, por mais motivado e competente que seja, e nem de uma cadeira na diretoria. As empresas têm contado com um outro agente transformador, o diretor de sustentabilidade (CSO).
O cargo tem a responsabilidade de envolver os outros tomadores de decisão da empresa na aplicação das mudanças. Para essa posição, que pode vir de gestão ambiental, pesquisa e desenvolvimento de negócios ou do setor jurídico, o discurso é o ponto de partida, mas é preciso colocar os planos em prática. Afinal, os talentos e os consumidores estão com o alerta ligado contra frases feitas e greenwashing.
A sustentabilidade sob o guarda-chuva do CSO não está restrita à parte ambiental, naturalmente. Aplicar mudanças de responsabilidade social e governança no negócio implica na seleção de um profissional para o cargo. Já falamos por aqui da importância de diversificar os conselhos de administração, responsáveis pela chancela de cargos na diretoria.
Também é fundamental falar de compatibilidade de propósitos. Não adianta trazer um especialista que não se identifique com a missão e os valores da empresa. Assim como o greenwashing não cola com candidatos para cargos técnicos, também será motivo de rejeição no alto escalão.
Empossados e com autonomia para o desenvolvimento de estratégias, os CSOs precisam entender profundamente todo o ciclo de negócios da empresa, e por isso os propósitos precisam estar alinhados. É essa determinação inabalável que vai tornar a cultura organizacional e os modelos de negócio mais sustentáveis e responsáveis perante a sociedade.
As letras ‘S’ e ‘G’ precisam de muita atenção. Inclusão e Diversidade precisam ser a nova identidade da empresa. Assim como o CSO, as empresas precisam de muita atenção com o propósito e a promoção de ambientes com aceitação e respeito. E principalmente de troca. O executivo que tomava as decisões baseado em sua cabeça não terá lugar por muito tempo no mercado. É preciso andar pelos corredores ou pelas reuniões e chamadas online e, de fato, ouvir o que se passa no cotidiano da empresa.
É por isso que a diversidade é vista como a presença das diferenças no local de trabalho e a inclusão é, de fato, a política que vai incorporar isso tudo. Não são apenas credenciais. Diferentes orientações, gêneros, raças e idades oferecem à empresa um ambiente rico para a inovação, fato comprovado com a mudança na composição dos conselhos de administração, integrantes do C-suite e times técnicos.
Já falamos sobre a importância de diversificar o gênero, mas hoje temos diversas empresas elegendo integrantes de conselho e contratando ou formando executivos de diferentes idades, diversas vezes mais jovens. Isso significa que melhorar a governança é deixar os profissionais com 60+ de fora? Muito pelo contrário. A convivência desses grupos une a experiência com o que há de mais recente nas formações profissionais.
É preciso abandonar o senso comum de que profissionais mais velhos não se adaptam ou acompanham as novas tecnologias. O que não tem mais lugar é aquele executivo fechado no seu escritório. Quem tem a disposição para atualizar sua caixa de ferramentas vai participar de um ambiente inovador. É o que diz nossa terceira tendência no C-Level para hoje: idade é apenas um número. Lembra da caixa de ferramentas que um profissional leva consigo a vida? Ela precisa ser atualizada constantemente.