A novidade passou e tornou-se consenso entre especialistas que é hora de organizar o discurso do mercado e consolidar o uso do protocolo blockchain em escala global. Em apenas uma década de existência, a moeda virtual o Bitcoin já foi vista como revolução ideológica, o caminho rápido para a riqueza e uma fraude para piratas e traficantes da deep web. Entre tantas polêmicas e desconfianças, como definir o momento pelo qual passa o maior ícone da criptoeconomia?
Após bater a marca dos US$ 20 mil, no fim de 2017, e ver um ano depois sua cotação despencar para a faixa de US$ 3,5 mil, o Bitcoin finalmente começa a dar sinais de resiliência. Em fevereiro deste ano a moeda apresentou sua primeira alta e subiu seguidamente nos últimos meses, dando sinais de que estaria conseguindo concluir a travessia do “Vale dos Caídos” (como é conhecido o polêmico mausoléu erguido pelo ditador Francisco Franco em memória aos mortos na Guerra Civil Espanhola). Numa percepção mais ampla do contexto, palavras como “decadência” e “fim” não fazem parte do vocabulário utilizado por corretores e investidores do mercado.
“Tecnicamente, o que aconteceu foi mesmo uma bolha especulativa, uma euforia muito grande. Muita gente não queria ficar de fora desse ganho e entrou em um mercado que não conhecia. Quando o Bitcoin estreou na bolsa de mercados futuros de Chicago, sabíamos que essa euforia ia passar, como, de fato, aconteceu. A boa notícia é que sobrou no mercado apenas quem sabe, players recorrentes. Podemos dizer que 2018 foi o ano de consolidação e amadurecimento do bitcoin”, comenta José Artur Ribeiro, CEO da Coinext, corretora especializada em criptomoedas.
Com a real demanda definida, ou seja, o verdadeiro tamanho do mercado, e com melhor compreensão por parte da sociedade do que se trata uma criptomoeda, a fase agora é de organizar o mercado, torná-lo mais profissional e mais aderente às regulamentações definidas pelas autoridades financeiras.
Escritórios de advocacia e grandes empresas de auditoria, como a PwC, estão dando suporte a projetos que envolvem a tecnologia blockchain. “Não há dúvidas que é uma nova classe de ativos que veio para ficar, mesmo com a extrema volatilidade. O Bitcoin não vai deixar de existir”, complementa Ribeiro.
Outra tendência é conseguir, enfim, desvincular o pensamento em um produto e focar no poder do blockchain, a tecnologia que nasceu com a moeda. A validação, por uma série de computadores em rede, criptografada e descentralizada, pode ser usada para rastrear de forma segura qualquer coisa, eventualmente. As transações financeiras com as chamadas moedas virtuais vivem apenas as primeiras fases de uma vida que promete ser longa.
Texto: Thaís Botelho
Imagem: Unsplash