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“A tecnologia habilita a mudança, mas é preciso se capacitar para isso”

Cleber Morais - AWS - Experience Club

A mudança de cultura nas empresas em relação às novas tecnologias e a capacitação de profissionais para usá-las da melhor forma são movimentos fundamentais para a criação de novos negócios, para o melhor atendimento ao cliente e para a inovação. A computação em nuvem é uma das ferramentas essenciais para que isso aconteça, pois viabiliza diferentes soluções e se conecta a muitas outras ferramentas que fazem parte da transformação digital dos negócios.

A Amazon Web Sevices (AWS), que completa dez anos de operações no Brasil em 2021, atua junto aos clientes para apoiá-los nessa mudança de paradigmas e de cultura, ainda mais em tempos de pandemia. Também investe em treinamento de profissionais e colabora com instituições de ensino e centros de pesquisa para fomentar essa transformação no País.

Nesta entrevista, Cleber Morais, Diretor Geral da AWS Brasil, aponta ainda que um dos aspectos mais importantes desse cenário é que a construção de soluções eficientes e seguras, dentro de uma jornada para a inovação baseada na transformação digital, seja feita a “quatro mãos” – neste caso, tendo a AWS, como provedora de soluções em tecnologia baseada na nuvem. Confira.

Como você vê a expansão da nuvem e outras novas tecnologias no Brasil? Qual o potencial e em que direção ela deve ir no curto e médio prazos?

Tem uma frase que o Jeff Bezos menciona, que é extremamente interessante: “It’s still day one” [É sempre o Dia 1]. Ou seja, enxergamos uma oportunidade gigantesca de crescimento. Hoje, algo em torno de 10% do investimento total em tecnologia é feito em tecnologias de nuvem, o que nos dá um potencial de crescimento de atendimento de 90%. O Gartner diz que esses números devem chegar a 50% nos próximos anos. Isso mostra não só o potencial do mercado, mas também a necessidade dos clientes de se modernizarem, de inovação e de transformação para buscar novos negócios, novas tecnologias, para atender o cliente. Acredito que o cliente está no centro de tudo isso. Temos uma oportunidade grande, principalmente no Brasil, onde já começamos a ver surgir os grandes unicórnios. São empresas que estão se expandindo em função ou com o apoio da tecnologia de nuvem. Então temos chão pela frente para continuar crescendo.

Existem desafios específicos para o desenvolvimento da nuvem, bem como de seu uso, no Brasil? Poderia explicar o que são esses obstáculos e as possíveis soluções?

O primeiro desafio passa pelo aspecto cultural. Vou dar exemplos que vimos durante esta fase da pandemia da Covid-19. Clientes que até então não acreditavam no trabalho remoto, e de uma hora para outra começaram a operar remotamente, descobriram que essa nova forma de atuar traz benefícios tanto para a empresa quanto para o funcionário. Você faz uma transformação digital para algo mais leve, para conceitos diferentes, como o de que não é necessário fazer um grande investimento para trazer uma inovação, que você tem que começar com uma experimentação menor. E eu diria que a transformação digital começa pela liderança, ou seja, o topo da empresa precisa dar o tom dessa mudança. Outro aspecto que temos enfrentado no Brasil, e que também é global, é a questão de mão de obra. Temos ainda gaps para fechar em treinamento e capacitação do mercado como um todo. No Brasil existe, por um lado, a questão do desemprego, mas, por outro lado, há uma demanda enorme por mão de obra especializada.

Qual o papel da AWS nessas transformações?

Na questão cultural, nunca ajudamos tanto as empresas, compartilhando um pouco como é a nossa cultura, o que podemos agregar e como podemos ajudar nessa transformação cultural, que é um dos pilares da transformação digital. No ano que vem faremos 10 anos de Brasil e, ao longo desse período, temos feito vários investimentos em infraestrutura tecnológica e no apoio a startups. Na parte educacional, temos programas, como o AWS Educate, que são parcerias com universidades e instituições de ensino, como Senai, Unicamp e Unirio, onde levamos toda uma plataforma de capacitação de nuvem, permitindo que elas formem os alunos. Temos a AWS Academy, onde atuamos para formar profissionais com habilidades em nuvem, com certificações, assim provendo educação e formação. E recentemente lançamos a Machine Learning University, onde você capacita o mercado em ferramentas de aprendizado de máquina e outras tecnologias.

[Investir em pesquisa e desenvolvimento e manter o aprendizado constante é um ciclo contínuo]

Em termos de infraestrutura, há alguma questão que seja um desafio no Brasil para a AWS?

Nenhuma questão. A região do Brasil foi a sétima anunciada pela AWS no mundo, antes mesmo de países como Inglaterra, França, Austrália e Índia. Apenas em 2020, lançamos 40 novos serviços no Brasil. Hoje são 24 regiões geográficas globalmente, com 77 zonas de disponibilidade. Uma região é composta de no mínimo três zonas de disponibilidade, que são clusters de data centers que ajudam você a ter uma latência menor, a ter uma altíssima disponibilidade, e ajudam na questão de segurança, que é fundamental para toda essa jornada. A AWS se preparou para atender a todo o mercado nacional. No início do ano, anunciamos um investimento de R$ 1 bilhão na região para continuar crescendo, trazendo mais capacidade e mais infraestrutura para dar suporte ao que enxergamos pela frente: uma visão de longo prazo na qual o Brasil entrará no contexto de aceleração da transformação digital.

A pandemia tornou a computação em nuvem algo mais tangível para as empresas? Como isso se materializou para a AWS e seus clientes? 

Já convivemos com a nuvem há algum tempo. Desde o momento em que a Alexa acorda você, falando da previsão do tempo e das notícias, até o momento em que você pede um transporte para ir ao escritório, utilizando o Uber, ou quando você pede uma refeição e o iFood faz a entrega com precisão. Ou quando você vai viajar e faz uma reserva com a Airbnb. Ou seja, essa tecnologia já está inserida no nosso dia a dia. Agora, o pioneirismo da AWS permitiu à nuvem ter uma infraestrutura tecnológica capaz de ajudar os clientes a passarem por um momento como este, da pandemia. Os benefícios que a nuvem tem, para esse momento, são um diferencial muito grande. Tivemos clientes como o Grupo Oncoclínicas, que teve um desafio muito grande ao não poder prestar atendimento presencial aos clientes. Mas apresentamos um protótipo – a chamada prova de conceito – em apenas duas horas e, após somente três dias, colocamos mais de 100 pessoas trabalhando remotamente. A inovação, a agilidade e a velocidade que a nuvem permite ajuda muito no diferencial competitivo dos clientes.

Como a computação em nuvem se relaciona com outras tecnologias que também estão se mostrando disruptivas, tais como machine learning, Internet das Coisas (IoT), cibersegurança, realidade virtual e realidade aumentada?

Temos hoje 175 serviços disponíveis que começam a se relacionar entre si. Vamos dar um exemplo: quando você precisa de capacidade de inteligência artificial, por trás disso é preciso ter capacidade computacional, de armazenamento e de análise de dados muito forte. Os serviços, como no Lego, vão se conectando na criação de um novo produto. Um exemplo prático de tecnologias se correlacionando é o do iFood. Fizemos um projeto com eles de inteligência artificial e machine learning, onde começou-se a coletar milhares de dados de tempo e precisão de entrega e gerou-se insights, que geraram ações, que a partir daí trouxeram resultados. O resultado de tudo isso foi a redução do prazo médio da entrega do pedido em 12%. Diminuiu-se o tempo e a ociosidade do entregador em quase 50%. Conseguimos ter uma precisão do tempo de entrega muito melhor. Tudo isso a gente fez olhando para o cliente, junto com o cliente, atendendo a sua expectativa. Um ponto interessante é que, hoje, 90% do que a gente desenvolve, fazemos a quatro mãos, com os clientes.

Embora muitos executivos e empresários já conheçam a nuvem, ainda parece haver receios quanto a riscos e segurança de dados e transações. Eles estão certos em se preocupar? Quem cuida dessa segurança?

Temos estudos que mostram que o dado na nuvem é mais seguro do que deixar em um ambiente que a gente chama de on premises, porque a necessidade de atualização, de obter certificações, de trazer parceiros que ajudem com modelos de segurança é muito grande. Um aspecto muito importante é que a segurança tem que ser compartilhada. Vou dar um exemplo simples, que é o de colocar sensores de segurança na sua casa. Pode-se ter câmeras e implantar uma série de travas e trancas, mas, se você, como usuário, deixar a porta aberta, não tem sistema que segure o risco. É isso que acontece com a segurança. Mas, neste período, temos visto milhares e milhares de compras on-line e transações sendo feitas com cartão. Agora, já temos a tecnologia do PIX. O mundo vai cada vez mais nessa direção. São paradigmas que vão sendo quebrados, em função de uma base de segurança muito forte. Diria que qualquer receio que algum empresário ou alguém tenha com relação a segurança não é mais uma preocupação. O ponto agora é como usar a tecnologia de maneira correta e acelerar a migração para um ambiente digital.

Dada a natureza de seus negócios, alguns segmentos viram suas operações crescerem durante a pandemia, enquanto outros foram mais impactados. Você pode mencionar alguns casos de aumento de demanda e como os clientes trabalharam para suprir as novas necessidades com o apoio da AWS?

Ao analisar o impacto da pandemia em geral, vemos que houve três momentos. Em um primeiro momento, clientes sofreram impactos no negócio, tiveram redução nas transações, precisaram fechar lojas. Nessa hora, ajudamos os clientes de duas formas. Primeiro, na otimização do seu ambiente. Esse é um dos pilares da nuvem: a partir do momento que você utiliza menos, você paga menos e gasta menos. Foi um diferencial competitivo fundamental para vários clientes. Já no caso dos clientes que tiveram redução no seu core de negócios, ajudamos a inovar e a transformar o business deles. De novo, o Grupo Oncoclínicas é um exemplo, pois conseguimos fazer com que todo o atendimento do grupo passasse a ocorrer remotamente. Em um outro momento, houve clientes que tiveram aumento forte de demanda, como o iFood, que já citei, e a Rappi. A elasticidade da nuvem permitiu que conseguissem atender de maneira muito rápida. Temos clientes na área de gaming que começaram a ter picos muito fortes de demanda nesse período. Ou seja, temos clientes que otimizaram por um lado, que inovaram por outro, que tiveram uma demanda elástica. Nos três aspectos, a nuvem fez toda a diferença: o fato de estarem digitalizados, de poderem contar com uma infraestrutura de elasticidade e passível de redução de custo, além de ter a inovação como diferencial competitivo, fez com que eles conseguissem passar por esse momento levando inovação, transformando o negócio e com excelência no atendimento aos clientes. 

As novas tecnologias digitais prometem ganho de eficiência em tarefas que antes demandavam mais tempo e atenção dos profissionais. Liberados disso, que mudanças surgirão na atuação dos profissionais e na cultura das empresas?

O que você acaba vendo com o acesso à tecnologia a um custo muito mais baixo são dois movimentos. Primeiro: temos dados que apontam que mais de mil clientes que percorreram essa trajetória para a nuvem tiveram redução de custo efetivo nos negócios, mas, mais que isso, os profissionais das empresas ganharam tempo para focar no que é mais importante: nos clientes, no negócio. Esse é o grande ponto, ou seja, trazer essas inovações e tecnologias permite que você consiga focar em novos negócios, que preste atenção no que é mais relevante para qualquer empresa, que é seu cliente, em função da inovação.

[Cleber fala do papel da AWS no surgimento de negócios, em especial de startups, que viraram unicórnios e seu impacto para o Brasil]

A falta de profissionais capacitados para lidar com as novas tecnologias é apontada como um dos obstáculos para o avanço da transformação digital. Como os profissionais devem se preparar para lidarem com esse novo cenário?

O mercado hoje demanda conhecimento. E, para isso, é necessário estudo e capacitação. A maioria dos treinamentos que temos está disponível em nossas plataformas, e o profissional pode se certificar, aprender novas tecnologias, se preparar para esse boom que está vindo. Conversei recentemente com uma pessoa do Capital One, um banco dos EUA que tomou a decisão de fazer sua jornada digital e já desligou centenas de infraestruturas de data centers. O presidente do banco decidiu que 80% dos funcionários, incluindo o RH e outras áreas, deveriam ser certificados em nuvem, preparando-se para o momento que está vindo. É muito importante entender o que a tecnologia traz como habilitador de mudanças e se capacitar para isso. Garanto que haverá mercado. E a AWS está aqui para ajudar a todos os clientes e profissionais que necessitam desse apoio.

Os programas de capacitação e para startups da AWS vão no sentido de sanar essa situação?

São todos no sentido de sanar essa situação. Temos programas estruturais para ajudar em cada um desses momentos. Temos o AWS Educate, que é o programa junto às universidades, em que levamos formação aos professores para que eles transmitam estes conhecimentos aos alunos. Temos o AWS Academy, que ajuda na obtenção de certificação. Temos a Machine Learning University. Estamos aqui para treinar. Já treinamos, aliás. Na verdade, o que acontece é que estamos nessa jornada há dez anos. Não começamos recentemente. Há uma década investimos, capacitamos profissionais e oferecemos crédito para as startups começarem a investir em seus negócios. É uma jornada que começou há muito tempo, e temos orgulho disso. 

Texto: Karen Tada

Imagens: Reprodução

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