Fazer compras, chamar um táxi, pedir comida, comprar um livro, comunicar-se com os amigos, tudo isso em único aplicativo de smartphone. Esta é a grande aposta e o que está movendo uma disputa acirrada entre as empresas de serviços digitais. Ao aproveitar os dados gerados pelos usuários de aplicativos multifuncionais, essas empresas podem obter mais informações sobre o comportamento diário deles e utilizar esses dados para oferecer novos produtos e serviços.
Ao contrário do que se pode imaginar, não são os Estados Unidos e seu tão estimado polo de inovação, o Silicon Valley, quem estão liderando este mercado. É a Ásia que ocupa o spotlight desta revolução com os chamados super apps. A Meituan-Dianping da China e a Grab do Sudeste Asiático foram classificadas como as duas empresas mais inovadoras do planeta pela revista Fast Company.
Enquanto os aplicativos ocidentais são especialmente compatíveis com publicidade digital, os apps chineses são muito mais práticos e convenientes para serviços on-line-off-line. O ecossistema chinês de aplicativos está impactando o crescimento dos negócios locais, beneficiando milhões de comerciantes com operações altamente complexas disfarçadas de transações simples.
Os aplicativos asiáticos estão se mostrando essencialmente mais utilitários e vêm impactando o crescimento econômico de forma mais tangível e menos centralizada que empresas como Facebook e Amazon.
Para se ter uma ideia, a Meituan, que é uma plataforma que agiliza a reserva e a entrega de serviços como alimentos, estadias em hotéis e ingressos de cinema, facilitou 27,7 bilhões de transações (no valor de US$ 33,8 bilhões) para mais de 350 milhões de pessoas em 2.800 cidades. Somente na entrega de alimentos, foram processados 2,77 bilhões de transações. O super app permite o processamento de 1.783 serviços a cada segundo, com cada cliente usando uma média de três vezes por semana. E o uso do app não para de subir: em comparação a 2018, houve um crescimento de 38%.
Algumas curiosidades sobre a Meituan
-Em 2018, a Meituan adquiriu a empresa de compartilhamento de bicicletas, a Mobike, para oferecer serviços de transporte local;
-A Meituan derrubou a Apple como empresa mais inovadora;
-A empresa de oito anos é mais conhecida por competir (e ganhar) com a Ele.me de propriedade da Alibaba em entregas de alimentos;
-A Meituan levantou US$ 4,2 bilhões em seu IPO no mercado acionário de Hong Kong e conta com o apoio da Tencent, o maior e mais utilizado portal de serviços de internet da China.
São dados que mostram o ecossistema de aplicativos da China como sendo um dos mais centrados no cliente, destacando a crescente importância do consumidor chinês na economia global. “Nossa estratégia de integrar diferentes negócios é atrair um grande volume de usuários com serviços de alta frequência e, em seguida, impulsionar alguns serviços de baixa e média frequência como cortes de cabelo e serviços de casamento”, afirma Xia Huaxia, cientista-chefe da Meituan.
O Brasil também na onda dos super apps
Por aqui, os consumidores brasileiros, especialmente os das grandes cidades, já incorporaram no dia a dia o uso de aplicativos multifuncionais, que têm um apelo bastante interessante pela praticidade, já que dispensam a instalação de vários apps.
Por meio da startup Rappi, por exemplo, é possível liberar um patinete elétrico da Grin, contratar um prestador de serviços da GetNinjas, ou uma manicure do Singu. Até compras em shoppings de São Paulo podem ser feitas pelo aplicativo. A operação, que começou em julho de 2017, está em 15 cidades e a meta é dobrar a pre
sença em 2019.
A empresa recebeu em setembro de 2018 US$ 200 milhões de fundos como o DST Global e a americana Sequoia Capital (que já haviam investido na Nubank) e se tornou a primeira startup colombiana a atingir o status de “unicórnio”, o que quer dizer que ela vale mais de US$ 1 bilhão.
Segundo Ricardo Bechara, diretor da empresa no país, os recursos devem ser principalmente alocados ao “RappiPay”, uma ferramenta introduzida em setembro do ano passado que permite transferências de valores entre usuários e pagamento de compras, e ao “Rappi do seu Jeito”, um marketplace que trará mais flexibilidade aos estabelecimentos parceiros e contribuirá para novas categorias no aplicativo.
Já em abril deste ano, um novo aporte. Desta vez, a startup recebeu um investimento de US$ 1 bilhão (R$ 3,9 bilhões) do Softbank e do Softbank Vision Fund. Trata-se da maior aposta do banco japonês em uma startup latino-americana. Segundo a Rappi, o montante será usado para ampliar sua presença nos mercados em que já atua, incluindo o Brasil, e acelerar o crescimento em novas regiões.
Seguindo o exemplo da Rappi, outras startups têm investido alto no mercado brasileiro com aportes significativos. A Movile, dona do iFood, liderou em novembro de 2018 um investimento de US$ 500 milhões na empresa de entrega de comida. Trata-se, portanto, de um movimento que só tende a crescer.
Texto: Luana Dalmolin
Imagens: Meituan