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A quarta revolução industrial

A quarta revolução industrial - Klaus Schwab - Experience Club

Ideias centrais:

1 – A quarta revolução industrial é caracterizada por uma internet mais ubíqua e móvel, por sensores menores e mais poderosos que se tornaram mais baratos e pela inteligência artificial e aprendizagem automática (ou aprendizado de máquina).

2 – Todas as recentes inovações têm uma característica em comum: elas aproveitam a capacidade de disseminação da digitalização e da tecnologia da informação. O sequenciamento genético, por exemplo, não seria possível sem os avanços na análise de dados e na capacidade de processamento.

3 – Em essência, o blockchain é um livro contábil compartilhado, programável, criptograficamente seguro e, portanto, confiável; ele não é controlado por nenhum usuário único, mas pode ser inspecionado por todos.

4 – As rupturas trazidas pela quarta revolução industrial obrigam os governos a se adaptarem, reinventando-se e encontrando novas formas de colaboração com seus cidadãos e com o setor privado.

5 – Compartilhar é a ideia-chave. Corremos o risco de não conseguirmos lidar com os desafios da nova revolução nem colhermos todos os seus benefícios, a menos que, nós, coletivamente, desenvolvamos um sentimento de propósito comum.

Sobre o autor:

Klaus Schwab, nascido na Alemanha, é mestre em administração pela Kennedy School of Government, da Universidade de Harvard. Notabilizou-se, sobretudo, com a criação, em 1971, do Fórum Econômico Mundial, uma organização internacional para cooperação público-privada. Fundou, com a esposa Hilde, a Fundação Schwab para o Empreendedorismo Social.

Introdução

Três razões sustentam a convicção de ocorrência de uma quarta e distinta revolução industrial:

Velocidade: ao contrário das revoluções industriais anteriores, esta evolui em um ritmo exponencial e não linear. Esse é o resultado do mundo multifacetado e profundamente interconectado em que vivemos; além disso, as novas tecnologias geram outras mais novas e cada vez mais qualificadas.

Amplitude e profundidade: ela tem a revolução digital como base e combina várias tecnologias, levando a mudanças de paradigma sem precedentes da economia,dos negócios, da sociedade e dos indivíduos. A revolução não está modificando o “o que” e o “como” fazemos as coisas, mas também “quem” somos.

Impacto sistêmico: ela envolve a transformação de sistemas inteiros entre países e dentro deles, em empresas, indústrias e em toda sociedade.

A intenção deste livro é oferecer uma cartilha sobre a quarta revolução industrial: O que é? O que gerará? Que impactos causará a nós? O que pode ser feito para aproveitá-la para o bem comum?

Capítulo 1 – A quarta revolução industrial

A  primeira mudança profunda em nossa maneira de viver ocorreu há cerca de 10.000 anos e foi possível graças à domesticação dos animais e a dos seres humanos em benefício da produção, do transporte e da comunicação. Pouco a pouco, a produção de alimentos melhorou, estimulando o crescimento da população humana e seus assentamentos. A revolução agrícola foi seguida por uma série de revoluções industriais iniciadas na segunda metade do século XVIII. A maioria dessas revoluções se deve à transição da força muscular para a energia mecânica.

A primeira revolução industrial ocorreu aproximadamente entre 1760 e 1840. Provocada pela construção das ferrovias e pela invenção da máquina a vapor, ela deu início à produção mecânica. A segunda revolução industrial, iniciada no final do século XIX, entrou no século XX e, pelo advento da eletricidade e da linha de montagem, possibilitou a produção em massa. A terceira revolução industrial começou na década de 1960. Ela costuma ser chamada de revolução digital ou do computador, pois foi impulsionada pelo desenvolvimento dos semicondutores, da computação em mainframe (década de 1960), da computação pessoal (década de 1970 e 1980) e da internet (década de 1990).

A quarta revolução industrial é a mais recente. Ela teve início na virada do século e baseia-se na revolução digital. É caracterizada por uma internet mais ubíqua e móvel, por sensores menores e mais poderosos que se tornaram mais baratos e pela inteligência artificial e aprendizagem automática (ou aprendizado de máquina).

No entanto, a quarta revolução industrial não diz respeito apenas a sistemas e máquinas inteligentes e conectadas. Seu escopo é muito mais amplo. Ondas de novas descobertas ocorrem simultaneamente em áreas que vão desde o sequenciamento genético até a nanotecnologia, das energias renováveis à computação quântica.

O que torna a quarta revolução industrial fundamentalmente diferente das anteriores é a fusão dessas tecnologias e a interação entre os domínios físicos, digitais e biológicos.

Mudança sistemática e profunda

A premissa deste livro é que a tecnologia e a digitalização irão revolucionar tudo, fazendo com que aquela frase tão gasta e maltratada se torne verdadeira: “desta vez será diferente”. Isto é, as principais inovações tecnológicas estão à beira de alimentar uma gigantesca mudança histórica em todo o mundo – inevitavelmente.

Hoje, é possível criar uma unidade de riqueza com muito menos trabalhadores, em comparação a 10 ou 15 anos atrás, porque os custos marginais das empresas digitais tendem a zero. Além disso, na realidade da era digital, muitas novas empresas oferecem “bens de informação” com custos praticamente nulos de armazenamento, de transporte e de replicação. Algumas empresas disruptoras de tecnologia parecem exigir pouco capital para prosperar. Empresas como o Instagram ou o WhatsApp, por exemplo, não exigem muito financiamento para iniciar, mudando o papel do capital e a escala dos negócios no contexto da quarta revolução industrial. Em geral, isso mostra como os retornos de escala encorajam a maior escala e influenciam as mudanças de sistemas inteiros.

Inteligência imperante. A Inteligência Artificial (IA) fez progressos impressionantes, impulsionada pelo aumento exponencial da capacidade de processamento e pela disponibilidade de grandes quantidades de dados, desde softwares usados para descobrir novos medicamentos até algoritmos que preveem nossos interesses culturais.

Programas como o Siri da Apple oferecem um vislumbre da capacidade de uma subárea da IA que está em rápido avanço: os assistentes inteligentes. Os assistentes pessoais inteligentes começaram a surgir há apenas dois anos. Atualmente, o reconhecimento de voz e a inteligência artificial progridem numa velocidade tão rápida que falar com computadores se tornará, em breve, a norma, criando algo que os tecnólogos chamam de computação ambiental; nela, os assistentes pessoais robotizados estão sempre disponíveis para tomar notas e responder às consultas do usuário.

Trabalho e PIB. Os desafios criados pela quarta revolução industrial parecem concentrar-se principalmente pelo lado da oferta – no mundo do trabalho e da produção. Durante os últimos anos, a esmagadora maioria dos países mais desenvolvidos e também algumas economias em rápido crescimento, como a China, têm passado por um declínio significativo de sua mão de obra vista como porcentagem do PIB. Metade dessa queda é em razão da queda no preço relativo dos bens de investimento, sendo que esta última foi causada pelos progressos das inovações (que obriga as empresas a substituírem trabalho por capital).

Capítulo 2 – Impulsionadores

Todas as inovações e tecnologias têm uma característica em comum: elas aproveitam a capacidade de disseminação da digitalização e da tecnologia da informação. O sequenciamento genético, por exemplo, não seria possível sem os avanços ocorridos na análise de dados e na capacidade de processamento. Da mesma forma, não existiriam robôs avançados sem a inteligência artificial, que por si só, depende em grande parte da capacidade de processamento.

Para identificar as megatendências e relatar a enorme quantidade de impulsionadores tecnológicos da quarta revolução industrial, organizou-se uma lista dividida em três categorias: a categoria física, a digital e a biológica.

Categoria física

Existem quatro principais manifestações físicas das megatendências tecnológicas, que são as mais fáceis de detectar por causa de sua natureza tangível:

  • Veículos autônomos;
  • Impressão em 3D;
  • Robótica avançada;
  • Novos materiais.

Veículos autônomos. Conforme os drones se tornam capazes de sentir e responder ao seu ambiente (alterando a rota de voo para evitar colisões), eles são capazes de executar várias tarefas, por exemplo, a verificação de linhas de energia elétrica ou a entrega de suprimentos médicos em zonas de guerra. Na agricultura, o uso de drones –combinado com a análise de dados – permite a utilização mais precisa de adubo e água, por exemplo.

Impressão 3D. A tecnologia possui uma ampla gama de utilizações, desde as grandes (turbinas eólicas) até as pequenas (implantes médicos). No momento, seu uso limita-se principalmente às indústrias automotivas, aeroespaciais e médicas). Ao contrário dos bens manufaturados produzidos em massa, os produtos impressos em 3D podem ser facilmente personalizados. Conforme as restrições atuais em relação a tamanho, custo e velocidade são progressivamente superadas, a impressão em 3D irá se tornar mais difundida e incluirá componentes eletrônicos integrados, tais como placas de circuito e até mesmo células e órgãos humanos.

Robótica avançada. Os avanços dos sensores capacitaram robôs a compreender e responder melhor a seu ambiente e empenhar-se em tarefas variadas; por exemplo, as tarefas domésticas. Ao contrário do passado, quando eles precisavam ser programados por uma unidade autônoma, os robôs podem agora acessar informações remotas através da nuvem e assim se conectar a uma rede de outros robôs. Quando a próxima geração de robôs surgir, eles provavelmente irão ser o reflexo de uma crescente fase na colaboração entre humanos e máquinas.

Novos materiais. Com características que pareciam inimagináveis há alguns anos, os novos materiais estão chegando ao mercado. Em geral, eles são mais leves, mais fortes, recicláveis e adaptáveis. Agora existem aplicações para materiais inteligentes com autorreparação ou autolimpeza, metais com memória que retomam suas formas originais, cerâmicas e cristais que transformam pressão em energia e assim por diante.

Categoria digital

A revolução digital está criando abordagens radicalmente novas que revolucionarão o envolvimento e a colaboração entre indivíduos e instituições. Por exemplo, o blockchain, muitas vezes descrito como um “livro-razão distribuído”, é um protocolo seguro, no qual uma rede de computadores verifica de forma coletiva uma transição antes de registrá-la e aprová-la. A tecnologia que sustenta o blockchain cria confiança, permitindo que pessoas que não o conheçam (e, portanto, não têm nenhuma base subjacente de confiança) colaborem, sem ter de passar por uma autoridade central neutra – ou seja, um depositário ou livro contábil central. Em essência, o blockchain é um livro contábil compartilhado, programável, criptograficamente seguro e, portanto, confiável; ele não é controlado por nenhum usuário único, mas pode ser inspecionado por todos.

Categoria biológica

As inovações no campo da biologia – e, em particular, na genética – são de tirar o fôlego. Nos últimos anos, foram realizados consideráveis progressos na redução dos custos e aumento de facilidade no sequenciamento genético e, ultimamente, na ativação ou edição de genes. Demorou mais de dez anos, a um custo de US$2,7 bilhões, para que o projeto do genoma humano fosse completado. Hoje, um genoma pode ser sequenciado em poucas horas e por menos de mil dólares. Os avanços da capacidade de processamento permitirão que os cientistas não precisem mais trabalhar com tentativa e erro; em vez disso, eles testam como variações genéticas específicas geram doenças e características particulares.

Colaboração público-privada. Para fomentar as pesquisas pioneiras de base e as adaptações técnicas inovadoras das universidades e nas empresas, os governos devem alocar financiamentos mais agressivos em programas de pesquisas ambiciosas. Igualmente, a colaboração investigativa público-privada deve estar cada vez mais voltada á construção do conhecimento e do capital humano para o benefício de todos.

Capítulo 3 – Impactos

A escala e a amplitude da atual revolução tecnológica irão desdobrar-se em mudanças econômicas, sociais e culturais de proporções tão fenomenais que chega a ser quase impossível prevê-las. No entanto, este capítulo se dedica a analisar o impacto potencial da quarta revolução industrial na economia, nos negócios, nos governos e países, na sociedade e nos indivíduos.

Economia

Todas as grandes macrovariáveis imagináveis – PIB, investimentos, consumo, emprego, comércio, inflação e assim por diante – serão afetadas. Aqui serão focadas duas dimensões mais cruciais: o crescimento (principalmente pela lente da produtividade) e o emprego.

Crescimento. É importante contextualizar os impactos potenciais da quarta revolução industrial no crescimento em relação a recentes tendências econômicas e a outros fatores que contribuem para o crescimento. Alguns anos antes da crise econômica e financeira iniciada em 2008, a economia mundial estava crescendo cerca de 5% ao ano. Caso tivesse continuado nesse ritmo, o PIB mundial dobraria a cada 14-15 anos e bilhões de pessoas seriam tiradas da pobreza.

Alguns economistas têm levantado a possibilidade de uma “queda centenária” e falam de “estagnação secular”, uma expressão cunhada durante a Grande Depressão por Alvin Hansen e trazida de volta à vida pelos economistas Larry Summers e Paul Krugman. A “estagnação secular” descreve uma situação de escassez persistente de demanda, que não pode ser derrotada, nem mesmo com taxas de juros próximas de zero. Embora essa ideia seja controversa no meio acadêmico, ela possui implicações importantes. Se for verdadeira, sugere que o crescimento do PIB mundial irá diminuir ainda mais. Podemos imaginar um cenário extremo, em que o crescimento do PIB mundial anual caia para 2%, o que significa que levaríamos 16 anos para dobrar o PIB mundial.

Produtividade. Na última década, a produtividade em todo o mundo (medida como a produtividade do trabalho ou a produtividade total dos fatores – PTF) manteve-se lenta, apesar do crescimento exponencial do progresso tecnológico e dos investimentos em inovações. Esta encarnação mais recente do paradoxo da produtividade – o alegado fracasso da inovação tecnológica em conseguir níveis mais elevados de produtividade – é um dos maiores enigmas econômicos atuais que antecede o início da Grande Recessão, e para o qual não há uma explicação satisfatória.

A produtividade é o determinante mais importante para o crescimento de longo prazo e padrões de vida crescentes; sua ausência, se mantida durante toda a quarta revolução industrial, significa que teremos menos destes dois últimos. Contudo, como podemos conciliar os dados que indicam o declínio de produtividade com as expectativas que tendem a ser associadas com a evolução da tecnologia e da inovação?

Emprego. Apesar do potencial impacto positivo da tecnologia no crescimento econômico, é essencial, contudo, abordar o seu possível impacto negativo, pelo menos a curto prazo, no mercado de trabalho. Os temores dos impactos da tecnologia sobre os empregos não são novos. Em 1931, o economista John Maynard Keynes alertou sobre a difusão do desemprego, “pois nossa descoberta dos meios de economizar o uso do trabalho ultrapassará o ritmo no qual podemos encontrar novos usos para o trabalho”. Durante os últimos anos, reacendeu-se o debate, pois os computadores estavam substituindo vários empregos, a saber, guarda-livros, caixas e operadores de telefone.

As razões por que a nova revolução tecnológica provocará mais agitações do que as revoluções industriais anteriores são aquelas mencionadas na Introdução: velocidade (tudo está acontecendo num ritmo muito rápido do que antes), amplitude e profundidade (há muitas mudanças radicais ocorrendo simultaneamente) e a transformação completa de sistemas inteiros.

Ao pensar sobre a automação e o fenômeno da substituição, devemos resistir à tentação de polarizar nosso raciocínio sobre os impactos da tecnologia em relação ao emprego e ao futuro do trabalho. Segundo Frey e Osborne, o grande impacto da quarta revolução industrial sobre os mercados de trabalho e locais de trabalho em todo o mundo é quase inevitável. Mas isso não significa que estamos perante um dilema homem versus máquina. Na verdade, na maioria dos casos, a fusão das tecnologias digitais, físicas e biológicas, que causa as alterações atuais servirá para aumentar o trabalho e a cognição humana; isso significa que os líderes precisam preparar a força de trabalho e desenvolver modelos de formação acadêmica para trabalhar com (e em colaboração com) máquinas capazes, conectadas e inteligentes.

Negócios

Além das mudanças nos padrões de crescimento, nos mercados de trabalho e no futuro do trabalho, que naturalmente vão influenciar todas as organizações, há evidência de que as tecnologias que sustentam a quarta revolução industrial causam um grande impacto sobre como as empresas são lideradas, organizadas e administradas. Um sintoma particular deste fenômeno é a redução histórica da média da expectativa de vida de uma empresa listada no S&P 500 de cerca de 60 anos para aproximadamente 18. Outro é a mudança no tempo que os novos operadores levam para dominar os mercados e atingir receitas significativas. O Facebook levou seis anos para alcançar receitas de US$ 1 bilhão por ano e o Google apenas cinco anos. Não há dúvida de que as tecnologias emergentes, quase sempre alimentadas e possibilitadas pelos recursos digitais, estão aumentando a velocidade e a escala da mudança das empresas.

As rupturas também serão geradas por competidores ágeis e inovadores que, acessando as plataformas digitais globais para pesquisa, desenvolvimento, marketing, vendas e distribuição, poderão ultrapassar os operadores históricos bem estabelecidos com uma velocidade jamais vista, melhorando a qualidade, a velocidade ou o preço da entrega de valor.

 A quarta revolução industrial possui quatro efeitos principais aos negócios de todas as indústrias:

  • As expectativas dos clientes estão mudando;
  • Os produtos estão sendo melhorados pelos dados, o que melhora a produtividade dos ativos;
  • Estão sendo formadas novas parcerias, conforme as empresas aprendem a importância de novas formas de colaboração; e
  • Os modelos operacionais estão sendo transformados em novos modelos digitais.

Nacional e global

As rupturas  trazidas pela quarta revolução industrial estão redefinindo o funcionamento de instituições e organizações. Em particular, elas obrigam os governos – nos níveis regionais, nacionais e locais – a se adaptarem, reinventando-se e encontrando novas formas de colaboração com seus cidadãos e com o setor privado. Elas afetam como países e governos se relacionam entre si.

Governos. Os governos estão entre os mais impactados por essa natureza cada vez mais transitória e evanescente do poder. Segundo Moisés Naim, “no século XXI, será mais fácil chegar ao poder, mais difícil usá-lo e mais fácil perdê-lo”. Pouco se duvida de que é mais difícil governar hoje que no passado. Com poucas exceções, os políticos têm encontrado  maior dificuldade para realizar mudanças. Seu poder sofre limitações dos centros de poder rival, que podem ser de origem transnacional, regional, local e até mesmo de indivíduos. Atualmente, os micropoderes são capazes de impor limitações aos macropoderes como, por exemplo, os governos nacionais

Se quiséssemos explorar todos os impactos multifacetados da quarta revolução industrial aos governos, precisaríamos escrever um livro inteiro somente sobre o tema., mas o ponto-chave é este: a tecnologia, cada vez mais, tornará os cidadãos mais aptos, oferecendo uma nova maneira de expressar suas opiniões, coordenar seus esforços e possivelmente contornar a supervisão estatal. Diga-se “possivelmente”, porque o oposto pode muito bem acontecer, isto é, novas tecnologias de vigilância podem dar origem a autoridades públicas com excesso de poder nas mãos.

Sociedade

O grande desafio para a maioria das sociedades será saber como absorver e acomodar a nova modernidade e, ao mesmo tempo, abraçar os aspectos gratificantes de nossos sistemas tradicionais de valores. A quarta revolução industrial, que põe em causa tantos pressupostos fundamentais, pode agravaras tensões existentes entre sociedades profundamente religiosas que defendem valores fundamentais e aqueles  cujas crenças são moldadas por uma visão de mudo mais secular. O maior perigo para a estabilidade e cooperação global pode vir de grupos radicais que lutarão contra o progresso com violência extrema e ideologicamente motivada.

Desigualdade em larga escala. A crescente desigualdade é mais do que um fenômeno econômico preocupante – ela consiste em um grande desafio para as sociedades. No livro The Spirit Level: Why Greater Equality Makes Societies Stronger, os epidemiologistas britânicos Richard Wilkinson e Kate Pikett, apresentam dados indicando que sociedades desiguais tendem a ser mais violentas, têm maior número de pessoas nas prisões, maiores níveis de obesidade, de doenças mentais e têm baixa expectativa de vida e baixos níveis de confiança. Eles descobriram que, após garantirem rendimentos médios, as sociedades mais iguais passam a ter níveis mais elevados de bem-estar infantil, menores níveis de estresse e uso de drogas e diminuição de mortalidade infantil. Outros pesquisadores descobriram que níveis mais elevados de desigualdade aumentam a segregação e reduzem os resultados educacionais de crianças e jovens adultos.

O indivíduo

As extraordinárias inovações provocadas pela quarta revolução industrial, desde as biotecnológicas até aquelas de IA, estão redefinindo o que significa o ser humano. Elas estão aumentando os atuais limites da expectativa de vida, saúde, cognição e competência de maneiras que antes pertenciam somente ao mundo da ficção científica. Com o avanço dos conhecimentos e das descobertas em andamento nestes campos, é fundamental que nosso foco e nosso compromisso estejam concentrados em permanentes discussões éticas e morais. Por sermos seres humanos e animais sociais, precisamos pensar individual e coletivamente sobre como responder a temas como a extensão da vida, os bebês projetados, extração de memória e muito mais.

AI em prol da humanidade. Um desenvolvimento interessante dessa área é a OpenAI, uma empresa de pesquisas em AI sem fins lucrativos iniciada em dezembro de 2015, com o objetivo de “realizar avanços em inteligência digital para que ela possa beneficiar toda a humanidade, sem a necessidade de gerar retorno financeiro”. A iniciativa – presidida por Sam Altman, presidente da Y Combinator, e Elon Musk, CEO da Tesla Motors – já possui fundos autorizados no valor de US$ 1 bilhão. Essa iniciativa destaca um ponto importante citado anteriormente, a saber, um dos maiores impactos da quarta revolução industrial é o potencial empoderamento originado pela fusão de novas tecnologias. Aqui, como afirmado por Sam Altman, “a melhor maneira para desenvolver AI é torná-la gratuita para todos e fazer que ela seja criada para empoderar os indivíduos e melhorar os seres humanos”.

Conclusão

Compartilhar é a ideia-chave. Conforme mencionado anteriormente, se a tecnologia é uma das possíveis razões por que estamos nos movendo rumo a uma sociedade centrada no indivíduo, será absolutamente necessário reequilibrar esta tendência em direção ao foco sobre o “eu” com sentimento generalizado de objetivo comum. Estamos nisso juntos e corremos o risco de não conseguirmos lidar com os desafios da quarta revolução industrial nem colhermos todos os seus benefícios, a menos que nós, coletivamente, desenvolvamos um sentimento de propósito comum.

Ambiente de confiança. Para fazer isso, a confiança é essencial. Um elevado nível de confiança favorece o envolvimento e o trabalho em equipe, e isso se torna ainda mais forte na quarta revolução industrial, pois em seu cerne está a inovação colaborativa. Este processo somente poderá ocorrer se for criado em um ambiente de confiança, pois existem muitos componentes e problemas diferentes envolvidos. Em última análise, todas as partes interessadas devem cumprir seu papel no sentido de garantir que as inovações  sejam direcionadas para o bem comum. A confiança será corroída se qualquer um dos grupos de partes interessadas (stakeholders) achar que não é o caso.

Interesse comum. Em um mundo onde nada mais é constante, a confiança torna-se uma das mais valiosas características. A confiança só pode ser obtida e mantida se os decisores estiverem incorporados a uma comunidade e suas decisões estiverem sempre ligadas ao interesse comum e nunca a uma busca de objetivos individuais.

Resenha: Rogério H. Jönck

Imagens: Reprodução e Unsplash

Ficha técnica:

Título: A quarta revolução industrial

Título original: The Fourth Industrial Revolution

Autor: Klaus Schwab

Primeira edição: Edipro

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