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Como uma viagem à Escócia me fez enxergar que criatividade é um treino diário

Helô Passos

Hoje começo mais um diário de bordo do NAVE com uma pergunta a você, executivo e executiva que me lê: a criatividade é algo que já nasce com o ser humano ou ela é um treino diário? Como é pra você saber que uma das maiores franquias do mundo, que já faturou US$ 7,7 bilhões somente em filmes, foi produzida por uma pessoa que não se considerava tão criativa, com junções de referências do cotidiano?

Para responder, vou dividir um pouco da minha jornada à Escócia com vocês e a importância de um processo no caminho criativo.

Eu fui uma pessoa jovem (leia-se minha infância e adolescência) que consumiu muito conteúdo: audiovisual, escrito, através de diálogos com pessoas mais velhas. E, ao brincar, colocava em prática tudo aquilo que havia absorvido anteriormente. Um dos meus maiores imaginários tinha a ver exatamente com um dos destinos da minha NAVE: a Escócia! Lembro de assistir ao Senhor dos Anéis e colocar meus bonecos colecionáveis da forma que eu acreditava que eles estavam nas Terras Altas. Lembro de acreditar que eu veria o Monstro quando conhecesse o Loch Ness. Lembro da sensação de assistir Harry Potter e ver o trem partindo nas montanhas, pensar o quanto seria incrível ter uma realidade como aquela.

Poder trazer algo pessoal é de extrema delicadeza e confiança. Mas o que a minha experiência pessoal tem a ver com a jornada criativa?

A criatividade é uma jornada de consumo constante, e quando o consumo se materializa em experiências, o seu senso criativo se fortalece. A Escócia por si só, com suas paisagens, lendas e pessoas agradáveis, já seria o bastante para me auxiliar ainda mais no processo de criação do mundo dos Boogers, o IP que estamos desenvolvendo na Trexx.

 

Helô Passos em sua jornada de criatividade na Escócia

 

Poder ver o Museu Nacional, o Kelvingroove e o Modern Art (todos de graça, algo extremamente positivo e que vemos com frequência no Reino Unido), estar frente frente com a cultura e a fauna representadas ali, confirmam o que eu já sabia desde a leitura do livro Roube como um Artista e sintetizo com uma frase famosa a minha constatação: nada se cria, tudo se copia e se transforma. O ponto alto dessa viagem foi refazer os passos de uma grande mulher chamada Joanne, ou globalmente conhecida como J. K. Rowling, a criadora do Harry Potter.

A franquia Harry Potter já vendeu mais de US$ 7,7 bilhões em filmes, US$ 2,4 bilhões na gigante dinamarquesa Lego só em 2010, US$ 7 bilhões somados em vendas de brinquedos, colecionáveis e pelúcias das marcas Mattel e Hasbro. E, apenas na pandemia, a escritora e empresária faturou aproximadamente US$ 50 milhões e doou cerca de US$ 150 milhões para pessoas em situação de vulnerabilidade. Rowling é uma das pessoas mais ricas do mundo com uma fortuna estimada em US$ 1 bilhão em patrimônio líquido.

Mas antes de ser uma das pessoas de maior sucesso na Europa, América e Ásia, J. K. havia fugido de Londres por causa de um casamento abusivo. Ela foi para Edimburgo com uma criança pequena para cuidar, desempregada e sem perspectiva naquele momento, procurando apenas um emprego de professora de inglês para se sustentar.

 

The Elephant House, onde J. K. Rowling escreveu parte do Harry Potter

 

Ela começou a criar o Harry Potter no seu tempo livre, em uma cafeteria chamada The Elephant House, e usou das proximidades do local para criar personagens e lugares icônicos do livro, como a Victoria Street e outras ruas pequenas que dariam cara ao “Beco Diagonal”, o lugar onde pode-se comprar de tudo na história, o castelo de Edimburgo com sua estética que daria cara para a “Hogwarts”, a escola de magia do livro, o conceito adotado de casas/clãs para separar alunos com pontuações anuais, “roubado” da George Harriot School, nomes de personagens tirados das tumbas do cemitério de Gyliard, e até sua experiência pessoal: sua depressão havia se transformado nos dementadores, monstros temíveis que tiram a felicidade das pessoas na história.

E quantas editoras se recusaram a publicar a história, até que uma acreditasse no projeto? Foram 12 editoras. Todas acreditavam que ninguém ia querer ler a história de um menino bruxo.

 

As paisagens da Escócia como fonte de inspiração

 

Rowling exercitava diariamente sua criatividade, observava atenta as coisas que havia à sua volta e fazia pausas em sua rotina para explorar seu entorno. Isso, aliado à sua perseverança, foco e capacidade, a tornou uma das pessoas mais bem-sucedidas dessa geração.

Hoje, meu convite é algo que me comprometo a fazer junto a você que chegou até aqui: explorar mais atentamente o que está à nossa volta, ter processos que nos permitam ter tempo de transformar a rotina em um espaço de treino criativo, poder transformar parte do mundo, ainda que essa parte seja pequena, por meio do olhar preciso de quem está absorvendo além da média, para entregar muito acima do esperado para quem está ao redor.

Câmbio, desligo.

Helô Passos é fundadora da Trexx e especialista em blockchain games e criou o projeto NAVE para aproximar comunidades e projetos web3 com o mercado nacional e internacional.

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