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“Soluções open source contribuem para a evolução das empresas”

Roberto Salomon, arquiteto-chefe da SUSE na América Latina, explica como as aplicações de código aberto ajudam a desenvolver novos modelos de negócios

Em um universo em que as ferramentas e soluções digitais impactam de forma cada vez mais direta nos resultados dos negócios, lidar com a complexidade do ambiente virtual é um desafio para as empresas que querem evoluir. Ao mesmo tempo, essas tecnologias abrem a possibilidade de aproveitar oportunidades que tecnologias 5G e de computação na borda (Edge Computing) começam a descortinar.

Para a SUSE, empresa open source (código aberto), que há 30 anos comercializa o sistema operacional Linux, a resposta para equilibrar desafios e oportunidades está na capacidade de orquestrar as diferentes tecnologias, simplificando sua gestão por meio de soluções open source.

“O futuro é aberto”, costuma afirmar Roberto Salomon, arquiteto-chefe para América Latina da SUSE. Com uma comunidade de mais de 56 milhões de pessoas – entre desenvolvedores, programadores e outros profissionais – que trabalham de forma colaborativa para criar, consertar ou melhorar os softwares de código aberto, novas ideias e inovações podem surgir a qualquer momento. E muitas corporações de grande porte e governos, como o do Brasil, já são grandes usuários de soluções open source.

Nesta entrevista ao Experience Club, Salomon analisa o cenário do open source no mundo e no Brasil, explica como é possível fazer cada vez mais com os recursos disponíveis e como esse cenário favorece o ambiente de negócios.

Poderia traçar um panorama de como estão as soluções baseadas em open source hoje, no mundo e no Brasil?

Open source hoje é mainstream, não é mais uma solução de nicho. Quase todas as empresas listadas na Fortune 500 utilizam alguma solução desse tipo em seus ambientes. Em torno de 75% das cargas computacionais que rodaram em nuvem em 2020 eram baseadas em open source. A previsão é que até 2024 cheguem a 85%. Isso é o maior depoimento da confiança que o mercado tem hoje nesse tipo de solução.

O Brasil reflete esse crescimento. Um estudo da SUSE mostrou que, globalmente, 78% dos gestores de TI pensam em migrar alguma solução para open source. Já no Brasil, 85% dos gestores consideram soluções open source como parte dos seus negócios, o que coloca o país um pouco à frente do resto do mundo. O Brasil é um mercado importante, a nível privado e público. O governo brasileiro é forte usuário de soluções open source.

Vídeo: Roberto Salomon explica que o open source permite identificar as melhores soluções para a gestão de dados com um mínimo de investimento de entrada:

https://player.vimeo.com/video/730432947?h=133ed018c4&badge=0&autopause=0&player_id=0&app_id=58479

Como a plataforma chamada Kubernetes ajuda a melhor organizar os negócios?

O Kubernetes é uma evolução natural da nossa necessidade de fazer mais com os recursos que temos. As aplicações são uma série de serviços que são encadeadas para prover algo para o cliente: log on, catálogo de produtos, carrinho de compras, aprovação da compra no cartão de crédito, check out… Mas cada processo é completamente independente dos demais. Por exemplo, o módulo de cartão de crédito precisa funcionar apenas quando alguém fecha a compra. Então posso empacotar esse processo de cartão de crédito dentro do que chamamos de contêiner. Essa lógica permite colocar duzentos ou trezentos contêineres em um computador, sem precisarem estar todos ativos ao mesmo tempo. Posso desligar e ligar esses contêineres para fazer uma operação de venda acontecer. Mas vou precisar de algo para coordenar tudo isso. É isso que o Kubernetes faz. Ele funciona como um ambiente de orquestração de contêineres. É o ponto em que estamos hoje no adensamento de processamento que nasceu com a necessidade de aproveitar melhor as máquinas que temos.

Para que áreas ou negócios o Kubernetes é indicado?

Quem se beneficia geralmente são as organizações com ambientes naturalmente mais complexos, como uma loja online ou um banco, que possuem diversos serviços que precisam ser compostos para garantir a experiência do cliente. E essas experiências variam de um dia para outro. No banco, por exemplo: um dia o cliente checa os investimentos, no outro ele abre um chat com o gerente, no outro faz um PIX. São coisas diferentes acontecendo o tempo todo. Esses ambientes coordenados possuem uma complexidade que o Kubernetes ajuda a organizar.

Temos ainda clientes que trabalham com vários clusters de Kubernetes. Assim, dependendo do tamanho e complexidade dos negócios, preciso de vários clusters de Kubernetes que precisam ser conduzidos.Para ajudar a gerir esses clusters por meio de Kubernetes, uma solução que existe e para o qual oferecemos suporte é o SUSE Rancher. Em resumo, o que fazemos o tempo inteiro é organizar e permitir que o negócio da empresa evolua com um pouco menos de complexidade.

A SUSE adquiriu a NeuVector, empresa líder em segurança de contêineres, em 2021. Com isso, o gestor aumenta a segurança e a visibilidade dos processos:

Vamos falar um pouco sobre a chegada da tecnologia 5G. Que avanços e oportunidades ela traz para o ecossistema open source e vice-versa – ou seja, como o open source vai ajudar a alavancar o 5G? 

O 5G existe em grande parte em função de soluções open source. Grande parte das implementações que existem hoje, sejam as da Nokia, da Siemens, da Huawei, tem algum software de código aberto funcionando por trás. O 5G tem um aspecto muito interessante. Com essa tecnologia, eu aumento muito a quantidade de dispositivos que posso pendurar numa rede ao mesmo tempo. Quando falamos de internet das coisas, pela primeira vez se tem uma rede capaz de receber forno de microondas, geladeira, secadora, máquinas de lavar louça, de todos os vizinhos da rua e do prédio, simultaneamente, sem que haja perda ou lentidão de conexão. E tudo isso estará funcionando em cima de alguma solução open source, porque isso já acontece. Há televisores que operam com o sistema Android, que é um sistema open source derivado de Linux.

Além disso, o modelo adotado no Brasil finalmente levará conectividade para o interior do país com qualidade, o que abre uma oportunidade gigantesca para essa população participar de forma ativa na produção de conhecimento e tecnologia. Para o open source, isso será algo muito legal.

Poderia explicar o que é o Edge Computing e como ele se relaciona com o 5G? Que inovações e oportunidades são esperadas para o mundo dos negócios?

A tecnologia passa por ondas de centralização e distribuição. Começamos com grandes máquinas, os mainframes. Depois houve a fase do downsizing, de distribuição em máquinas menores. Em seguida começou-se a concentrar os servidores em um data center. Depois esses servidores foram levados para a nuvem. E agora percebemos que muitos desses processos são melhor executados mais perto de onde o dado nasce. É o Edge Computing, que simplesmente faz com que o processamento seja levado para a ponta, onde o dado é gerado.

Na farmácia, por exemplo, o atendente entrega a você uma tripa de papel com os descontos do dia selecionados para você.  Essa carga pode ser levada para a borda, não precisa ser rodada no data center. Na agricultura, temos o sistema Sisbov [Serviço de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos] de rastreamento de animais de corte. Como isso funciona hoje? O pessoal coleta informações em uma planilha, depois vai aonde há conexão com internet para digitar os dados do bezerro. Com o 5G, posso ter um computador pequeno e barato rodando na ponta, que já faz a coleta automaticamente do que está acontecendo com o rebanho.

Com o 5G e a chegada do Edge Computing, os dispositivos na ponta não estarão mais isolados. Um carro, por exemplo, é transformado em dispositivo de coleta de dados com processamento local. Isso traz possibilidades de novos negócios:

Você costuma dizer que o modelo de desenvolvimento de soluções do open source é “absurdamente inclusivo”. O que isso representa para o futuro de empresas e negócios?

Qualquer pessoa, não interessa a procedência, formação ou nível de escolaridade, pode participar de um projeto de OS. Eric Raymond, no livro “A Catedral e o Bazar”, descreve o processo: toda solução open source começa com um desenvolvedor coçando uma coceira. Ele descobre um jeito legal de coçar orelha. Ele publica isso, comenta com os amigos, até que um deles conta que descobriu outra forma de fazer isso. O que era um problema muito específico evolui para ser uma solução para um problema comum que muita gente tinha. Ou seja, onde houver um projeto open source, você consegue ajudar. Nesse sentido ele é absurdamente inclusivo para a sociedade.

Quando se leva isso para empresas, a coisa fica muito mais interessante. Reduzo drasticamente o custo de entrada de uma empresa. Ela não precisa se comprometer com grandes investimentos em tecnologia para começar a fazer o seu negócio. Como está usando softwares mantidos pela comunidade, é muito mais fácil encontrar gente com formação, a mão de obra que conheça aquele software. Não é por outro motivo que começamos a identificar que isso contribui não só para pequenas empresas, mas, principalmente, se torna uma ferramenta muito útil para inovação em empresas já consolidadas. Não é preciso investir na infraestrutura, então consigo investir em novos modelos de negócio. Open source é absurdamente inclusivo.

Que tipo de apoio a SUSE oferece para as empresas que querem fazer um amplo uso de soluções open source? Como se começa a montar essa jornada de transformação digital?

O processo começa com a escolha do melhor ferramental para o negócio daquela empresa. Algumas companhias estão melhor capacitadas para manter softwares e estrutura próprios. Para as outras, a SUSE pega um conjunto de produtos open source que a comunidade produz, organiza e empacota de forma que possamos dar suporte para os clientes. Uma coisa importante de dizer é que a SUSE não vende software. Nós vendemos a garantia de que esse software que selecionamos, dentre os inúmeros produzidos pela comunidade, vai atender às demandas específicas dos negócios. E aí eu consigo te oferecer isso na forma de suporte (quebrou, eu conserto); na forma de serviços de consultoria (te ajudo a implementar, montar melhor infraestrutura para o seu negócio); e garanto as atualizações desse software. Como tenho acesso ao código-fonte, tenho como deixar desenvolvedores disponíveis para corrigir eventuais erros. E, com isso, criar uma camada de confiabilidade de negócio.

Por trás de tanta tecnologia, existem pessoas, como muitos especialistas fazem questão de lembrar. Como a SUSE enxerga o ecossistema de pessoas que atuam com open source e o que podemos esperar para o futuro?

Não tenha dúvida que pessoas são o cerne por trás de tudo que fazemos. Quando falamos em comunidade de desenvolvedores, falamos também de busca por inovação. Então a SUSE está sempre muito atenta a o que a comunidade faz. Somos parte dela. Nossos engenheiros desenvolvem código junto com a comunidade do Linux, e o mesmo acontece com Rancher e a infraestrutura de Kubernetes.

Exercitar futurologia com open source é engraçado, porque amanhã pode aparecer algo revolucionário. Com certeza existem vários projetos que já estão começando a arranhar ideias novas. A única coisa que posso dizer, com certeza, é que todo esse futuro vai ser aberto.

Gosto de uma citação do Thomas Jefferson, que diz que aquele que recebe conhecimento de mim, não diminui o meu, assim como aquele que acende a vela na minha, não diminui a luz que tenho. Conhecimento produz conhecimento e o ambiente colaborativo do open source permite que esse conhecimento não seja só produzido, mas democratizado e distribuído. Se o Brasil quer ser um país tecnologicamente avançado, a gente precisa investir na formação de pessoas na área de open source.

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