Por Eduardo Valentin Gonçalves*
Acompanhe-me em uma reflexão sobre quatro características de líderes notáveis que derivam de sua mentalidade humilde.
Pense em um(a) líder que você admira, que te inspira de verdade. Agora, nomeie três principais características ou habilidades que te chamam atenção nessa pessoa.
Palavras relacionadas à comunicação, gestão, visão, estratégia, ousadia, inovação, autoconfiança, liderança e inteligência geralmente se destacam em pesquisas e listas das competências atribuídas aos nomes que fizeram e fazem história nos negócios e na política.
Por trás dos adjetivos clichês que definem grandes líderes, penso que existe um traço fundamental que alicerça as boas práticas da liderança eficaz e que geralmente é esquecida, ou pelo menos, negligenciada: a humildade.
Não me surpreenderia que, nesse momento, a possível divergência de opinião do leitor viesse acompanhada de uma interjeição mental. Afinal de contas, nomes como Churchill, Eisenhower, Merkel, D’ark, Jobs, Musk e Bezos não são exatamente lembrados como personagens humildes.
No entanto, penso que por trás de comportamentos e atitudes desses e de outros grandes líderes existam fortes traços de humildade. Acompanhe-me em uma reflexão sobre quatro características de líderes notáveis que derivam de sua mentalidade humilde:
1. São incompetentes conscientes
Muitos esperam que um típico líder seja muito confiante e dotado de grande firmeza. Embora eles definitivamente devam corresponder a essas expectativas, os melhores líderes têm muita clareza de suas fraquezas e limitações. Eles sabem o que não sabem (incompetência consciente) e possuem uma energia muito maior do que as pessoas comuns para continuar a aprender, melhorar e a expandir os seus negócios.
2. Confiam no seu taco, mas sabem que o jogo é complexo
Humildade nada tem a ver com a falta de confiança, mas sim sobre se ter a consciência de que a realidade é complexa, que a nossa capacidade de compreensão é bastante limitada e, consequentemente, os erros são parte do jogo. Líderes humildes apreciam divergência de opiniões e aceitam críticas, desde que muito bem fundamentadas (muito bem fundamentadas mesmo, pois eles têm muita confiança em suas visões).
3. Eles não têm orgulho de autoria
A visão de um grande líder dificilmente mudará. O mesmo não se pode dizer sobre suas estratégias para alcançá-la. Líderes humildes sabem que seus planos são plataformas para mudanças. Eles incentivam “seus seguidores” a tomarem as decisões durante a execução e a mudarem o plano inicialmente concebido pela liderança (os “comos”). Isso acaba por criar um sentimento de pertencimento e transmite confiança à equipe, viabilizando improvisos quando necessários e empoderamento dos envolvidos.
4. São servos
A humildade pode ser observada em líderes que possuem coragem e discernimento para admitir que podem se beneficiar da experiência de outros que têm menos poder do que ele. Eles buscam ativamente as ideias, habilidades e contribuições únicas dos liderados. Dessa forma, criam uma cultura de aprendizado e uma atmosfera que incentiva os seguidores a se tornarem pessoas melhores.
Humildade e liderança servidora não significam que os líderes tenham baixa autoestima ou assumam uma atitude servil. Pelo contrário. Enfatizam a responsabilidade de um líder em aumentar o empoderamento, a autonomia e a responsabilidade do time e encorajá-lo a pensar por si mesmo e experimentar suas próprias ideias.
A dissonância entre perceber uma atitude comportamental humildade e reconhecer a mentalidade humilde de um líder, traduzida nos pontos anteriormente citados, me parece compreensível.
Certamente D’arc, Jobs, Churchill, Merkel, Musk e Eisenhower não são reconhecidos por sua humildade, mas não se pode negar que todos eles, em alguma medida, se beneficiaram de suas mentalidades humildes, aplicando, consciente ou inconscientemente, o ingrediente secreto de uma liderança eficaz, pecando talvez, na postura, na comunicação e no tom de voz.
Humildes incompreendidos ou arrogantes assertivos?