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Por onde começar um venture capital

Artigo - venture capital- Marcello Gonçalves - EXP

Entender onde você está para saber aonde quer chegar talvez não seja tudo. O como chegar pode ser tão ou mais importante quanto.

Por Marcello Gonçalves*

Ter a consciência de como chegar foi um passo importante na minha jornada até aqui e até o Venture Capital (VC). Entre erros e acertos, entendi que existem muitas maneiras de achar o seu “como” no VC. E o meu como passa por encontrar sentido na palavra empreender.


Existem diversas formas de entender o empreendedorismo. Ser um empreendedor na carreira é uma delas. Eu mesmo, por muito tempo, fiz isso galgando posições de destaque dentro do setor bancário, mas acabei optando por cruzar a ponte.


Queria deixar de ser um executivo, para me tornar um empreendedor. E a ponte para essa transição começou a ser construída em 2014, quando entendi onde estava e aonde queria chegar.


Primeira experiência com VC de verdade


Toda boa história tem um prólogo. O meu começou a ser escrito ainda em 2013, quando comecei uma parceria com Kees Koolen, um investidor experiente que, na época, era CEO do fenômeno das reservas de hospedagem: Booking.com.


Kees foi meu cliente quando ainda trabalhava como diretor comercial de um banco. Com o tempo nos tornamos amigos. E foi em uma de nossas conversas que sugeri montarmos um fundo de startups, utilizando a expertise de Kees com o digital e o meu conhecimento do mercado brasileiro.


Ele topou! Então, foi criada a Koolen & Partners. Esse também foi o início da construção de um conceito fundamental que tenho comigo até hoje. O de jamais empreender sozinho. Procuro sempre poder contar com parcerias de valor ao meu lado.


E essas parcerias não demoraram a se multiplicar. Logo no começo de 2014, Rodrigo Borges, um dos founders do Buscapé, e Guga Stocco, ex-executivo também do Buscapé, se juntaram a nós nesse primeiro fundo, que começou com 12 startups no portfólio, dentre elas estavam a Loggi, a Hotmart e a Gympass, que mais tarde se tornaram os unicórnios que você bem conhece.


Embora tenha sido um fundo que deu muito certo, não houve muita tecnicidade na escolha das startups. E nós precisávamos disso para replicar o nosso sucesso. Foi nessa época que comecei a estudar e formar os meus conceitos, buscando entender mais a fundo o que era de fato VC. Muita leitura e cursos depois, a evolução veio naturalmente, fazendo com que aquilo que tínhamos apenas no feeling se tornasse uma metodologia de trabalho.


Estruturando um fundo de VC


Mesmo tendo acertado a mão no primeiro fundo da Koolen & Partners, sabíamos que o nosso maior investidor não seguiria investindo naquele momento. Algo natural em VC, ele queria esperar amadurecer o que já tínhamos feito. De certa forma, estávamos livres para decidir como seguir. E decidimos criar algo só nosso.


Mais uma vez, empreender era a palavra de ordem. Saímos da ideia de sermos investidores, de olho em oportunidades, para, efetivamente, nos tornarmos uma gestora de recursos. Essa foi a nossa grande virada. Aprendemos como fazer, gostamos de fazer e caímos para dentro!


No dia a dia com as startups, vimos que esse mercado continuaria a crescer, mas existiam poucos fundos. Enxergamos uma oportunidade de criar um fundo para investidores brasileiros aplicarem seus recursos em startups daqui.


Era o início da nossa travessia na ponte que ligava o mundo do mercado financeiro ao mundo do VC. O nascimento da Domo aconteceu ainda em 2015, quando Rodrigo e eu criamos o conceito da empresa. Em 2016, quando de fato a fundamos, chamamos dois novos sócios: Felipe Andrade e Gabriel Sidi. Em 2017 captamos o primeiro fundo, mas ainda éramos uma startup. Não tínhamos receita que permitisse uma dedicação full-time.


Mas isso começou a mudar em 2019, quando houve a saída da Gympass e vendemos parte da Hotmart. Foi quando tivemos nossa primeira grande liquidez.


Resolvemos criar o fundo do qual sou responsável, o Domo Enterprise, que seria lançado em 2020. Mas já em agosto de 2019 fiz a minha tão suada transição e coloquei os dois pés, definitivamente, na Domo, full-time.


A partir daí as coisas começaram a acontecer para mim. A Domo seguiu crescendo e chegamos a R$ 500 milhões sob nossa gestão, R$ 10 milhões de receita anual e uma equipe de 25 pessoas.


Sabemos que em VC ninguém cresce sozinho. Empreender não é algo que se faça só. Hoje levo esse conceito para o trabalho que realizamos com as startups na Domo.


Cada um desses empreendedores/founders/obcecados/corajosos inovadores tem necessidades diferentes, maneiras diferentes de crescer. Sabemos que é importante ter mais fundos disponíveis, para que mais empreendedores possam ter chance de ter seu negócio financiado.


Pensando o VC no Brasil


Cada vez mais novos players estão entrando nesse mercado em crescimento. Fundos surgem, metodologias são criadas e muito tem sido feito. Mas acredito que ainda existe um déficit em especialização. Ainda estamos num estágio inicial de VC. Mas é assim mesmo que se começa.


Sobre a tese da especialização, vejo um fenômeno que está bem adiantado nos EUA, onde surgem cada vez mais fundos direcionados com teses de equidade de gênero, raça e até fundos específicos com teses de negócios. Uma tendência global de fundos cada vez mais segmentados ao invés de generalistas.


Na Domo seguimos essa tendência de segmentação. Temos um fundo que investe em startups focadas na experiência do consumidor, o fundo Domo Ventures; enquanto outro está focado em B2B, o Domo Enterprise. Já é um belo caminho a percorrer.


Acredito que essa é a oportunidade que o mercado brasileiro tem nas mãos. O nosso próximo passo é a especialização das casas, antigas e tradicionais. Em um momento sem precedentes para o empreendedorismo, o Brasil começa a ganhar destaque como um país que produz inovação, com empresas capazes de competir globalmente. E precisamos abraçar isso com o VC.

É ele que acredita e fomenta esse salto de produção e inovação. É o VC que pode ser o grande propagador de ideias e transformar o número positivo de 10 unicórnios de 2021 em 20, 30, 50, 100 nos próximos anos.
Isso sem falar nas iniciativas que não se tornaram unicórnios, mas empresas consistentes, e a prova de que o VC, especializado e bem executado, é um divisor de águas no crescimento que desejamos para o nosso mercado e para o nosso país.

Nunca falamos tanto sobre investimentos no Brasil. Se você olhar bem, pode ser um passo a mais para a gente aprofundar essa conversa.

Mensalmente nos encontramos por aqui. E semanalmente estou no meu LinkedIn. Sempre com o mesmo objetivo: falar de VC para você. Até a próxima!

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