Segunda maior economia do mundo, a China ligou o sinal de alerta nos últimos meses por conta da desaceleração no consumo interno que fez o país registrar, no ano passado, um crescimento do PIB de 6,6%, o menor índice desde 1990. O resultado tem criado desafios para gigantes chinesas de tecnologia, seja para recuperar o valor de mercado perdido ao longo de 2018, ou fazer frente aos Estados Unidos na guerra comercial focada, principalmente, em países emergentes como Índia e Brasil.
Companhias de grande porte como Alibaba, Tencent, Huawei, Bytedance e Didi Chuxing sofrem atualmente reflexos do grande crescimento obtido nas últimas décadas pela China, que hoje lida com grande dívida por conta de políticas exageradas nos anos de pujança como, por exemplo, os altos investimentos na área de construção. Segundo estimativa do Morgan Stanley, a movimentação de investimentos de risco ao longo deste ano será a menor desde 2015.
“A economia chinesa está seguindo uma tendência natural de desaceleração. As grandes forças que alimentaram a rápida ascensão e a assombrosa taxa de crescimento das últimas décadas, como a composição demográfica e as melhorias na educação, já não são tão notáveis”, comenta o economista peruano Alejandro Ponce, que foi um dos fundadores do Nexus Group e hoje está à frente da Ataria Ventures, voltada a investimentos em inovação.
Se não bastasse a desaceleração do mercado interno, algumas das empresas de tecnologia da China passaram diferentes problemas em 2018. A Huawei e a JD.com tiveram executivos do alto escalão presos por diferentes motivos no Canadá e nos Estados Unidos, respectivamente. A Didi Chuxing, que havia superado a rival Uber no mercado chinês, viu sua imagem se deteriorar depois que dois de seus motoristas estiveram envolvidos em casos de feminicídio. Já as promissoras Xiaomi Corporation e Meituan Dianping perderam bilhões em valor de mercado desde que estrearam na Bolsa de Hong Kong, em meados do ano passado.
“A economia chinesa está seguindo uma tendência natural de desaceleração. Mas é importante ter em mente que, embora as feridas da China prejudiquem a posição de negociação do país, elas não são tão críticas como alguns supõem”.
Alejandro Ponce, economista e investidor da Ataria Ventures
Com este cenário no mercado interno da China, Ponce avalia que o grande desafio para as gigantes de tecnologia do país será manter o ritmo de crescimento internacional, onde têm enfrentado grande concorrência dos Estados Unidos em mercados emergentes como a Índia e o Sudeste Asiático, além de países do Ocidente como o Brasil.
Nesta briga entre as duas maiores economias do mundo, o economista destaca a diferença entre as estratégias de expansão global adotadas pelas potências comerciais. “Enquanto as empresas americanas tenham obtido receita ao replicar seus modelos de negócios em outros países, construindo operações do zero, os chineses estão apostando principalmente em investimentos e aquisições”, diz ele.
Entre os aportes dos chineses no mercado externo estão a aquisição da 99 pela Didi Chuxing, no início do ano passado, e o investimento de US$ 200 milhões que a Tencent na fintech brasileira Nubank. Investidas como essas fazem Ponce alertar para o potencial dos chineses mesmo enfrentando uma desaceleração no consumo interno.
“É importante ter em mente que, embora as feridas da China prejudiquem a posição de negociação do país, elas não são tão críticas como alguns supõem. Embora a previsão de crescimento do PIB para 2019 tenha sido ajustado para baixo, ela permanece acima de 6%, um número ainda notável”, aponta.
Texto: Fábio Vieira