Serviços de conteúdo on demand como os oferecidos por Netflix, Amazon, HBO e Spotify têm se popularizado pela praticidade em curtir um filme ou música a qualquer hora. Melhor ainda, sem precisar pagar caro, nem perder tempo e memória para fazer o download de um arquivo pesado. A explosão do streaming em todo mundo parecia apontar para o fim, ao menos a decadência, da pirataria digital que devora o mercado desde o surgimento dos primeiros serviços peer to peer (P2P), há 20 anos. Quem acompanhou a bolha da Internet em 2000 lembra muito bem o estrago provocado pelo Napster na indústria da música.
Só que nem tudo é perfeito e uma característica das plataformas de streaming tem irritado muitos consumidores: o excesso de exclusividade de seus produtos. Esse fato tem sido apontado por especialistas para a retomada, nos últimos anos, do crescimento da pirataria digital por meio de sistemas P2P como o BitTorrent.
A explicação para essa tendência é que os usuários pagam pela assinatura de uma ou, no máximo, duas plataformas para ter acesso a seus conteúdos exclusivos. Sendo assim, os que optam por assistir séries como House of Cards e Narcos pela Netflix, muitas vezes deixa de acompanhar outras produções de sucesso como Game of Thrones, da HBO, ou Jack Ryan, da Amazon, para as assinaturas não pesarem no bolso ao final do mês. A solução? Piratear os conteúdos de interesse que são protegidos por direitos autorais online.
Usado por piratas, tráfego do BitTorrent
caiu pela metade entre 2011 e 2015,
mas voltou a subir no ano passado
Segundo dados do estudo Global Internet Phenomena Report, realizado pela Sandvine, especializada em monitoramento e análise de tráfego de rede, o compartilhamento de arquivos por meio do sistema BitTorrent voltou a crescer nos últimos anos tendo como impulso o grande número de conteúdos que são exclusivos das plataformas que atuam por streaming.
Em 2015, por exemplo, a participação do BitTorrent no tráfego de rede havia caído para 26,8% após atingir a casa dos 52% quatro anos antes. Hoje, o sistema de compartilhamento de conteúdos voltou a crescer em todo o mundo e já representa mais de 32% na Europa, África e Oriente Médio. “Hoje, fica muito caro para os consumidores terem acesso a todo o conteúdo que é exclusivo dos serviços de streaming. Por isso que eles assinam um ou dois, e pirateiam o resto”, publicou em um blog o vice-presidente de marketing global da Sandvine, Cam Cullen.
Disney+ a caminho
A tendência é que a pirataria de conteúdos digitais continue crescendo nos próximos anos devido ao interesse de novos players em oferecer serviços de streaming. É o caso da Disney, que lançará até o final deste ano seu serviço que abrangerá filmes, séries e musicais que será denominado de Disney+. Além disso, estudos apontam que quase todas as grandes emissoras estarão nesse mercado até 2022.
O aumento da pirataria digital também foi apontado em estudo da Muso, consultoria britânica especializada no rastreamento de conteúdos ilegais, que colocou o mercado brasileiro como o 4º que mais consome pirataria na internet em todo o mundo. Segundo a empresa, ao longo de 2017 foram registrados mais de 300 bilhões de visitas a páginas ilegais. Desse total, o Brasil aparece com 12,7 bilhões de acessos, ficando atrás apenas dos EUA (27,9 bilhões), Rússia (20,6 bilhões) e Índia (17 bilhões).
“A teoria de que o aumento de serviços on demand como Netflix e Spotify tem resolvido os problemas com pirataria não se sustenta. Nossos dados apontam que a pirataria digital está mais popular do que nunca”, afirmou sobre o estudo Andy Chatterley, cofundador e CEO da Muso.
Texto: Fábio Vieira