Corretora de Guilherme Benchimol tem meta de levar educação financeira a 50 milhões de brasileiros e ter metade do time formado por mulheres
Dona de uma das histórias mais celebradas do mundo das finanças, a XP agora pretende usar seu prestígio para estimular toda a cadeia de stakeholders com o modelo ESG.
Foi com esse objetivo estratégico para perenizar seus negócios que, em junho do ano passado, a corretora criou uma diretoria específica para lidar com o tema.
“Queríamos colocar foco e energia numa linha de raciocínio que a gente já vinha tendo há algum tempo. Na medida que entendemos que para estarmos no futuro era preciso ter uma visão integrada dessas três letrinhas e que isso consolidava os interesses do cliente e de colaboradores, embarcamos de vez nessa jornada”, diz Marta Pinheiro, escolhida para liderar a área.
A diretoria ESG atua em mão dupla: ao mesmo tempo em que busca aprimorar os três pilares dentro da própria companhia – que desde 2019 tem ações negociadas na Nasdaq – , enxerga também oportunidades de negócios envolvendo participantes do mercado, como empresas de capital aberto, gestoras independentes de recursos, investidores e potenciais aplicadores em Bolsa de Valores.
Inicialmente, as metas ESG mais ambiciosas da XP envolvem colaboradores e pessoas com pouca ou nenhuma instrução formal e em situação de vulnerabilidade social.
Com o recém-criado Instituto XP, a corretora pretende dar acesso à educação financeira para 50 milhões de brasileiros em dez anos.
Já no que diz respeito a seus funcionários, o objetivo é que, até 2025, metade do time da companhia seja formado por mulheres.
Conheça os sete passos mapeados pela XP para trilhar a jornada ESG.
1 – Inspirar e fomentar o ecossistema
Por ser uma gigante em sua área de atuação – as finanças -, a XP enxerga no ESG muitas oportunidades. De gerar negócios, obter visibilidade e construir reputação a longo prazo.
No quesito governança, por exemplo, a corretora deu um salto nos últimos anos, pois teve o Itaú entre seus maiores sócios e abriu capital na Nasdaq, onde as regras de listagem e transparência são mais pesadas que na bolsa brasileira.
Conhecer toda a cadeia de investimentos – empresas, gestores, investidores e Bolsas -, traz vantagens competitivas e permite que a companhia antecipe tendências, ofereça produtos e serviços demandados pelos diferentes atores do ecossistema.
2 – Modelo dinâmico – tentativa e erro
O modelo ESG ainda é relativamente novo no país.
As empresas, com suas diferentes características, particularidades e dentro de seus setores de atuação, ainda estão no início da jornada. Mas não há tempo a perder. O segmento financeiro, por exemplo, é muito dinâmico e agilidade é fundamental para ganhar espaço.
Com a taxa de juros baixa, o apetite de investidores por títulos de companhias com boas práticas ESG tem crescido. Isso acelerou o ritmo de trabalho da área e a própria criação de produtos verdes pela XP. Essa rapidez, contudo, trouxe erros e aprendizados à tona. “Aqui usamos muito essa dinâmica: faz, erra, corrige rapidamente e segue em frente”, diz a executiva.
3 – A busca por equilíbrio
Um dos grandes desafios de implementar o modelo ESG é equilibrar os três pilares. Para Marta Pinheiro, é natural que, no começo da jornada, as empresas acabem privilegiando determinadas áreas e stakeholders. “Não é um problema, desde que a empresa vá evoluindo nas demais ao longo do tempo. Ninguém começa no estágio da perfeição”, afirma
4 – Ampla prateleira de produtos sustentáveis
A demanda por produtos de investimento verdes é crescente.
O objetivo da XP, em linha com seu perfil agressivo, é participar de todas as frentes como protagonista do mercado: como intermediário de operações, nas emissões das companhias, como distribuidor dos papéis, para investidores institucionais e de varejo, e ainda como gestora de fundos e outros produtos.
Hoje, a corretora oferece cerca de 20 produtos ESG. Entre eles há fundos que investem em empresas com boas práticas e têm como foco investidores do segmento private. Há também opções mais em conta.
5 – Aprender com as novas gerações
A maneira como as novas gerações se relacionam com o meio ambiente, as empresas e as questões de gênero e raça é uma das chaves para compreender quais são e serão seus hábitos de consumo e investimento no futuro. O desafio é ser capaz de entender as demandas e oferecer produtos de investimentos adequados, de forma ágil e eficiente.
A XP também mapeia e pesquisa esse público com os olhos de empregadora, para aprimorar seu ambiente de trabalho e atrair novos talentos.
6 – Democratizar o acesso à educação financeira
Segundo a XP, 70% da população brasileira é composta pelos chamados analfabetos financeiros. São pessoas que enfrentam sérias dificuldades para se planejar financeiramente e, por consequência, muitas vezes, não têm dinheiro sobrando para investir.
A corretora criou recentemente um instituto para enfrentar essa questão de frente. A meta é conseguir dar educação financeira para 50 milhões de brasileiros ao longo dos próximos dez anos. O instituto terá à sua disposição orçamento de R$ 20 milhões em seu primeiro ano de vida.
7 – Equidade de gênero na composição do time
O objetivo principal, nesse tópico, é que, até 2025, a corretora consiga ter metade do seu time de colaboradores formado por mulheres. Hoje, essa fatia é de apenas 27%. Na liderança, o quadro é ainda pior. Atualmente, Marta é a única representante feminina na diretoria da corretora.
Há, fora isso, outras metas relativas à diversidade e à inclusão de negros e LGBTs na equipe.
Texto: Luciano Feltrin
Imagens: reprodução