Em discurso anti-polarização, Luiza Helena Trajano, da Magalu, diz no Jantar do Ano, do Experience Club, que sociedade civil organizada precisa participar mais ativamente da política
A sociedade civil organizada, com a participação de diversas empresas e empresários, teve papel fundamental durante a pandemia. As doações e ações coordenadas promovidas por ela ajudaram na distribuição de alimentos, no reforço da infraestrutura de saúde e, principalmente, na aceleração do processo de vacinação. Foi uma mostra da força que atores fora da política partidária tradicional podem ter. Mas, para reduzir a desigualdade acentuada pela pandemia, unir o país dividido pelas disputas políticas recentes e resgatar o orgulho dos brasileiros em meio à crise, será preciso um esforço mais consistente e estruturado, de longo prazo, que passe inclusive pelo resgate de símbolos nacionais.
Esta foi, em síntese, a tônica do debate realizado no Jantar do Ano, do Experience Club, na noite desta segunda-feira, dia 13. “Eu nunca vi um país se transformar sem uma sociedade civil organizada em torno de um projeto”, disse Luiza Helena Trajano, presidente do conselho de administração do Magazine Luiza. Ela dividiu o palco com o publicitário Nizan Guanaes; o diretor de filmes Konrad Dantas (KondZilla), e o presidente do conselho de administração da Ânima, Daniel Castanho.
Apesar da necessidade de aproximação da sociedade civil organizada do debate político, na visão da presidente do conselho de administração da Magalu, a transformação do Brasil não depende da participação de empresários na política partidária. Segundo ela, há outras formas de se ter protagonismo no debate no país. “Eu não sou nem serei candidata a nada. Mas faço política através do grupo Mulheres do Brasil”, disse.
O importante, no momento, avalia, é acabar com a polarização política, “com a qual, hoje, todos perdem”, ajudar a gerar empregos e contribuir com o debate sobre o que o país precisa. “Não temos que ficar entre esquerda, direita e centro. Temos que criar um projeto para o Brasil”.
Educação e dignidade
Um projeto de país, na avaliação de Castanho, passa necessariamente pela educação. Através dela, disse, as pessoas podem se tornar livres, realmente independentes, e não só sobreviver, mas também “sonhar”.
Para Dantas, dono de um canal no YouTube com 65 milhões inscritos, boa parte deles jovens de periferia, ter um sonho é, de fato, importante e foi algo determinante em sua trajetória. Ainda muito jovem, o diretor perdeu a mãe. Com o dinheiro de um seguro de vida deixado por ela, comprou uma câmera, estudou e apostou tudo na ideia de fazer os vídeos de funkeiros pelos quais ficou mundialmente famoso. Mas, diz, “nem todo mundo tem a oportunidade de sonhar, por causa da fome”.
“Eu achei que o dinheiro que recebi da minha mãe fosse o suficiente para terminar os estudos. Mas depois percebi que só pude manter o meu sonho vivo porque recebi uma pensão por morte do governo, que me permitiu comprar comida para o meu lar até os 21 anos”, disse. “Então, eu fico fazendo o exercício. Já que educação é acesso, como dar acesso para mais pessoas também poderem sonhar?”
Orgulho perdido
Um sintoma da situação atual, de pouco engajamento de muitos brasileiros com o país, na avaliação de Guanaes, é a falta de atenção dada a datas históricas e símbolos nacionais. “Quantos de vocês planejaram a participação da sua empresa nas comemorações dos 200 anos de nosso país? Eu conto nos dedos”, disse Guanaes, em referência ao aniversário da Independência, em 2022. “A gente não pode se confundir e ficar achando que o Brasil é uma porcaria. Temos que celebrar o Brasil, mas celebrar de uma forma afirmativa”.
No fim das contas, o que falta, de acordo com Luiza, é ação. “Se a gente já conhece a doença, porque não faz o que é preciso? ”Vamos nos unir em torno de políticas públicas para mudar esse país”, disse.
O Jantar do Ano foi realizado ontem no Tom Brasil, em São Paulo, para 500 pessoas e contou com Patrocínio Master de Ambipar, IBM e Vivo Empresas, e Patrocínio Premium de CI&T, Oracle, Swile.