Há dois anos com escritório no Brasil, The Bakery é uma consultoria britânica que atua no “match” entre startups e grandes empresas para implementar culturas mais inovadoras dentro das organizações. Principal atração do CIO Lab que o Experience Club realizou em 10 de abril, na Casa Charlô, em São Paulo, Andrew Humphries falou conosco sobre a filosofia de trabalho da The Bakery.
Experience Club – Você conhece bem o mercado brasileiro de inovação. Qual é a sua percepção? De um tempo para cá, criamos até nossos próprios unicórnios.
Andrew Humphries – Eu tenho vindo ao Brasil regularmente por dez anos. Na média, são quatro ou cinco visitas por ano. Vocês têm uma cultura de inovação muito forte e, de certa forma, até similar com a que temos aqui na Inglaterra. Até pouco tempo atrás o normal era fazer uma carreira de engenharia ou direito, mas as pessoas começaram a buscar coisas diferentes, tanto aqui como aí no Brasil. É uma cultura empreendedora. Nesse tempo todo, eu vejo que nos últimos cinco ou seis anos surgiu um ecossistema de investimentos bem mais sólido no mercado brasileiro. Como você comentou, algumas empresas cresceram muito e não atendem apenas ao mercado local. São startups que estão conseguindo se internacionalizar, isso é muito importante.
A missão da The Bakery é fazer a conexão entre startups e as empresas tradicionais, digamos assim. Comparado com Reino Unido e a Europa, em que estágio o Brasil se encontra nessa relação?
No geral, diria que o Brasil está um pouco atrás, mas não muito. Uns dois anos, talvez. Mas a verdade é que a maioria das empresas no mundo está abaixo da curva [do que seria a ideal em termos de inovação]. No caso do Brasil, nós percebemos que existe um ambiente privado muito forte, de grandes empresas da economia tradicional que estão sendo administradas da mesma maneira nos últimos trinta ou quarenta anos. Em muitos casos são empresas familiares que estão chegando à sua terceira geração. O saldo positivo é que essas empresas têm consciência disso e querem mudar. Elas querem se abrir para a transformação digital e mudar a maneira de pensar. Elas querem se relacionar mais com as startups e não só do Brasil, mas do mundo todo. Esse foi um dos principais motivos que nos levou a abrir uma unidade da The Bakery no Brasil. Vemos muito potencial no mercado.
Um número muito grande de empresas tem dificuldade em se relacionar com startups. É comum comprar ou acelerar uma jovem empresa, mas o time fica segregado dentro da organização. Há um receio de contaminação cruzada pelos dois lados do processo. Essa aversão à mudança é mais forte no Brasil?
No mundo todo as empresas estão convivendo com esse dilema. Mas no Brasil, de fato, eu percebo que os CIOs e os CEOs tendem a ser um pouco mais conservadores. É preciso levar em conta que os executivos são preparados para minimizar os riscos. Os times digitais precisam trazer muito mais inovação para as empresas. A gente acredita, então, que o CIO e os times digitais precisam cada vez mais ser os agentes da inovação. Ele tem que agir mais como um “Chief Innovation Officer”, assim como o CEO deve agir muito mais como um “Chief Entrepreneurial Officer”. Na The Bakery, nós propomos um plano de inovação continuada, é um processo de leva uns cinco anos para amadurecer de fato. As lideranças corporativas precisam aprender a tomar riscos controlados e evoluir passo a passo. Primeiro identificar as necessidades, buscar ideias, trazer startups para a organização, assim por diante.
Texto: Arnaldo Comin
Foto: The Bakery