Na edição da sua prova de resiliência, SXSW tenta trazer para o presente o enorme otimismo prometido pela tecnologia nos últimos anos
Por Ricardo Natale
Já faz um bom tempo que venho visitando diversos festivais e eventos internacionais e acompanhando as discussões em torno das grandes possibilidades trazidas pelas tecnologias disruptivas. Agora, vejo que é chegado o momento em que as empresas e seus líderes precisam avaliar com pragmatismo o que conseguem extrair de concreto dessas oportunidades para o bem de seus negócios.
Quais das suas mais ambiciosas metas já deixaram o estado onírico para tornar-se realidade? Quais dos seus grandes sonhos você está conseguindo colocar em prática, sem o risco de incorrer em um delírio tecnológico ou uma expectativa tão futurista quanto distante do mundo em que vivemos?
A edição 2022 do festival SXSW, que se realiza de 11 a 20 de março na cidade texana de Austin, nos Estados Unidos, traz algumas apresentações que vêm a calhar sobre o que estou questionando aqui. Aproveito para apontar temas e palestrantes de destaque deste ano.
1. Moonshot hoje
Nora Ali, uma das apresentadoras do podcast Business Casual, fará a apresentação “Chasing Moonshots & Bringing the Future to Today” (Perseguindo Moonshots e Trazendo o Futuro para Hoje). No destaque, ela entrevistará Marc Lore, fundador e presidente da Wonder e um dos proprietários do Minnesota Timberwolves e do Minnesota Lynx. Esta sessão vai explorar como a visão, o capital e as pessoas podem unir-se para ter ousadas ideias, de carros voadores ao maior sonho de Lore, uma nova cidade que ele está construindo do zero para testar um novo modelo econômico para a sociedade.
Scott Galloway, “o profeta do Vale do Silício”, professor de marketing da NYU’s Stern School of Business e empreendedor serial, é um dos nomes esperados para falar sobre crescimento acelerado, turnaround e novos modelos de negócios. Seus podcasts sobre “Pivot Business” se tornaram uma das referências mais importantes do mundo do marketing dos últimos anos.
2. Transformação pelo design
Na palestra “Design Leadership: Creativity Driving Business” (Liderança em Design: Criatividade Impulsionando Negócios), a gerente geral de design da IBM, Katrina Alcorn; a cofundadora e CEO da Tech Talk Studio, Christie Dames, e a diretora de laboratório da D-Ford, Sandy Fershee, vão compartilhar insights de liderança na transformação organizacional e a criatividade para liberar ação, desbloquear o talento e o potencial pessoal para encarar os desafios impostos ao ambiente dos negócios que se estenderão além da pandemia.
3. Metaverso, nós e as redes sociais
Para quem quer se aprofundar nas discussões sobre o tempo que passamos nas redes sociais, será interessante acompanhar o que dirá Tristan Harris, ex-Google e hoje presidente do Center for Humane Technology. Ele passou sua carreira estudando como as principais plataformas de tecnologia se tornaram cada vez mais o tecido social pelo qual vivemos e pensamos, exercendo um poder perigoso sobre nossa capacidade de entender o mundo. Foi um dos entrevistados do documentário “The Social Dilemma”, da Netflix, que revelou as maquinações ocultas por trás das mídias sociais. O ficcionista Neal Stephenson — a quem se atribui a origem do termo metaverso — consta na programação como um dos palestrantes do evento, que ainda inclui entre suas discussões diversas abordagens de ESG, educação, mentoria, entre vários outros segmentos. A concepção original do metaverso vem do mundo imaginado por Stephenson no livro “Snow Crash” e seu herói hacker Hiro Protagonist, no qual a convergência de inúmeras tecnologias, como realidade virtual e realidade aumentada, torna cada vez mais tênue a linha entre a vida digital e a real.
4. Economia de dados e Web 3.0
Com o mundo em um ponto de virada crucial que moldará os próximos 50 anos da economia de dados, Alex Kantrowitz, fundador da Big Technology, e Jim McKelvey, cofundador da Block (antes chamada de Square), vão discutir como uma economia que prioriza as pessoas dará mais transparência e eficiência tanto às empresas quanto à população. Será na conferência The Future of The Data Economy: Putting People First (O Futuro da Economia de Dados: Colocando as Pessoas em Primeiro Lugar).
Se você percorreu o Twitter, provavelmente já viu uma infinidade de macacos, leões e zumbis de desenhos animados. Essas novas fotos de perfil (ou PFPs) são NFTs exclusivas verificadas como a nova identidade digital das pessoas. O Blockchain Creative Labs (BCL) vai explicar melhor tudo isso para você, bem como sobre Web3, no SXSW deste ano.
O BCL fez uma parceria com o programa The Masked Singer para lançar o The MaskVerse , uma comunidade para os fãs comprarem, venderem e trocarem colecionáveis digitais exclusivos. Este ano, o SXSW cunhará seu primeiro NFT e a comunidade poderá tokenizar seu trabalho usando a tecnologia do BCL.
5. O futuro do entretenimento
Peter Moore, vice-presidente sênior de esportes e entretenimento ao vivo da Unity e ex-CEO do Liverpool FC, discorrerá sobre como a fusão dos mundos físico e virtual, acelerada pela pandemia, está oferecendo aos artistas e fãs uma experiência e uma chance de conexão elevada, personalizada e gamificada. Ele mostrará como a tecnologia da próxima geração mudará a maneira como participamos da música e dos eventos ao vivo no futuro e oferecerá uma prévia dessa nova interatividade para entretenimento ao vivo que os consumidores não podem experimentar devido a fatores geográficos, monetários e outros.
Outra sessão que destacará o tema entretenimento será apresentada por Beeple e Laurie Segall. Beeple é Mike Winkelmann, um designer gráfico de Charleston, na Carolina do Sul, EUA, que faz uma variedade de obras de arte digitais, incluindo curtas-metragens e trabalhos diários em realidade virtual e realidade aumentada. Ele cria uma imagem todos os dias, do início ao fim, e a publica on-line há mais de dez anos, ininterruptamente. Laurie Segall é a fundadora da Dot Dot Dot, uma empresa de mídia focada em integrar o mainstream em uma nova era da internet, a Web3. É também uma jornalista premiada que entrevistou os líderes de tecnologia mais influentes do mundo, incluindo Mark Zuckerberg (Facebook) e Tim Cook (Apple).
6. O que esperar de 2050
A sessão 2050 Track do SXSW deste ano é o lar do pensamento de longo alcance e visão geral que ultrapassa os limites do que é humanamente possível, mostrando como o pensamento inovador pode ser uma força para mudanças positivas em nosso mundo conturbado. Os tópicos incluem extensão radical da vida, física quântica, biologia sintética, nanotecnologia, inteligência artificial, agricultura de última geração, interfaces homem-computador e as potencialidades da cannabis, considerada a penicilina do século XXI.
Finalmente, para ficar antenado com o que vem por aí em termos de tendências em 2022, é bom não perder a conferência da futurista Amy Webb. Ela lançará no festival a 15ª edição do Tech Trends Report, do Future Today Institute, e fornecerá uma análise orientada por dados para as tendências tecnológicas emergentes que precisam estar no seu radar este ano. Ao final da sessão, será possível receber uma edição especial do SXSW do Tech Trend Report, que é baixado 1 milhão de vezes por ano.
Considerado o maior festival de inovação do mundo, o SXSW (South By Southwest, que nasceu como um festival de música em 1987) não foi realizado em 2020. A edição teve de ser cancelada em decorrência da eclosão da pandemia de covid-19. Em 2021, a organização do evento optou por uma versão exclusivamente digital. Em 2022, será híbrido, presencial e online, e terá pela frente sua prova de resiliência para manter sua relevância como palco de vanguarda tecno-cultural nestes tempos de esperada pós-pandemia.
O teste também valerá para Austin, a cidade que o sedia, que há alguns anos vinha sendo chamada de a capital da economia criativa — mesmo estando fora do Vale do Silício —, porém já enfrenta a concorrência de outras localidades, como Miami, que vem sendo escolhida por muitas startups como ambiente ideal para desenvolver sua criatividade. Seja com insights da próxima edição do SXSW, seja por exigência de mercado, convém refletir se as missões que você impôs aos seus negócios com base nas promessas tecnológicas são realmente factíveis, ou tornaram-se objetivos tão distantes — e inalcançáveis — quanto a Lua.
Para saber mais sobre processos criativos, acesse agora nosso novo Report “As cinco habilidades essenciais para inovar”, com a visão de escolas de negócios de vanguarda. Acompanhe também o crescimento do mercado de Miami e acesse o conteúdo completo do Experience Club US. Inscreva-se:
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