Scipopulis, plataforma para a gestão da mobilidade urbana com atuação em SP, Rio, BH e outras 12 cidades do Brasil e do mundo, é finalista do desafio Climate Smart Cities 2022, da ONU-Habitat
Os intensos protestos populares contra o aumento da tarifa do transporte público no Brasil, em 2013, foram um forte sinal para Roberto Speicys, CEO e fundador da govtech Scipopulis, que morava em Paris na ocasião. Após finalizar seu doutorado em computação na capital francesa, ele havia aberto uma empresa na área de mobilidade em transporte público. Oferecia um aplicativo que estimulava a troca de informação entre os passageiros sobre eventuais problemas no fluxo do transporte parisiense. Impulsionado pelos acontecimentos no Brasil, porém, o executivo entendeu que seu país de origem precisava muito mais do que a França de negócios que auxiliassem na mobilidade urbana, e uniu-se a três sócios brasileiros para lançar a Scipopulis – os sócios são os doutores em computação Julian Monteiro e Marcio Cabral, e o doutor em urbanismo Ivo Pons.
Inicialmente, a empresa começou com a oferta de um aplicativo para o cidadão, nos mesmos moldes da proposta desenvolvida anteriormente na França. Mas logo os fundadores se conectaram com gestores públicos da cidade de SP, que precisavam justamente de inteligência de dados para ajudá-los na tomada de decisões baseadas em evidências — em especial por causa do momento turbulento, com as manifestações sociais. Foi quando a Scipopulis pivotou seu modelo de negócio para o B2G (empresa para governo, na sigla em inglês), não só pela oportunidade que surgiu, como também pela melhor viabilidade de monetização.
Hoje, o que a plataforma da empresa faz é auxiliar os gestores públicos a monitorar, planejar e avaliar o impacto de mudanças na rede de ônibus. O processo é todo automatizado usando técnicas de big data e inteligência artificial para o cruzamento de informações de fontes diferentes sobre mobilidade.
Um exemplo concreto de como essa inteligência de dados é usada para a tomada de decisões é a faixa exclusiva de ônibus na Rua Giovanni Gronchi, no Morumbi, zona sul de São Paulo. Apesar dos intensos protestos de motoristas de automóveis contra a criação do corredor, o sistema conseguiu provar que o número de pessoas impactadas pela mudança era expressivamente maior do que o número de usuários de veículos particulares. A decisão foi mantida e a população que usa ônibus teve uma redução média de 30 minutos no tempo de viagem. Segundo Speicys, a mesma inteligência foi essencial para as decisões de mobilidade tomadas durante a pandemia de covid-19, considerando o fluxo dos passageiros, a necessidade de distanciamento social e o deslocamento da população.
Impacto no Meio Ambiente
Outra frente em que a empresa atua é a de monitoramento de emissão de transporte público, apoiando a transição do sistema de transporte para o uso de energias menos poluentes. “Desenvolvemos um modelo de monitoramento de emissão de poluentes baseado na velocidade do ônibus, na tecnologia veicular e em outras variáveis, para mensurar e estabelecer metas de redução”, diz Speicys.
Embora não exista uma política nacional de redução de emissão de poluentes, a cidade de São Paulo estabeleceu metas para 10 e 20 anos, a partir de 2018. O objetivo é zerar emissões poluentes vindas do transporte público até 2038. Para chegar ao resultado no prazo estabelecido em contrato, as empresas têm trabalhado em um percentual de redução anual, por meio da troca de ônibus a diesel por elétricos.
Fique ligado:
- A Scipopulis faz parte de um mercado ainda relativamente novo e pouco explorado por startups no Brasil, o do poder público.
- A partir de um serviço desenhado para um público, é possível criar soluções para outros segmento de mercado, muitas vezes com maior potencial de receita.
- É do uso criativo de dados de diversas fontes, com o auxílio de ferramentas como big data e inteligência artifical, que dará origem às cidades inteligentes.
Foi com esse sistema que a Scipopulis foi escolhida como uma das 45 empresas finalistas do Climate Smart Cities Challenge 2022, desafio promovido pela ONU-Habitat, em parceria com o governo da Suécia. A disputa é parte da Expo Dubai 2022, que convidou organizações de todo o mundo a apresentarem no evento suas melhores abordagens, soluções e tecnologias para reduzir as emissões de carbono e gerar impactos positivos na qualidade de vida nas cidades.
A Scipopulis está associada ao projeto desenvolvido em Bogotá, na Colômbia, com a Trancity, plataforma que converte grandes bancos de dados operacionais de transporte coletivo em mapas e gráficos para auxiliar na gestão de mobilidade urbana. O sistema pode ser usado para avaliar o impacto ambiental das faixas de ônibus, o tempo de viagem que elas economizam e para estimar a quantidade de energia da bateria necessária para operar uma frota elétrica.
“A cidade de Bogotá é uma das referências em transporte público na América Latina. Eles implementaram lá o Transmilênio, um sistema de BRT pioneiro, que foi responsável por revolucionar o transporte público da cidade, estruturando as linhas de ônibus e racionalizando o sistema”, afirma Speicys.
A próxima etapa do desafio acontece em junho de 2022. É quando até quatro equipes vencedoras serão anunciadas no Fórum Urbano Mundial em Katowice, na Polônia. As vencedoras receberão 100 mil euros cada, em uma fase de implantação para demonstração das soluções nas cidades, em 2023.
Aquisição pela Green4T
A startup foi criada com capital próprio dos sócios e, no início, obteve financiamento do PIPE-Fapesp (Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo). Para impulsionar o crescimento, havia duas possibilidades: capital de risco ou aquisição. Foi quando decidiram vender o negócio para a Green4T, empresa brasileira de soluções de tecnologia e infraestrutura digital. Hoje, como empresa do grupo, a startup mantém a independência na gestão e usufrui do back-office corporativo para apoiar processos administrativos, jurídicos e comerciais.
“Após a aquisição, expandimos nossa atuação, antes focada apenas na cidade de São Paulo. Hoje, atendemos 15 cidades, entre elas Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Florianópolis, Teresina, Jundiaí, São José do Rio Preto e Bragança Paulista, no Brasil, além de Santiago, no Chile, Montevidéu, no Uruguai, e três cidades na Lituânia”, diz Speicys.
Atualmente, a startup conta com doze colaboradores dedicadas exclusivamente ao desenvolvimento de produto – desenvolvedores, designers de informação, urbanistas e gestores públicos. Por fazer parte do grupo Green4T, a empresa não divulga resultados financeiros.
Fotos: divulgação e AlfRibeiro / Adobe Stock
Texto: