Thomas Law, presidente do Ibrachina e fundador do hub de inovação Ibrawork, mostra como São Paulo pode usar sua vocação de polo gastronômico e cultural para transformar a região do Mercado Municipal em hub de inovação
Fique ligado:
- Grupo de trabalho recém-criado discute os desafios e as ações para transformar São Paulo em uma cidade mais inteligente até 2030
- A construção de smart cities não envolve somente a aplicação de inovações tecnológicas. Ideias aparentemente simples podem ser executadas para revitalizar e promover os espaços públicos
- Iniciativas envolvem fomento à criação e intercâmbio de hubs de startups, que podem desenvolver soluções, inclusive, digitais para as cidades
Sempre que o termo Cidades Inteligentes vem à tona é comum que se pense num espaço público hipertecnológico e conectado, com robôs e Inteligência Artificial, visíveis ou não aos olhos da população, espalhados por toda a parte.
Claro que, até por definição, a utilização de Tecnologia é ponto central para viabilizar uma Smart City.
No entanto ir da imaginação à prática requer superar muitos outros obstáculos. Entre eles estão criar uma agenda conjunta e articular diálogos e ações entre os diferentes agentes envolvidos.
“Esse tema mira na Lua, mas é preciso, antes, conhecer as carências e particularidades de cada país e cidade”, aponta o especialista Thomas Law, presidente do Instituto Sociocultural Brasil-China (Ibrachina) e fundador do hub de inovação Ibrawork.
O primeiro tem como finalidade promover a integração entre Brasil, China e países que falam a língua portuguesa.
Já o Ibrawork é um centro de inovação com foco em smarts cities. Oferece apoio à criação de incubadoras e startups e programas de aceleração, assim como a promoção de hackathons, pesquisa e desenvolvimento.
As duas entidades integram, junto com representantes dos poderes público, privado, da sociedade civil e de universidades, o recém-criado Grupo de Trabalho São Paulo 2030, uma visão de futuro.
Nesta entrevista ao EXP, Thomas Law, o advogado, neto e filho de chineses, sugere que duas conhecidas vocações da maior metrópole da América do Sul – gastronomia e Cultura -, podem, combinadas com um plano de revitalização do Centro, tornar a Cidade bem mais inteligente.
Estamos utilizando drones, Metaverso e realidade aumentada para pesquisar a região
1 – Engajar os stakeholders
“Queremos cidades inteligentes, mas há 20 milhões de brasileiros passando fome. Temos problemas de infraestrutura, saneamento básico.”
“Nosso movimento reúne startups, parlamentares, o Executivo brasileiro, o Executivo de São Paulo, por exemplo, arquitetos responsáveis por intervenções urbanos e outros players.”
“Além de políticos e empresários, estamos trazendo também as universidades, como a Escola da Cidade.“
“A Escola da Cidade desenhou o Sesc ao lado do Mercadão e está liderando um projeto de revitalização da cidade.”
2 – Aceleração digital
“Semanas atrás fizemos um Ibrachina Challenge, evento que acelera startups, e agregamos startups voltadas para NFT, blockchain, Metaverso e cripto.”
“Nossa experiência em juntar várias startups nesse segmento mostrou que existe ainda uma lacuna muito grande no País sobre esses temas.”
“A startup premiada foi para Miami, no maior evento de Bitcoin Conference, e tratou de um assunto muito importante: a tokenização de imóveis.”
“Você pode comprar uma fração de um imóvel dessa forma.”
“Um ponto no qual houve um salto muito grande na China, quando se trata de cidades inteligentes, é que eles saíram da moeda e não foram para o cartão. Foram direto para o wallet.”
“O maior unicórnio que há lá é o Tencent, que criou mecanismos de compra com moedas digitais.”
“A China rejeitou o Bitcoin, mas criou sua própria moeda, com carimbo do Banco Central.”
“O Brasil não pode ficar fora desse movimento.”
3 – Internacionalização de startups
“Precisamos adotar políticas para trazer as startups de fora para dentro. As brasileiras indo para fora e as estrangeiras trazendo soluções para cá.”
“São Paulo, claro, tem seus unicórnios e polos. Mas, cada vez mais, é preciso espalhar isso para o Brasil.”
“O Cimatec (Centro Integrado de Manufatura e Tecnologia) na Bahia é um hub interessante.”
“Porto Alegre está se tornando um hub de startups. Houve uma transformação por lá, envolvendo o setor privado e os agentes públicos.”
“Outro lugar que eu vejo como um grande polo de startups é belo Horizonte. Politicamente dizendo, eles pegaram o Marco Legal das startups e o adequaram em nível estadual e municipal.”
“São locais no Brasil que estão seguindo a tendência de incentivar soluções tecnológicas.”
4 – Revitalizar e habitar o centro e áreas degradadas
“Vou pegar o exemplo de Lisboa. O próprio Centro da cidade foi revitalizado. Os subprefeitos das regiões começaram a despachar em áreas degradadas. Mudavam o gabinete com frequência.”
“Com isso, as regiões ganharam movimento, comércios, habitações.”
“Um policiamento preventivo, por parte da Polícia Militar, é importante para dar a sensação de segurança à região.”
“Há boas ações sendo feitas para viabilizar isso no Centro de São Paulo, mas é preciso que exista vontade política para tornar isso mais concreto.”
5 – Redução de entraves burocráticos para investidores
“É preciso tirar o duplo risco de investir no Brasil. Um exemplo: a CCCC (China Communications Construction Company), que está construindo o porto no Maranhão. O CEO me disse que é necessário fazer duas operações: transformar reais em dólares e converter na moeda chinesa. Isso gera gastos e ineficiência.”
“Para o futuro próximo, não muito distante, será importante aprimorar trocas financeiras como estímulo ao investimento estrangeiro.”
6 – Mobilidade
“Há empresas que utilizam aplicativos para estimular funcionários a caminhar, dando prêmios em dinheiro pela quantidade de passos.”
“Ou seja, a empresa estimula o funcionário à prática de caminhadas para evitar que ele fique doente.”
“O outro lado é que esse tipo de ação também tem impactos positivos sobre a mobilidade urbana.”
“As regiões também ganharam novos espaços culturais e praças.”
7 – Gastronomia/Cultura
“Um dos objetivos da revitalização do Mercadão (Mercado Municipal de São Paulo) é permitir que uma área, hoje degradada, seja utilizada por pequenos produtores rurais. Eles poderão expor seus produtos ali.”
“Um dos objetivos, inspirado no que foi feito em mercados europeus, como La Boqueria, em Barcelona, é reformar o local e estimular uma economia circular na região.”
“Pensamos num pacto de inovação e desenvolvimento urbano, econômico e social, pensando na pauta de food to save (consumo consciente) e segurança alimentar.”
“Podem se envolver nesse projeto não só as startups voltadas aos restaurantes, mas também considerando, por exemplo, intercâmbio entre chefs espanhóis e brasileiros.”
“Esse projeto consideraria o Mercadão e todo seu entorno como um hub.”
“Na Espanha, existem políticas públicas nesse sentido, com associações e sindicatos que defendem os interesses dos mercados municipales.”
“O Projeto de Lei 976, que trata das cidades inteligentes e prevê uma política nacional sobre o tema, não aborda com clareza uma possível integração com cidades de outros países.”
“O Brasil precisa receber, cada vez mais, grandes eventos internacionais sobre cidades inteligentes.”
Imagens: Divulgação, Freepik
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