Categories

Most Viewed

Por que Abaporu é um símbolo de inovação do modernismo brasileiro?

Não é por acaso que as filas estão dobrando quarteirões nos últimos dias no entorno do MASP. Passados mais de vinte anos de sua “expatriação”, uma das obras mais marcantes do modernismo brasileiro está de volta para uma temporada no Museu de Arte Moderna de São Paulo para a exposição Tarsila Popular.

Composta por 92 obras, a grande estrela é Abaporu, o quadro que praticamente se tornou símbolo da arte moderna brasileira. Exposto quase como uma “Monalisa” no Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires, é a obra brasileira mais valiosa no mercado mundial, com preço estimado em US$ 40 milhões.

Mas por que o quadro ganhou tamanha relevância, tornando-se um símbolo de inovação e inquietude de uma geração inteira de grandes artistas? Uma das explicações é a capacidade de Abaporu dialogar com diversas referências e trazer múltiplas leituras do seu significado artístico.

Comprado por colecionador argentino em 1995, quadro é avaliado em US$ 40 milhões.

Em janeiro de 1928, a obra foi oferecida por Tarsila como presente de aniversário ao pintor e então marido da artista, Oswald de Andrade. O quadro em óleo sobre tela foi o ponto de partida do Movimento Antropofágico, que colocou o Brasil no mapa dos acontecimentos artísticos mais importantes de sua época. Como pano de fundo, a proposta de deglutir as referências estrangeiras nas entranhas da cultura brasileira. Pode parecer banal, mas o movimento foi totalmente disruptivo na época, tendo Abaporu como um de seus estandartes.

Na visão de críticos, trata-se de uma obra que dialogou com as principais características do movimento modernista de 1922 e com momentos anteriores da artista. Principalmente a fase que ficou conhecida como Pau Brasil (1924-1928), quando Tarsila viajou pelo interior do país e passou a mesclar paisagens rurais e urbanas com técnicas do cubismo que havia aprendido em Paris. Estava acesa a centelha antropofágica.

Movimento Antropofágico foi totalmente disruptivo para a época e teve Abaporu como um dos seus estandartes.

O Abaporu apresentou uma série de rupturas tanto na forma quanto na leitura da origem e no entendimento do povo brasileiro. Ainda hoje segue sendo objeto de reflexão e de releituras, como coloca a crítica de artes Maria Hirszman para o Experience Club. “Algumas obras se tornam tão imantadas na história da arte, adquirindo tantas camadas de leitura, que se transformam em um símbolo. O Abaporu tem essa caraterística e, por conta disso, continua sendo atual e objeto de reflexão da arte e da cultura brasileiras”.

Releituras de Brumadinho

Hirszman destaca a atualidade de Abaporu e menciona como exemplo uma obra exposta recentemente na SP-Arte do artista e ativista Mundano, fundador do movimento #PimpMyCarroça e do aplicativo #Cataki. O trabalho feito este ano e batizado de “Abaporuopeba” (à dir, ao lado do orginal) é uma releitura de Tarsila e de seu Abaporu, no qual o artista utiliza como matéria-prima lama tóxica retirada do Rio Paraopeba em Brumadinho. “É impossível pensar o nosso tempo sem entender de onde viemos. Por isso, evocar obras de arte tão significativas faz todo sentido”, diz.

“Abaporu continua sendo atual e objeto de reflexão da arte e da cultura brasileiras”. [autor]Maria Hirszman, crítica de artes[/autor]

Interessante lembrar a epopeia do destino do Abaporu. A obra, que desde 1985 pertencia ao empresário brasileiro Raul Forbes, foi vendida em um leilão em 1995 ao colecionador argentino Eduardo Costantini por US$ 2,5 milhões. “Na época, isso foi considerado como uma espécie de derrota não só de mercado, mas cultural. Uma sensação de vazio e de que a cultura brasileira não é tão valorizada. Com as nossas obras espalhadas por aí fica mais difícil de aprofundar o estudo delas”. 

Desde que Costantini adquiriu a tela, ela foi exposta algumas vezes no Brasil. Durante os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, o quadro esteve no Museu de Arte do Rio (MAR) na exposição “A Cor do Brasil”. Três anos depois, a obra está novamente de passagem por aqui e pela primeira vez no MASP em uma exposição que começou no dia 05 de abril e vai até 28 de julho. Vale a pena a visita, mesmo com fila.

Texto: Luana Dalmolin

Imagens: Reprodução (Site oficial com o Portfólio de Tarsila do Amaral e Twitter oficial do artista Mundano)

    Leave Your Comment

    Your email address will not be published.*

    Header Ad