Fundada em 2017 pelo CEO Andrew Parker a partir de uma necessidade familiar, startup tem como propósito ajudar a curar a “epidemia de solidão” que afeta população mais velha nos EUA
Quanto vale uma empresa que tem como propósito ajudar idosos a encontrar pessoas para lhes fazer companhia e ajudar em tarefas domésticas, conversar e reduzir o impacto da solidão? Para alguns dos maiores fundos de venture capital globais, cerca de US$ 1,4 bilhão. Este é o valor de mercado que a startup Papa, com sede em Miami, atingiu com aporte de US$ 150 milhões, anunciado no início de novembro e liderado pelo SoftBank Vision Fund 2 e com participação da TCG, Tiger Global Management, Canaan, Initialized Capital e Seven Seven Six.
A Papa é uma empresa de saúde digital que, diferente de outras startups que atuam na área, não faz o match de idosos com profissionais de saúde, como médicos ou enfermeiros, mas com cuidadores responsáveis por atividades não-médicas, os Papa pals. Segundo o CEO e fundador Andrew Parker, a missão da startup é ajudar a curar a “epidemia de solidão” que afeta a população adulta idosa nos Estados Unidos.
A ideia surgiu a partir da experiência pessoal de Parker, em 2017, quando ele cuidava do avô. Ao encontrar um estudante universitário da região para ajudar o avô nas atividades diárias e fazer companhia, o empreendedor percebeu que ali havia uma lacuna de mercado a ser preenchida. “É outra forma de proporcionar uma rede de cuidados na forma de companhia e aliviar um sistema já tenso”, explica o CEO.
A demanda por cuidadores com este perfil é gigantesca – e geralmente atendida por estudantes, que ajudam em atividades sociais, no lar, na alfabetização tecnológica e também no transporte local. No início, pela dificuldade de encontrar pessoas capazes de cuidar dos idosos, o próprio Andrew é quem fazia as visitas: “você aprende muito quando faz isso. A saúde requer tecnologia e as pessoas certas. Sem uma, a outra não funciona”.
Os serviços são oferecidos por meio de planos de saúde, não diretamente ao consumidor: até o momento, a Papa tem parceria com 65 planos de saúde em todos os 50 estados. De acordo com Parker, a startup cresce anualmente a taxas superiores a 300%.
O propósito da Papa tem encantado fundos de investimento, que já aportaram US$ 240 milhões na empresa, que hoje conta com mais de 500 funcionários e se tornou o mais novo unicórnio da cena tech de Miami. “A solidão entre adultos mais velhos é um dos maiores desafios de saúde pública e cria um custo humano e econômico esmagador. A empresa está usando a tecnologia para oferecer companhia e apoio para quem mais precisa”, disse Lydia Jett, sócia da SoftBank Investment Advisers e membro do Conselho da Papa.
Desde os primeiros recursos de seed capital, em 2018, a empresa concluiu rodadas todos os anos: foram US$ 5 milhões investimento série A, em 2019; US$ 10 milhões no ano seguinte e um série C em 2021, de US$ 60 milhões, antes do mais recente investimento que colocou a startup no clube do bilhão de dólares em valor de mercado.
Benefícios sociais, físicos e emocionais
Os planos de saúde vem fazendo fortes investimentos para enfrentar o isolamento social e a solidão de seus segurados: hoje são 25 mil “Papa Pals” cadastrados na plataforma – em média, a cada dois minutos um cuidador da empresa inicia uma visita nos lares norte-americanos. Pesquisa da seguradora Cigna e da Universidade da Califórnia aponta que 61% dos adultos entrevistados sentem-se solitários. A própria Cigna vai oferecer os serviços da Papa a partir de janeiro de 2022 a seus mais de 70 mil usuários – o que vai demandar uma nova onda de “papa pals” pela América.
Para Parker, “os benefícios coletivos físicos, sociais e emocionais são vastos e a oportunidade de tratar os problemas onde eles acontecem, em casa, é ilimitada”. Segundo a empresa, a solução reduz em 68% os casos de solidão. “A conexão humana é como a medicina e melhora os resultados e custos da saúde”, afirma.
Texto: Fabrício Umpierres
Foto: reprodução