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O poder do equity

Ideias centrais: 

1 – Uma startup e um negócio escalável são aqueles que conseguem crescer seu faturamento sem aumentar as despesas proporcionalmente. Conseguem expandir seu número de clientes, de maneira acelerada, sem aumentar os custos na mesma proporção. 

2 – Quem são os investidores-anjo? São pessoas que já tiveram sucesso em negócios anteriores e agora investem em empresas em fase inicial, tanto financeiramente quanto com orientações e aperfeiçoamento de produtos ou serviços do novo projeto. 

3 – No valuation de startups, não consideramos apenas dados como lucro e receita, adotamos premissas e projeções que possibilitam análise da probabilidade de uma startup atingir um estágio mais avançado, em função de métricas e grandes resultados futuros. 

4 – Contrato assinado e dinheiro na conta: agora é escalar. É recomendável ressaltar a importância desse processo tanto para o empreendedor, que toca a startup, quanto para o investidor que acompanhará de perto o processo de evolução.

5 – A lógica que movimenta todo o processo é a espera de que outro player/investidor com um ticket muito maior que o seu entre na empresa, o que vai ajudar na valorização dela, bem como dos investimentos efetuados anteriormente.

Sobre o autor: 

João Kepler é autor best-seller, investidor-anjo, conferencista, apresentador de TV, podcaster e pai de empreendedores. Foi premiado quatro vezes como o melhor investidor-anjo do Brasil pelo Startup Awards. Também é CEO da Bossanova Investimentos. 

Introdução 

Aprender a investir requer mais do que simplesmente ter o dinheiro para colocar onde você acredita que obterá melhores dividendos e resultados. Tem a ver com dedicação, compreensão do mercado e das suas próprias limitações, bem com o peso e as consequências de suas escolhas. Não pense que, se um investidor se destaca mais do que outros ele teve “sorte” – certamente ele se preparou e, além de entender todo o racional que envolve cada escolha, manteve-se inabalável entre os altos e baixos justamente por entender e praticar a mentalidade equity. 

Sem contar que é preciso entender que a dedicação ajuda, mas só a escala enriquece a jornada do investidor. Você já se deu conta de como no geral as pessoas só querem premiar o esforço? Porém, não se esqueça de que o que fica como mensagem/imagem e vale mesmo são os resultados; contra eles, não existem argumentos. E eles, os resultados, só aparecem quando existe escala, crescimento contínuo, retorno acima da média. Isso gera track record. Nenhuma imagem ou marketing são poderosos o suficiente para sustentar carreiras e imagens que não se sustentam pelas escolhas acertadas e resultados a médio e longo prazo. Não tem como “pular etapas”.

Para se tornar investidor-anjo e fazer parte, de maneira ativa, do ecossistema empreendedor, é preciso, antes de tudo, preparação e conhecimento. E é a isto que você terá acesso nas próximas páginas: um compilado de experiências, aprendizados e muitos acertos nesse caminho que, apesar de longo, é extremamente satisfatório e compensador. 

PARTE 1 – Inquieto por natureza 

Capítulo 1 – O começo: a percepção como bússola 

Minha aventura no mundo dos investimentos começou em 2007, quando fundei o e-commerce Show de Ingressos, uma plataforma reunindo oferta de ingressos de diversos eventos no sistema one click to buy, ou seja, um clique para comprar. Ainda conhecia muito pouco o que era uma startup, mas logo pensei em buscar captação para expandir o negócio. Primeiro, tentei encontrar investidores no Brasil e obtive os primeiros nãos. Decidi, então, em 2009, fazer uma viagem para tentar buscar dinheiro fora do Brasil. Fui atrás de investidores americanos e obtive novamente um não. Mesmo assim, essa viagem acabou mudando minha vida. 

Por causa de tantas negativas, comecei a pensar nas razões pelas quais eu não havia conseguido. Essa questão, naquele momento, começou a me incomodar profundamente. Afinal, se eu acreditava naquele negócio, faturava bem e sabia de seu potencial, por que os investidores não compartilhavam da minha visão? A única resposta que tive: você não tem mentalidade de startup. 

Então, passei a buscar respostas.

Primeiro, eu precisava entender por que havia recebido aquelas negativas. Em seguida, decidi que eu também gostaria de ser, um dia, essa pessoa que poderia, por meio dos seus conselhos e percepção, mudar a história de muita gente – direta e indiretamente. 

Em meio a tudo o que estava acontecendo comigo naquela época, preciso dar um destaque especial a uma conversa muito importante que já mencionei na introdução. Um dos investidores que optou por não colocar dinheiro na minha startup, em 2008, me disse não, mas me deu alguns feedbacks sobre o motivo pelo qual tomava aquela decisão, além de conselhos e orientações. As coisas que ele me disse mexeram demais comigo, sobretudo porque ele me provocou a olhar para o equity e para o B2B. Na verdade, num primeiro momento, o que ele disse não me fez muito sentido, mas suas provocações, perguntas e ponderações me levaram a pensar nas alternativas sugeridas. Um soco na boca do estômago, essa foi a minha sensação. Eu não tinha ideia de como um mentor poderia mudar o rumo de um negócio e até mesmo de uma maneira tão profunda. 

Algumas perguntas que certamente um mentor poderia fazer: “Por quê?”; “qual o racional disso?”; “já pensou que esse caminho pode encontrar essa bandeira ali à frente?”; “avaliou mesmo esse concorrente e mercado?”; “que tal testar essa possibilidade X?”; “você validou esse canal Y?”; “já conhece a ferramenta Z?”; entre muitos outros pontos para chamar sua atenção. Com base nas suas respostas, ele deve orientar sem impor e corrigir sem ofender. 

Não tive herança – foi com a geração de caixa dos meus negócios que investi em outros. O meu segredo para não correr altos riscos (o que aprendi errando e com o tempo) é analisar o problema que a empresa resolve, a validação, o modelo de negócio, o nicho e, claro, o perfil do empreendedor. Essa é a minha equação ideal para ser assertivo na hora de entrar numa nova aventura. Além disso, participar de um grupo de investimento com habilidades e conhecimentos complementares é sempre uma boa opção, dividir para somar. 

O desafio das empresas será, entre outras coisas, criar marcas que se adaptem às mudanças no negócio, sem perder sua essência, preservando, assim, o seu propósito e autenticidade. O próprio conceito de sucesso mudou, você já se deu conta disso? Ou seja, o que estamos chamando hoje de “nova economia” é composto, basicamente, por quatro tipos de negócio. 

  • Criativos: aquelas empresas, que trabalham com bens intangíveis e ganham dinheiro com o que gostam; 
  • Sociais ou de impacto: negócios focados quase que exclusivamente no impacto que geram na sociedade. 
  • Escaláveis: aqui se encaixam perfeitamente bem as empresas com conceitos difundidos pelas startups, que são bastante escaláveis e com alta materialização de lucro. 
  • Inovadores corporativos: empreendedores com crachá e/ou empregados que empreendem com o dinheiro dos acionistas ou donos dessas empresas.

Mas e os negócios tradicionais? Como podem entrar nessa nova economia? É óbvio que muitos negócios tradicionais focados no capital tangível (mesa, cadeira, estrutura e maquinário etc.) vão ser substituídos ao longo dos anos. Mas todos eles podem reestruturar-se aplicando camadas de serviços com base na inovação e tecnologia, que podem ser para comercialização, operação ou relacionamento. Só a título de exemplo, a fabricante de automóveis Volkswagen lançou recentemente seu serviço de assinatura de carros – ou seja, uma camada de serviço na qual prevalece o uso do consumidor em detrimento da posse. 

Capítulo 2 – O que os investidores querem saber e ouvir 

Quando o assunto é investimento em startup, muito se fala em pitch, business modem canvas etc. E tudo isso é, de fato, muito importante e necessário. Metodologias são úteis porque ajudam na preparação e na apresentação, desde que usadas como auxílio e com inteligência (papel aceita tudo). Para um investidor, contudo, o mais importante é conseguir ter uma visão do todo – do negócio e da capacidade do empreendedor de fazer tudo aquilo que ele diz que vai fazer com o dinheiro. 

Por já estar preparado para algumas “frases de efeito” e erros que são comuns neste processo, vou apresentar a vocês, investidores e futuros investidores, uma palavra que, além de fazer parte de nossa vida, dará sentido e fundamento para toda e qualquer decisão que precise tomar em relação ao aporte em startups: a escala. 

Você já sabe quais são as características e as mudanças que ocorreram para chegarmos à nova economia, agora vai entender por que precisa aprender a avaliar e entender quais são os negócios escaláveis. Ou seja, colocando por ora de maneira bem resumida, são as soluções que podem ser replicadas em alto volume sem que isso interfira na produção ou distribuição desse serviço/produto. Uma startup e um negócio escalável são aqueles que conseguem crescer seu faturamento sem aumentar as despesas proporcionalmente. Conseguem, por exemplo, expandir seu número de clientes de maneira acelerada sem precisar aumentar os custos na mesma proporção.

O que você, investidor, precisa ter em mente quando receber uma proposta para investir é: 

  • Oportunidade: qual é o problema que o negócio vai resolver? 
  • Solução: como o negócio atenderá a essa necessidade? 
  • Mercado: qual é o perfil do cliente? 
  • Recursos: de quanto dinheiro precisa e para quê? Além do dinheiro, do que mais precisará? 
  • Concorrentes: quem são os principais concorrentes diretos e indiretos? 
  • Inovação: quais são seus diferenciais em relação ao que existe? 
  • Time: qual o histórico de cada sócio e principais funções na empresa? 

Quando eu e Pierre Schurmann começamos a operar juntos, em 2015, unimos nosso portfólio, pois desde 2011 eu fazia investimentos profissionais como investidor-anjo. Logo na sequência, em 2016, idealizamos a Bossanova como uma super-anjo, com uma pegada mais humana no formato investimento-anjo. Como? Fazendo conexões e desenvolvendo relacionamentos com os melhores fundadores, investidores e parceiros corporativos. Como cada um desses três atores quer se encontrar e ter relacionamentos uns com os outros, nós nos tornamos a ponte e conexão para isso. Por isso, nos denominamos “empreendedores que investem”. 

No final de 2016, após a entrada do Grupo BMG, estruturamos a Bossanova e nos preparamos para o crescimento entre 2016 e 2021. Hoje, até o fechamento deste livro, tínhamos registrado 750 investimentos realizados (no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa), 44 write-offs (retiradas da startup do portfólio) e 23 exits (saídas), com uma performance média de 25% ao ano. Isso nos ajuda a entender por que estamos no caminho certo. 

Em busca de startups que possam se tornar grandes empresas, meu objetivo é identificar ideias e pessoas incríveis, gente engajada e pronta para fazer um mundo melhor. O anjo investidor é um reality show transmitido pela Rede TV! e pela Jovem Pan focado na nova economia, nas startups e no investimento-anjo com o propósito de ajudar as pessoas no desenvolvimento de seu negócio. 

PARTE 2 – Investidor: o uso inteligente do seu dinheiro 

Capítulo 3 – Dinheiro não aceita desaforo 

Acredite, é possível aproveitar a vida sem estourar todos os seus cartões, zerar seus investimentos e se endividar para isso. E a primeira dica nesse sentido é bem simples: viva para você e não para os outros. More onde você possa pagar, tenha o carro que lhe dê prazer em ter, não preocupações para manter. Vista-se conforme seu estilo, mas saiba que há marcas para todo tipo de bolso – não precisa se endividar para chamar atenção de ninguém. A melhor roupa é aquela que o deixa seguro de si, das suas capacidades e autonomia. Enfim, como diz o autor líbano-estadudinense Nassim Taleb, cuidado com o risco da ruína. 

Quem são os investidores-anjo? São pessoas que já tiveram sucesso em negócios anteriores e agora investem em empresas em fase inicial, tanto financeiramente quanto com orientações e aperfeiçoamento dos produtos ou serviços do novo projeto. O que eles querem? 

  • Retornos financeiros acima da média; 
  • Gerar nova atividade econômica; 
  • Fazer acontecer; 
  • Arriscar; 
  • Ter um novo direcionamento; 
  • Se envolver no ecossistema. 

Em vez de um retorno mensal na forma de, por exemplo, pagamentos de juros ou dividendos mais imediatos, você, como investidor de startups, precisa pensar no longo prazo e no equity, entender que o objetivo deve ser maior, assim como o retorno. Em média, os retornos levam de quatro a cinco anos para serem concretizados. 

O objetivo de um investimento em uma startup é realizar grandes ganhos de capital nesse longo prazo, por isso a importância da mentalidade de equity. A ideia é comprar uma parte da startup quando ela ainda está enxuta e começando a escalar e, no futuro, conseguir vender sua parte depois de a empresa se transformar em um negócio consolidado e promissor. Por isso, é preciso saber “escolher” – e escolher não significa apostar no escuro, pelo contrário. Por fim, para quem está acostumado a obter retornos por volta de 10%, 12%, 16% ao ano em investimentos tidos como tradicionais para se ter uma ideia, quando uma startup alcança o que descrevi acima e se torna um case de sucesso, você pode conseguir um retorno de dez vezes, quinze vezes o investido inicialmente (dependendo da saída), ou até mais. É só fazer as contas com qualquer valor para ver como esse tipo de investimento é atrativo. 

Essa é, e sempre foi, a base da minha tese de investimento. Qualquer empresa precisa conseguir, antes de crescer e pensar em escalar, “provar” que seu produto ou serviço realmente tem público/cliente, encontrar o problem-solution fit. Essa é, inclusive, a melhor forma de, num segundo momento, buscar investidores que poderão analisar números e vendas reais para tomar a decisão de entrar ou não. 

Ter uma empresa que consiga alcançar o breakeven ou, pelo menos, que esteja caminhando para isso com o dinheiro dos clientes é um dos maiores indicativos de que o negócio está bem estruturado e que conseguirá expandir em larga escala quando um montante maior entrar. 

Capítulo 4 – Branding e a postura do investidor 

Não tenha dúvidas de que seu nome nunca foi tão importante como na era das redes sociais. Sua história nunca foi tão relevante como nos tempos online. E a melhor forma de se posicionar neste sentido é investindo no branding pessoal: a transformação do seu nome em uma marca e da sua história em um modelo. 

O planejamento de uma marca pessoal como investidor é bem diferente do processo de construção de um branding corporativo. No branding pessoal, você deve ser você mesmo, ou seja, autêntico, coerente, disponível e nunca perder a sua essência.  

Como fazer parte do ecossistema. Você sabe o que realmente significa esse tal de ecossistema? Bom, como muitos devem pressupor, o termo é emprestado da biologia, porque, assim como acontece entre as espécies, no empreendedorismo também precisa-se do outro para sobreviver.

Ou seja, é o ambiente formado pelos mais diversos personagens ligados ao empreendedorismo, no qual há muita conexão. Assim como no ecossistema animal, o empreendedorismo também trabalha em rede; há hierarquia, equilíbrio ou desequilíbrio e extinção. Ele também se desenvolve como uma espécie de organismo vivo, que está a todo momento se modificando e se movimentando. O “meio ambiente do ecossistema empreendedor” é composto por empresas, governo, instituições de pesquisa e ensino, incubadoras, aceleradoras, associações de classe e prestadores de serviço e, claro, empreendedores – que são os protagonistas e fazem tudo acontecer. 

Para que você possa ingressar no ecossistema, é importante participar de eventos e criar conexões. O networking, ou a sua rede de contatos, é fundamental para que passe a fazer parte do meio.

De igual importância é participar ativamente de grupos e reuniões, de modo que você seja reconhecido pelos demais participantes. Procure também conhecer melhor os fundos de investimento e entrar em contato com investidores. 

Como pode um negócio que dá prejuízos ter um valuation alto? Você já leu e entendeu neste livro o modelo da nova economia e da mentalidade de equity. Mais do que isso, agora você já sabe que as startups são empresas com o objetivo de transformar o mundo em que vivemos e encontrar soluções melhores utilizando uma base tecnológica para os problemas existentes ou ainda nem existentes em alta velocidade e muita valorização. 

Quando falamos no valor de uma startup, na verdade, nos referimos a um valor determinado por meio de um processo chamado valuation. Trata-se de um processo que busca aferir o valor justo de determinada startup, hoje e no futuro, a partir da adoção de uma metodologia e de alguns cálculos, que vamos estudar nos capítulos seguintes. O resultado desse processo não tem uma correspondência direta com o valor que a empresa gera de lucro ou mesmo de receita anual. 

No valuation de startups, não consideramos apenas dados como lucro e receita, adotamos premissas e projeções que possibilitam uma análise da probabilidade de determinada startup atingir um estágio mais avançado e que consiga atingir métricas e grandes resultados futuros. Basicamente, o alto valor da avaliação se baseia numa expectativa de ganhos expressivos num futuro mais próximo. 

Portanto, nesse sentido, a lógica dessa modalidade de investimento me faz determinar algumas premissas básicas para aumentar o valor do negócio: 

  • Eu não entro em um negócio para ter lucro; 
  • Eu não entro em um negócio para ser sócio; 
  • Eu não entro para ter dividendos trimestrais, semestrais ou anuais; 
  • Eu não entro em um negócio dependente; 
  • Eu não entro em um negócio sazonal. 

Eu entro pelo valuation atual e futuro do negócio. É isso que chamamos de equity

O empreendedor está sozinho? Não. Ele pode ter um mentor para orientá-lo. Os melhores mentores desenvolvem a capacidade de diagnosticar problemas e observar situações do empreendedor, mas sempre sem se tornarem consultores nem coaches. O que, efetivamente, um mentor faz? Ele se alia ao empreendedor para fortalecer o negócio, seja auxiliando-o na tomada de decisões com mais segurança ou ajudando-o a transpor desafios, identificar novas metas e desenvolver uma visão estratégica. É um novo olhar, longe da “miopia corporativa” e das práticas conservadoras. Nada de particularidades excessivas neste relacionamento: tem de ser acessível, prestativo, presente de corpo e alma. O processo de mentoria é cada vez mais popular nos Estados Unidos e ganhou força no Brasil nos últimos anos. 

PARTE 3 – Deu match: como fazer investimentos? 

Capítulo 5 – Como avaliar startups? 

Uma avaliação inicial vai poupá-lo de dissabores na sequência, por isso, analise com cautela os seguintes aspectos no negócio da startup: 

  • Qual a avaliação do mercado onde a empresa está inserida? 
  • Qual a análise da cadeia de valor? 
  • Quais são as barreiras de entrada?
  • Qual o tamanho desse mercado? 
  • O produto ou serviço é diferenciado, viável e escalável? 
  • Tem tecnologia como barreira de entrada? 
  • Tem equipe complementar em qualidade e capacidade? 

Existem métricas padrão que o investidor deve olhar para avaliar pontos que estamos enaltecendo. Eis alguma métricas mais importantes (no geral) e que os investidores precisam olhar nas startups: 

  • Número de acessos no site; 
  • Geração de leads
  • Taxas de retenção e aquisição de novos clientes; 
  • Custo de aquisição por cliente (CAC); 
  • Projeções de crescimento com base em ações desenvolvidas. 

Em startups, apesar de serem negócios de extrema incerteza e geralmente queimarem caixa rapidamente para escalar e exponenciar, o investidor deve se preocupar com essa medida. Explico. 

O dinheiro do investidor pode acabar antes do tempo previsto se for mal utilizado. Quando for para investir, verifique o motivo da queima de caixa mensal da startup – onde se gasta o dinheiro fala muito sobre o negócio. Por exemplo, se o dinheiro está indo todo para pró-labore, se está sendo investido em marketing sem nenhum retorno. 

A velocidade com que uma startup “queima” ou pretende gastar dinheiro dos investidores é importante para definir a sua viabilidade. A questão é também verificar o risco de o dinheiro na mão dos empreendedores acabar antes da próxima rodada de investimento. 

As startups, por outro lado, se apresentam em diferentes tipos. No mundo das startups, os animais, mitológicos ou não, têm significados importantes na escolha de que tipo de negócio buscar para investir. Mais do que diferenciar as empresas de acordo com o seu valor de mercado e maturidade, as diferentes nomeações dadas às startups facilitam a identificação do estágio e modus operandi de cada empresa. Vejamos algumas denominações: 

  • Unicórnio. Com certeza você já deve ter ouvido o termo startups unicórnios. Este modelo corresponde às empresas avaliadas em mais de US$ 1 bilhão antes de abrir seu capital em bolsa. Podem ser citadas como características desse tipo de empreendimento o crescimento rápido e agressivo a qualquer custo e o foco em queimar caixa com rodadas sequenciais de investimento para crescer. Nasceram para serem gigantes. Não são tão raras hoje em dia porque o Brasil já tem mais de quinze startups unicórnios e, no mundo, elas somam aproximadamente 450. Se você encontrou um unicórnio vai ter que guardar muito dinheiro para fazer follow on e manter seu percentual no negócio nas diversas rodadas, cada vez maiores, até o valuation de US$ 1 bilhão.
  • Camelo. Assim como o próprio animal, as startups do tipo camelo têm a adaptação como a sua característica principal. Os camelos se adaptam a diferentes climas e ambientes, vivem com pouca comida por longos períodos em locais de difícil sobrevivência. Ao contrário do que ocorre com os unicórnios, crescer a todo custo não é prioridade para os camelos. Eles objetivam gerar resultados, mas avaliam sem pressa e com muita cautela todos os riscos envolvidos em suas decisões. 
  • Cabra-da-montanha. Ela é uma espécie de caprino que desenvolveu adaptações nas patas dianteiras e cascos para locomoção em superfícies íngremes. A adaptação permite que esses animais agarrem pedras com mais eficiência, escalando montanhas rochosas e e inclinadas até conseguirem lamber o sal das pedras, o que faz parte de sua dieta. Tenho predileção pela cabra montesa. Explico por que essa é minha opção no estágio anjo e pré-seed: os melhores empreendedores que conheço são aqueles que se arriscam e conhecem bem as etapas do desenvolvimento de uma startup, inclusive a fase struggle (a mais complicada e sem saída, quando o empreendedor se desespera e pensa em desistir). São os incomodados, que desenvolvem habilidades, novas competências, anticorpos e fazem adaptações para subir em locais que poucos conseguem alcançar. 

Como calcular sua participação na startup? Partindo da premissa de que a maioria dos aportes de fundos de venture capital ocorre por meio do lançamento de novas ações, temos uma situação em que o dinheiro do investidor se soma ao valor da empresa pré-investimento, ou pre-money. O valor final da soma do investimento mais o pre-money é o post-money. Na prática, funciona assim: por exemplo, se o valor da empresa antes do investimento, o chamado valuation pre-money, é de US$ 4 milhões, e o aporte do investimento é de US$ 1 milhão, você deve somar os valores para chegar ao valuation post-money

Valuation post-money = R$ 4 milhões + R$ 1 milhão = R$ 5 milhões. 

A participação do investidor será sempre uma parcela da soma final das partes, nunca do valor da empresa antes do investimento. 

Participação do investidor = uma parte de cinco = 1/5 = 20%. 

Está pronto para escalar? Contrato assinado e dinheiro na conta: agora é escalar. É importante ressaltar a importância desse processo tanto para o empreendedor, que vai tocar a startup, quanto para o investidor que acompanhará de perto todo o processo de evolução. 

Aqui é chegada a hora de rever e atualizar o modelo de negócios, o modelo de monetização, a qualificação do time, a tecnologia criada, a escalabilidade, entre outros itens, fazendo com que o time fundador entenda perfeitamente as lacunas que ainda precisam ser preenchidas em relação ao negócio e suas limitações ou falhas para poder dar os próximos passos de maneira segura e continuar a crescer. 

Capítulo 6 – Modalidades de investimentos 

Montar um portfólio composto por diferentes startups é uma boa forma de minimizar os riscos do investimento. Com a minha experiência e o que adotamos na prática na Bossanova, acredito que, com algo entre dez e quinze startups, você começa a montar um portfólio que realmente reduz o risco, visto que, se algumas derem errado, as que derem certo compensarão o prejuízo e gerarão uma margem de ganho que compensará as outras. 

Por isso, no caso do investidor, é sempre importante pensar em qual o valor total disponível de investimento, pois isso vai definir o valor que você poderá investir em cada startup de seu portfólio. Agora, se você deseja realizar esse mesmo processo com ainda mais segurança e todo o apoio necessário para os negócios, o mais indicado é que ingresse em algum fundo de investimento e compre uma cota. Basicamente, essa cota é a sua participação nas empresas e o fundo se torna responsável pela escolha das startups aportadas, bem como o valor destinado a cada uma compondo aquele portfólio passa a ser seu também. 

A lógica que movimenta todo o processo é a espera de que outro player/investidor com um ticket muito maior que o seu entre na empresa, o que vai ajudar na valorização dela, bem como dos próprios investimentos efetuados anteriormente. Logo, todo mundo ganha, afinal, não é difícil presumir que, quando isso acontece, eleva o valor da participação societária.  

E, ainda, sendo bem realista, é muito difícil que um investidor-anjo das primeiras rodadas tenha fôlego para não ser diluído a ponto de ter uma participação insignificante quando a startup alcança alguma das séries. Mesmo que essa participação insignificante represente centenas de vezes o valor investido, é natural que os novos investidores também queiram eliminar os menores componentes do quadro societário, como uma forma de diminuir riscos futuros… todos vão se resguardar ao longo do processo. 

Como contabilizar retorno de seus investimentos? Desde o fim do boom da internet 1.0, em 2001, o tempo médio de retorno do investimento no capital de risco mais do que duplicou, de 3,3 anos para 6,8 anos, com um retorno médio de cinco vezes o dinheiro dos investidores – ou seja, gerava-se no passado uma TIR (Taxa Interna de Retorno) ou IRR (Internal Rate of Return), de 62,9%. Esses dados são da National Venture Capital Association. 

E O QUE TUDO ISSO SIGNIFICA? O QUE PRINCIPALMENTE UM INVESTIDOR TRADICIONAL PRECISA MESMO CONSIDERAR E SABER? 

Que hoje o tempo médio para sair (exit) é de 6,8 anos e que o seu retorno será em média 5x; assim, o investidor receberá uma TIR de 26,7%. Ou seja, trata-se de um percentual atraente e superior aos obtidos em outras formas de investimentos no mercado. Mais ainda, algumas empresas têm conseguido alcançar melhores taxas no mercado de capital de risco no Brasil. Na Bossanova Investimentos, por exemplo, a IRR anual calculada na média de sessenta startups é de 43,7%. 

Conclusão 

Não é mais nenhum exagero afirmar que as startups serão o motor da retomada do crescimento econômico, como os próprios números já indicam. E, quando digo isso, não se trata simplesmente de excesso de otimismo, mas da consolidação de um novo contexto de mercado. Tenho conversado com grupos de fundos e a sensação, até aqui, é que, embora exista alguma desaceleração, os investimentos não foram interrompidos em nenhum momento durante a pandemia. 

Um ponto importante que merece destaque é o aumento do profissionalismo dos empreendedores. As startups brasileiras mais resilientes se prepararam melhor com uma visão de longo prazo. Ou seja, para o olhar do investidor, mais importante do que focar em quem está crescendo é identificar as empresas mais resistentes, aquelas que ganharão um selo “antifrágil” e que, de maneiras mais robustas, encaram qualquer desafio. Isso porque acredito que empreendedor no Brasil não deve pensar em virar só unicórnio, mas primeiro em ser uma cabra-da-montanha. 

Ficha técnica: 

Título: O poder do equity – Como investir em negócios inovadores, escaláveis e exponenciais e se tornar um investidor-anjo

Autor: João Kepler 

Primeira edição: Gente Editora 

Resenha: Rogério H. Jönck 

Imagens: unsplash e reprodução

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