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O Planeta em Chuteiras

Fundado há 130 anos, o Forest Green Rovers, da Inglaterra, passou a maior parte de sua trajetória sendo um clube desconhecido até para muitos torcedores ingleses fãs de futebol. Tanto que entre as raras conquistas da sala de troféus, um dos destaques é o bicampeonato de 1950/1951 da Liga Regional de Veteranos do país. Mas a história da pequena equipe da cidade de Nailsworth, no condado de Gloucestershire, começou a mudar em 2010, quando o empresário Dale Vince assumiu a gestão e implementou diversas ações que deram outro significado ao “verde da floresta” e melhoraram os resultados do clube dentro e fora de campo.

Dono da empresa de energia renovável Ecotricity e defensor de iniciativas em prol do meio ambiente, Vince logo adotaria uma medida que daria um título inédito no futebol: o de ser o primeiro time vegano do mundo.

Vegano, o novo dirigente retirou a carne vermelha do cardápio dos atletas já no primeiro ano de administração.

E desde 2016, alimentos como frango, peixe, queijo e leite também foram excluídos não só da dieta dos jogadores como também das refeições vendidas aos torcedores. Desde então, quem passa pela equipe recebe orientações para manter a dieta vegana fora das dependências do clube, mas sem a obrigação de segui-la.

SUSTENTÁVEL



Segundo o Forest Green, a nova dieta foi motivada pelos “enormes impactos ambientais e de bem-estar dos animais, além de ter melhorado o desempenho dos atletas e de oferecer uma alimentação mais saudável e saborosa aos fãs em dias de jogos”. A melhora em campo de fato ocorreu, já que com o novo cardápio o time conseguiu disputar pela primeira vez em sua história a EFL (English Football League) Two, considerada a quarta divisão do futebol inglês.

Mas ações sustentáveis do Forest Green vão muito além do veganismo. No pequeno estádio The New Lawn, que tem capacidade para 5,5 mil pessoas, o gramado é irrigado com água da chuva e os fertilizantes são substituídos por algas marinhas; os refletores do campo e toda energia utilizada nos jogos é captada por painéis solares, tecnologia que também faz funcionar um robô responsável por cortar a grama; o plástico de produtos comercializados nos jogos está sendo substituído por recicláveis; e o estacionamento do estádio é equipado com totens de recarga para carros elétricos para incentivar os torcedores a irem aos jogos de maneira sustentável.

CERTIFICAÇÃO

Essas iniciativas fizeram do Forest Green o primeiro clube esportivo de carbono neutro certificado pela ONU, e os avanços das ações verdes já estão saindo do papel com a construção do novo estádio denominado Eco Park, que terá capacidade para 10 mil torcedores. Projetado pelo escritório da renomada arquiteta Zaha Hadid, a nova arena será a primeira no mundo com toda a estrutura de madeira e ficará localizada em um parque onde serão plantadas cerca de 500 árvores. Para o clube, a nova casa elevará o nível da agremiação e será uma nova plataforma para divulgar ainda mais as mensagens de sustentabilidade.

A posição em prol do meio ambiente adotada tem dado retorn
o ao Forest Green fora das quatro linhas. Na temporada passada, o clube lucrou 425 mil libras, e a média de público nos jogos do time aumentou 30%, atingindo 3.000 mil espectadores por partida.

E se antes muitos ingleses não conheciam o clube, hoje o Forest Green extrapola as fronteiras da Inglaterra. Nas redes sociais, são cerca de 1.000 novos seguidores por mês, e veículos de mídia dos quatro cantos do mundo já foram até a pequena Nailsworth, no sudoeste do país, para fazer reportagens sobre o clube, como Al Jazeera, Russia Today e CNBC, além da própria BBC inglesa.

O sucesso das ações sustentáveis e reconhecimento do mercado em ser o primeiro time vegano do mundo levaram Vince a criar uma empresa de entrega de refeições saudáveis para escolas de toda a Inglaterra que foi denominada de Little Green Devils, em alusão à alcunha do clube. A iniciativa faz parte do plano de levar a mensagem de sustentabilidade defendida pelo clube para o maior número de pessoas, e logo o negócio chegará a universidades e parques temáticos. Até mesmo times rivais como Carlisle United, Morecambe e Crawley Town abraçaram a causa ao oferecer um cardápio vegano em dias de jogos contra o Forest Green.

Segundo o clube, o progresso tem ocorrido de maneira positiva tanto dentro e quanto fora do campo, e o grande objetivo é chegar nos próximos anos à segunda divisão do futebol inglês, denominada EFL Championship. É fato que o Forest Green tem se desenvolvido desde que adotou ações sustentáveis e a tendência é atrair um maior número de torcedores (ou ativistas) nos próximos anos. Caso você seja um deles e vá a um jogo do time, lembre-se que numa eventual falha do goleiro, é melhor chamá-lo de mão de alface do que dizer que ele engoliu um frango.

Texto: Fábio Vieira

Imagens: Deposit Photos e Divulgação  

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