Quando imagina até que ponto as relações entre máquinas e humanos irão convergir – e se confrontar no futuro – vem à mente do americano Jeff Howe a imagem do Centauro, a mítica criatura grega que tem corpo de cavalo com tronco e cabeça de homem. Um híbrido capaz de reunir o melhor da força, destreza e inteligência no mesmo animal. “Essa é a forma mais otimista que eu consigo enxergar na nossa relação a tecnologia” diz Howe, principal convidado internacional do RH Week, fórum de recursos humanos realizado pelo Experience Club nos dias 21 e 22 de maio no Sofitel Jequitimar Guarujá (SP).
Jornalista por formação e colaborador da revista Wired, Howe é pesquisador convidado pelo MIT Media Lab e professor assistente e diretor do Media Innovation na Northeastern University, em Massachusetts. Seu mais recente trabalho de repercussão internaconal é o livro “Whiplash: How to Survive Our Faster Future”, escrito junto com o diretor do Media Lab do MIT, Joi Ito.
Na apresentação para 120 diretores de RH responsáveis por mais de 800 mil colaboradores empregados, Howe destacou os 9 princípios do livro para enfrentar o que as organizações terão pela frente, tendo como ponto central a velocidade da transformação. “A tecnologia sempre avança em uma velocidade superior à mente humana, porém essa velocidade está aumento de maneira exponencial”, avalia Howe.
Citando acontecimentos importantes na história desde a revolução industrial, o autor realça que, da exibição da primeira película de cinema, em 1895, até alguém que tivesse a ideia de filmar uma cena em close-up, foram necessários oito anos.
“Da mesma maneira, as organizações sempre procuram reagir e atuar da maneira que conhecem melhor”, destaca. Um exemplo, segundo ele, é a tática militar do “comando e controle”, muito conhecida pelas empresas. “Esse conceito simplesmente caiu por terra quando surgiram grupos terroristas como a Al Qaeda e o Estado Islâmico, que atuavam de maneira descentralizada, totalmente diferente”, compara.
Papel do RH
Otimista, o pesquisador destacou o imenso espaço que os profissionais de recursos humanos podem assumir nesse momento de enorme transformação, considerando que propósito e a busca por inovação são elementos mais importantes do que adotar esta ou aquela nova tecnologia. “É mais efetivo dar uma bússola para a sua equipe do que um mapa. Alguns irão errar o caminho, mas a maioria vai ser capaz de completar a missão em conjunto”.
Howe também prega modelos mais abertos de flexíveis de organização. “Mais desobediência e menos compliance: ninguém ganha um prêmio Nobel fazendo o que o seu chefe manda”. Defende também “mais resiliência e menos força, mais prática do que teoria”. “A educação é aquilo que alguém faz por você, o aprendizado é algo que você faz por você mesmo”.
Diversidade e criatividade
Outro ponto importante destacado na apresentação foi o valor prático da diversidade nos recursos humanos, um fato comprovado estatisticamente, segundo ele, pelo matemático Scott Page, da Universidade de Michigan. “Juntar dez especialistas em um assunto resultam e um especialista, resultado mito diferente de unir dez pessoas com histórias e perfis totalmente diferentes”, pontua Howe, mostrando que a diversidade, mais do que um fator moral, é mais eficaz em todas as situações.
Mas como fica essa complexidade de novas atribuições e capacidades que as pessoas precisam ter para enfrentar o futuro, diante do avanço inexorável da inteligência artificial? Para os pessimistas, a IA se tornará incontrolável quando for capaz de reproduzir a si mesma e evoluir cada vez mais no processo, tornando obsoleta a figura humana. Os otimistas acreditam que ela poderá ajudar pôr fim na luta contra o contra ou eliminar a pobreza do mundo.
Jogando no time dos otimistas, Howe acredita que IA potencializada pela nossa criatividade poderá levar a humanidade a seu maior salto evolutivo desde a origem do homem sapiens na Terra. Mais alto do que um Centauro.
Texto: Arnaldo Comin
Foto: Marcos Mesquita/Experience Club