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O brasileiro que quer ser o rei do frango plant-based

Next Gen, startup cofundada por André Menezes em Singapura, o “Vale do Silício” das foodtechs, já levantou US$ 10 milhões, e tem planos para o Brasil

Singapura, uma cidade-estado insular situada ao sul da Malásia, está se tornando o “Vale do Silício” das foodtechs, startups de alimentação. Especialistas atribuem isso a alguns fatores como uma população capaz de falar chinês e inglês, instituições sólidas que funcionam e ausência de corrupção.

“Aqui temos uma agilidade enorme e muitos incentivos para desenvolvimento e pesquisa de produtos disruptivos na área de alimentação”, afirma André Menezes, um brasileiro que se tornou referência em alimentos à base de plantas (plant-based food) e cofundou a Next Gen, no início de 2020, junto com o alemão Timo Recker

Para lançar o Tindle – o primeiro produto da Next Gen, uma carne de frango a base de vegetais – os cofundadores foram atrás de uma rodada seed no valor de US$ 7 milhões.

“Tivemos que estender a rodada para US$ 10 milhões para conseguir acomodar os investidores, valor que, de acordo com a plataforma Pitchbook, representa a maior rodada seed de investimentos do mundo”, diz Menezes. 

E, como não poderia deixar de ser para um mercado tão forte em carnes, o Brasil está nos planos de expansão de Menezes para o futuro. “Os quatro principais mercados do mundo para a Next Gen são China, Estados Unidos, Europa e Brasil. Estamos estudando parcerias com empresas brasileiras para produção sob contrato, o que nos habilitaria a exportar ou servir o mercado local”, afirma. 

Embora o mercado de plant-based food seja bastante novo, já é bilionário e cresce a passos largos. Globalmente, deve chegar a US$ 85 bilhões até 2030, de acordo com o relatório The Food Revolution, da empresa suíça UBS.  

O roteiro para os próximos dois anos inclui o levantamento de investimentos Series A, diversificação de produtos e expansão internacional na Europa e nos Estados Unidos.

A empresa já está preparando as bases para os EUA, incluindo o recrutamento de um director de expansão, que construirá uma rede de distribuidores, restaurantes e chefs. 

Confira os principais trechos da entrevista de André Menezes ao Experience Club

1. Trajetória

“A história da NextGen é bastante recente. Começamos a empresa em 2020, mas ela remonta ao passado tanto meu quanto do Timo. Nós somos os cofundadores da empresa e estamos envolvidos nesse setor de plant-based há bastante tempo”. 

“Embora seja uma empresa recente, nosso passado explica muito do porquê a empresa já começa com bastante velocidade e tração. A empresa começou oficialmente em Singapura, no meio da crise da Covid. E apesar de a gente estar sem poder viajar, conseguimos montar um time bastante forte, marca, desenvolver produto, uma cadeia de supply chain realmente internacional”.

“Nossa marca foi desenvolvida por profissionais do mundo inteiro, desde a Califórnia até a Europa, Austrália, China. Fizemos uma empresa global desde o dia zero e preparamos essa empresa, o business model, mais ou menos de abril até novembro”.

“O Timo investiu inicialmente US$ 2,2 milhões de dólares. Chegando em outubro, quando a gente já tinha isso mais ou menos estabelecido para colocar de maneira estruturada para potenciais investidores, a gente fez uma rodada de investimento”.

“Essa rodada de negociação acabou sendo o maior de investimento semente (seed round) da história para plant based, em nível global. A gente levantou US$ 10 milhões”.

“Esse dinheiro está sendo usado neste ano para o nosso lançamento e expansão aqui na Ásia-Pacífico. Começamos com Singapura em março. Muito em breve a gente vai para Hong Kong, Kuala Lampur e Macau. Daí em diante Ásia-Pacífico, mais países, mais cidades, até a preparação para Estados Unidos e, depois, Europa, já num futuro próximo, porque que são os dois principais mercados do mundo hoje”.  

2. Lançamento 

“O lançamento foi melhor do que qualquer expectativa que a gente poderia ter. Em Singapura, a gente lançou nossa estratégia de começar com restaurantes e com chefs de cozinha renomados, para mostrar o quão bom o produto é. Mostrar que até os chefs mais exigentes trabalham com ele. Lançamos com onze marcas de restaurantes. Os chefes de três delas têm algum passado com estrelas Michelin”.

“Hoje, a gente já está em mais de 40 restaurantes aqui em Singapura, expandindo bem, conseguindo bastante atenção. A resposta dos consumidores está excelente e nossa expansão internacional está parecendo bastante promissora também”. 

3. Varejo 

“A nossa ideia é que a gente se torne o líder incontestável em frango plant-based no mundo. Isso incluiu uma presença global nos principais mercados e também multicanal. A gente começa com restaurantes, com essa experiência com chefs de cozinha e constrói a marca. Mas a gente vai para o varejo, sem dúvida. E quando a gente for para o varejo, vai ter uma série de produtos em linha para o que o consumidor de cada país em que a gente estiver entrando procura no varejo”.

4. Brasil 

“O Brasil é um dos nossos quatro grandes mercados potenciais. Esses quatro são Estados Unidos, Europa, Brasil e China, que são grandes em população e grandes em consumo de carne também. E a gente entende que do ponto de vista de produção também são potências manufatureiras”.

“A nossa ideia é entrar no Brasil assim que conseguir entender qual é o melhor parceiro para produzir. É começar esse trabalho quando as restrições de trânsito e viagens em relação à pandemia estiverem mais leves e a gente puder transitar e desenvolver um modelo de negócios para atuar no país. Provavelmente, isso não acontece em 2021. Mas, quem sabe, com a pandemia aliviando, em 2022”.  

5. Parceiros de produção 

“Não temos exatamente parceiros locais, mas o nosso modelo de negócios é totalmente leve em ativos (asset light). A gente não é dono de nenhuma fábrica, de nenhum caminhão, de nenhum ativo operacional. O nosso foco na marca da empresa é no capital intelectual, no desenvolvimento de produtos e tecnologia de alimentos, no desenvolvimento e ativação de marca e redes de parceiros que a gente faz a operação no mundo”. 

“Nesse contexto, a gente busca saber aonde são nossos mercados alvo e obviamente ter parceiros que possam fabricar próximos aqueles mercados. Muito provavelmente no futuro a gente vai ter produção em cada um dos quatro mercados que eu citei, Europa, China, Brasil e Estados Unidos”. 

“Para o resto do mundo a gente provavelmente não vai ter produção dedicada local. Por exemplo, os Estados Unidos podem ser um fornecedores para o Canadá. Na Europa, eu posso fazer a Europa inteira. A China pode ser um fornecedor para a Ásia. Não tem nada definido ainda quanto a isso, mas provavelmente vai ser esse o formato”.  

6. Singapura 

“Estrategicamente, o país tem a agenda de se transformar num hub de foodtech, num ‘Vale do Silício’ de foodtechs. Nesse contexto, isso significa atrair fundos de investimento que estão investindo neste setor, institutos de educação, empresas multinacionais, centro de pesquisa e desenvolvimento e startups como a gente. Há todo um ecossistema ajudando nisso”.

“O governo é bastante ativo em colocar todas essas peças e fazer o sistema funcionar bem. O desenvolvimento está acontecendo muito rápido. Desde o meu envolvimento inicial com plant-based aqui em Singapura, por volta de dois anos atrás, até hoje, é um cenário completamente diferente. Singapura, de fato, se tornou uma referência no mundo hoje. Está sendo cada vez mais considerada como o ‘Vale do Silício’ de foodtechs’.  

7. Mercado em crescimento 

“O mercado de carne animal é de US$ 1,4 trilhão de dólares. A gente entende, e os estudos também vão nessa linha, que o mercado de plant-based vai crescer tomando um pouco desse mercado. A perspectiva de chegar a US$ 85 bilhões, como indica um estudo do UBS, não é tão distante assim, comparado com US$ 1,4 trilhão de carne. Tem gente que até imagina que esse número pode ser mais agressivo”. 

“Mas o que realmente importa neste caso é que, no longo prazo, dadas as questões de sustentabilidade, aumento do consumo de proteína, evolução da qualidade dos produtos, maior educação dos consumidores, vai existir uma migração massiva. Tanto o novo consumo de proteína, que iria para carne e vai para plant-based, quanto do já maduro, que vai converter por razões sociais, econômicas ou culturais em cada um dos mercados”.  

8. Cenário do agronegócio 

“Eu acredito que sim, eu espero que sim e me parece que já está acontecendo essa mudança no cenário do agronegócio. A gente vê que empresas grandes do agronegócio já estão fazendo um movimento neste sentido. São desde grandes empresas do setor de grãos até empresas do setor de carne”.

“No Brasil, inclusive, a gente vê empresas fazendo aquisições na Europa, em operações bastante significativas, e também produzindo. Isso para mim já é, mais do que um indicador. É uma leitura forte de que o agronegócio vai ser afetado. Positivamente, provavelmente”.

“Imagino que o agronegócio se adaptando a essa nova realidade, seja onde for, vai estar muito bem posicionado para um futuro interessante com bastante valor agregado, foco na qualidade dos grãos e eficiência de produção. Quem souber navegar nisso com certeza vai se dar muito bem”.  

9. Base de soja 

“O produto hoje é feito à base de soja. Mas a nossa maneira de ver tecnologia e matéria-prima é muito uma função do que é possível produzir com ela”.

“Nosso objetivo é ter um produto que seja delicioso, que entregue gosto e textura, que seja escalável, que eu consiga produzir e vender no mundo inteiro, que não tenha barreiras comerciais, que não seja um produto que o governo não autorize vender em tal país, e que tenha um custo acessível”. 

“Hoje, juntando todos esses aspectos, a soja é a melhor resposta. Mas não significa que a gente vai para sempre ficar na soja. Podemos. Mas hoje, dada a nossa avaliação de centenas de diferentes grãos e diferentes texturas de vegetais, nós optamos pela soja”.   

10. Novos produtos

“Têm dois níveis para isso. Do ponto de vista Tindle, que é um frango a base de plantas, a gente vai ter expansões de produtos. Pode ser um nuggets, um hambúrguer de frango, uma almôndega de frango, qualquer coisa que você faria com frango em produtos já pré preparados. É uma coisa que, com certeza, vamos ter tanto para um perfil asiático quanto para um perfil ocidental”. 

“Um outro ângulo é que, na Next Gen Foods, não vamos parar por aí. Vamos ter outras marcas, outras categorias, vamos ter mais produtos com o passar do tempo. Nosso foco, no entanto, agora, é crescer Tindle, é fazer Tindle se estabelecer como líder global de frango a base de plantas.  

Texto: Claudia Bredarioli

Imagens: reprodução e Unsplash

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