Como estão operando as empresas de setores primordiais, como saúde e alimentação, em tempos de exceção? Este foi o tema do terceiro encontro da série LIVE 300 CEOs realizada nesta sexta-feira, 3 de abril. O CEO do Experience Club, Ricardo Natale, recebeu Bernardo Ouro Preto, do St. Marche, Ricardo Roldão, do Roldão Atacadista, Pedro Batista, do Hospital Sancta Maggiore/Prevent Senior e Deusmar Queiroz, da Pague Menos (a partir do alto à esq., na imagem). O debate contou com patrocínio da CBRE, Neoway e Zenvia.
À frente do hospital Sancta Maggiore, da rede Prevent Senior, que tem 10 mil funcionários no estado, espalhados por 60 unidades, e responde pelos cuidados de 25% da população idosa de São Paulo (470 mil idosos), Pedro Batista falou sobre os aprendizados deste período e foi taxativo: “quarentena e isolamento social é fundamental, isso não tem discussão”.
A operadora Prevent Senior foi alvo de questionamentos por parte do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e chegou a ser notificada pelo Procon-SP para prestar esclarecimentos acerca de 79 óbitos referentes à covid-19 ocorridos nos últimos dias nos hospitais da rede. Pedro iniciou sua fala explicando que a operadora está seguindo os protocolos e recomendações da Organização Mundial da Saúde e o exemplo bem-sucedido de países como Alemanha, Japão e Taiwan.
“Isolamos hospitais para pacientes que estão com o vírus. Ao fazermos isso, é possível concentrar os aprendizados sobre a especificidade da doença, a evolução das terapias e o treinamento da equipe” – Pedro Batista
Três hospitais da rede estão dedicados ao covid-19 e o restante atende aos demais beneficiários que continuam com suas demandas, conforme esclareceu.
A operadora está em campanha incentivando o isolamento social para seus beneficiários. Uma das medidas para isso tem sido através das consultas virtuais. Desde o início de março, já foram feitas 420 mil ligações de médicos para pacientes e mais de 35 mil consultas via telemedicina. A Prevent Senior está operando com um sistema de atendimento de teletriagem, criado em parceria com a Zenvia, por meio do qual o paciente responde a um questionário e, na sequência, é encaminhado a uma atendimento com um profissional de saúde da operadora.
RAPIDEZ NA AVALIAÇÃO
“A gente precisa desenvolver na população a capacidade de identificar os sintomas do covid-19 nos primeiros 3 ou 4 dias. Quando as pessoas chegam ao hospital, com as orientações atuais, 25% do pulmão já estava comprometido. Não podemos esperar 7 dias de sintomas para entrar com tratamento. Quanto mais precoce a aplicação de medicamento, mais apropriado”, explica.
O diretor executivo da Prevent Senior explica que este procedimento foi crucial para o número atual de 200 pacientes em alta hospitalar, na faixa dos 50 aos 93 anos, que trataram a doença de forma adequada, desde os primeiros sintomas e seguem em quarentena em casa com acompanhamento diário via telemedicina. Outro ponto enfatizado por Pedro é que é preciso criar padrões e protocolos mais claros para a população, além de elaborar em conjunto com os empresários medidas de controle e prevenção para seus funcionários.
“Nunca subestime um dado que possa te nortear para o rumo correto. Um erro pode não ter volta”, acrescentou o médico e executivo da Prevent Senior. Descobrir novos protocolos para enfrentar a contaminação é um caminho importante, enquanto a sociedade civil e as empresas se mobilizam para atenuar os efeitos negativos da quarentena prolongada.
“Precisamos trabalhar em um movimento empresarial que ajude a pensar em soluções para a retomada” – Deusmar Queirós
O fundador da Pague Menos lembrou ainda que o Brasil é um país desbancarizado e muitas pessoas sequer estão no Cadastro Único.
AÇÃO NO VAREJO
A informação foi uma aliada importante na tomada decisões para as redes de varejo de artigos essenciais. O maior desafio foi antever o comportamento de consumo e estabelecer um protocolo sanitário rigoroso para os colaboradores, já que em nenhum momento se cogitou o fechamento dos supermercados.
Bernardo Ouro Preto, cofundador do St Marche, que também é sócio do Eataly no Brasil, conta que seu time fez um acompanhamento detalhado do que vinha acontecendo na Europa para avaliar de que forma o coronavírus se compartira no Brasil, antes do anúncio da quarentena.
Para isso, contou com sua rede de contatos entre fornecedores e parceiros na Itália, Espanha e outros países europeus mais afetados, de onde o St Marche importa produtos diversos.
“O que aconteceu na Europa foi um pico de vendas de 20% até 40% nos primeiros dez dias e depois uma estabilização entre 10% e 15%. Foi exatamente o que aconteceu”, relatou. De fato, algumas lojas da cadeia, que atende aos públicos de classe média alta e alta, chegou a ter crescimento de até 250% nas vendas no ápice do movimento de estocagem feito pela população. O empresário calcula que, após um mês de lockdown, é espera um novo pico de reabastecimento dos domicílios.
O desafio, agora, é garantir o sortimento, em momento de interrupção no fluxo de importações, ao mesmo te
mpo em que trabalha para ajudar a manter o mercado funcionando, sobretudo os pequenos fabricantes.
“Criamos um projeto e já recebemos contato de 500 produtores artesanais para revender nas nossas lojas. Devemos apoiar os pequenos, como boas rotisseries de bairro, que estão de portas fechadas” – Bernardo Ouro Preto
Na outra ponta do mercado, Ricardo Roldão, fundador do Roldão Atacadista, sentiu queda nas vendas, já que 35% da sua clientela é formada pelos “transformadores”, pequenos restaurantes e lanchonetes. “Pelos números da APAS, o setor de atacado teve queda de 20% em todo o Brasil”, afirmou.
Assim como Ouro Preto, o empresário está preocupado com o rompimento da cadeia dos pequenos negócios. Para isso, o site do Roldão criou um canal de informação direta para facilitar a busca por linhas de créditos especiais nos bancos públicos e privados.
“Nosso papel como líderes neste momento é ajudar os pequenos empreendedores, que respondem pela renda de milhões de famílias em todo o país” – Ricardo Roldão
Para finalizar, a mensagem é clara. “Todo extremismo é burro e neste caso pode ocasionar a morte de pessoas”, diz Batista. Para ele, esta é uma oportunidade de o Brasil liderar avanços. “Quem sabe possamos pensar em parcerias, como por exemplo totens de telemedicina espalhadas em farmácias pelo país?”.
Texto: Arnaldo Comin e Luana Dalmolin
Imagens: Experience Club