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“No futuro, pouquíssimas empresas não aceitarão criptomoedas”

Renata Mancini Lopes, nova presidente da Associação Brasileira de Criptoeconomia, aposta que arcabouço legal e educação financeira darão mais credibilidade e transparência ao segmento, hoje frequentemente associado a golpes e fraudes   

O céu parece ser o limite quando o tema é a criação de criptomoedas. Enquanto você lê esta matéria, não duvide, em alguma parte do planeta, alguém estará desenvolvendo, com base em algum projeto, desejo ou visão de mundo, algum novo ativo dessa natureza. 

Desde 2008, quando surgiu o Bitcoin, hoje a mais famosa dessas moedas, a roda nunca mais parou de girar nesse segmento. E a velocidade só aumenta. 

De acordo com o CoinMarketCap, site de rastreamento de criptomoedas, há mais de 17 mil delas em circulação atualmente. 

Essa imensidão toda traz à tona um desafio da mesma proporção: separar o joio do trigo, o que tem lastro do que pode ser simplesmente o caminho para cair numa fraude ou golpe. 

Um Projeto de Lei, em tramitação no Congresso, pretende regular o segmento e criar um ambiente que iniba esses escândalos. “É muito importante viver esse momento, de regulamentação, com o marco regulatório que virá, e tentar desmistificar e tirar a visão criminosa que há em torno do mercado cripto”, diz Renata Mancini Lopes, que, há pouco mais de um mês, foi eleita presidente da Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABCripto). 

“Muitas pessoas acham que o mercado só serve para lavar dinheiro. Na verdade, segundo estudos que fizemos, o percentual de lavagem de dinheiro do segmento cripto é muito pequeno na comparação com o mercado financeiro como um todo.” 

Nesta entrevista ao Experience Club, a executiva diz ainda que aposta na educação financeira para fomentar o mercado. Leia a seguir os principais trechos.     

É importante porque:

  1. As criptomoedas e a tecnologia por trás delas, o blockchain, são vistas como muito promissoras para uma série de negócios. Mas a alta volatilidade, fraudes, o uso para lavagem de dinheiro, a cobrança de resgates em cibercrimes e golpes de pirâmide mancharam a reputação do segmento.
  2. Nos últimos anos, uma série de medidas vêm sendo tomadas para reduzir os problemas tradicionalmente associados às criptomoedas e permitir que se institucionalizem. A regulamentação é um passo fundamental nessa direção. Retrabalhar a imagem do segmento, é outra.
  3. Com a regulamentação, uma série de empresas que hoje não usam criptomoedas por questões de complience ou insegurança jurídica terão menos barreiras para fazê-lo. E pode haver um novo boom no segmento.
  4. A regulamentação tende a abrir uma série de oportunidades na área, tanto para empresas fornecedoras de serviços quanto para profissionais especializados da área.

1 – Liderança feminina

“Ter sido eleita é uma grande demonstração da mudança do segmento, tão inovador e novo. Mostra que o setor financeiro tradicional e de tecnologia, majoritariamente masculino, vêm quebrando paradigmas, trazendo uma mulher como presidente.” 

“Tenho vinte anos de experiência no mercado financeiro regulado. Estar no mundo cripto é um desafio na minha carreira.” 

“A ideia de aceitar o desafio (de presidir a entidade) é ver esse segmento regulado e aproveitar minha experiência.” 

“Trabalhei em diversas instituições. B3, Brasilprev, em bancos nacionais e internacionais.” 

2 – A importância da regulação e da autorregulação 

“Tive a experiência de viver todos os reguladores: CVM, Banco Central, Susep e B3, como autorreguladora. Mas esse mercado já estava estruturado. O segmento de cripto nasceu, em 2008, como Bitcoin, e desde então temos moedas diferentes e formas de operar diferentes.” 

“A chegada da regulação, que já passou pela Câmara e vai para o Senado, deve ser muito boa para o segmento. Lógico que temos de pensar em uma regulação equilibrada.” 

“A discussão que há em torno do Projeto de Lei está em linha com o mercado regulado. Tem tudo para vir uma regulação que será melhorada ao longo do tempo.” 

“A nova regulação vem para estipular a parte de governança, controles internos e controles necessários à prevenção contra a lavagem de dinheiro.” 

“O Banco Central, e não a CVM, deve ser, naturalmente, o regulador.” 

“As exchanges terão de passar por regulamentação.” 

“A regulamentação visa acabar com os golpes e pirâmides. Mas é importante lembrar que pirâmides existiam antes dos criptos.”   

“Muitas vezes associam o segmento cripto a coisas erradas. Já está provado, com números, que mais de noventa por cento da lavagem de dinheiro é feita pelo mercado tradicional.” 

3 – Educação financeira 

“A associação tem, neste ano, um grande desafio, fazer acontecer o lado educacional. Devemos soltar nos próximos meses uma cartilha educativa do segmento e teremos um congresso, no segundo semestre.” 

“A ideia é, cada vez mais, trazer clientes para o segmento, mas que entendam o nosso mercado. E tirar, lógico, essa coisa do ranço criminoso, que existe em relação ao segmento de criptomoedas.” 

“As corretoras têm se preocupado com isso e trazido canais para educar os investidores.” 

“A grande maioria dessas fraudes te prometem rendimentos absurdos com criptos. Você tem lá o Faraó dos Bitcoins e pessoas que prometiam rendimentos muito mais altos do que os convencionais, num segmento de alta volatilidade.” 

“As pessoas acreditaram naquilo, quebraram e nunca mais vão ver os recursos, porque aquilo é uma casca sem lastro.” 

4 – Cripto é reserva de valor? 

“Uma moeda centralizada, que tem um Banco Central por trás, tem um regulador tomando conta. Já um Bitcoin é descentralizada. O que existem são estruturas de blockchain, que garantem que a moeda não irá desaparecer.“ 

“Uma criptomoeda não é algo que você pega. Ela está em outro ambiente. É um ativo digital que está registrado no blockchain e ninguém apaga isso.” 

“É como se fosse um livro-razão de contabilidade. Todos que participam da rede têm uma cópia. Se você quiser apagar uma cripto, terá de apagar todas as outras. O negócio é muito seguro e inovador.” 

“Nosso dinheiro fiduciário vai continuar existindo. Mas, no futuro, serão pouquíssimas as empresas que não aceitarão pagamentos por criptomoedas.” 

“As criptomoedas são, nesse sentido, uma reserva de valor.” 

5 – Mercado em ebulição 

“Hoje, o mercado de cripto ainda não tem uma certificação. Acredito que, nos próximos anos, depois da regulação, isso deve ser tornar uma coisa obrigatória, naturalmente. Isso pode acontecer com a ABCripto sendo a autorreguladora do segmento.” 

“O mercado de cripto não tem gênero. Cabe todo mundo nesse mercado. Muita gente do mercado regulado está vindo. Não há profissionais formados, em grande quantidade, com experiência nessa área. Tem gente pulando de uma corretora para a outra.” 

“Houve um boom nos últimos dois anos e, em 2022, isso deve ser ainda mais forte.” 

“É um mercado que traz profissionais de todas as áreas. E, claro, também precisa de muito desenvolvedor.” 

6 – O céu é o limite 

“Você escuta de tudo: criptomoeda, token, NFT e tudo que ainda surgirá”.  

“Quais moedas escolher: Bitcoin e Ethereum, sem sombra de dúvidas, as mais conhecidas. E as outras? Para você escolher, é preciso entender qual o projeto por trás da criptomoeda para saber se tem apetite ou não para aquele risco.” 

“O investidor que de fato conhece criptomoedas tem uma cesta. Aplica em várias. Não coloca todo risco dele num lugar só.” 

“O céu é o limite para criptomoedas.” 

“Por isso, é importante se debruçar e entender qual o projeto por trás de cada uma.” 

7 – Custódia dos ativos

“Um dos pontos que a regulação deve trazer, do ponto de vista de governança, é separar claramente o que é da corretora e do cliente e também onde guardar esses ativos.”  

“Da mesma forma que existe a custódia no mercado regulado, há também no mercado cripto. E há várias formas de fazer essa custódia. O cliente pode deixar as criptomoedas na corretora, dentro da sua wallet.” 

“Os criptos também podem ficar numa cold wallet, que é oferecida por uma empresa que tenha protocolos de segurança, certificações, duplo fator de autenticação.” 

“Quando você deixar com a corretora, se ela for associada à ABCritpto, ela já segue um código de autorregulação que fala de lavagem de dinheiro e ética. E nesse código está clara a importância da custódia para o segmento.” 

“A grande maioria das corretoras envolvidas em casos de fraudes e pirâmides não tinham seus ativos custodiados dessa forma.”

Foto: Shubham Dhage / Unsplash

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