A disputa recente entre o governo Australiano, o Facebook e o Google acerca do pagamento a veículos de comunicação pelo uso de notícias em suas plataformas é um caso emblemático da urgência da regulação das grandes companhias de tecnologias. As chamadas big techs se tornaram poderosas demais para serem deixadas soltas. Mas, para que isso seja possível, a mobilização de países isoladamente não será insuficiente. A pressão terá que vir de uma ação coordenada entre as principais economias mundiais. Esta é, síntese, a visão apresentada por Amy Klobuchar, senadora americana, e por Margarethe Vestager, vice-presidente executiva da Comissão Europeia, durante o painel Forging a New Social Contract for Big Tech, no quarto dia do SXSW 2021.
Para a senadora americana, a pandemia resultou no fechamento de centenas de milhares de negócios. Mas as grandes companhias se tornaram ainda maiores e mais agressivas, como mostra o exemplo da queda de braço com o governo australiano, afirma. “Você vê como eles estão sendo agressivos na Austrália, e nos seus marketplaces. E continuam a adquirir companhias”, diz a parlamentar. “Sabemos que não será fácil”.
O evento contou ainda com a participação de Tristan Harris, presidente e cofundador do Center for Humane Technology e um dos principais entrevistados no filme O Dilema das Redes, sobre os impactos nocivos das redes sociais sobre a democracia e a sociedade. Para Harris, que abriu a fechou o painel, o poder acumulado pelas big techs é um poder de uma nova espécie, com a qual nunca lidamos. E a única forma de lidar com ele é através de uma regulamentação apoiada por uma mobilização pública massiva, afirma.
As condições para que isso aconteça nunca foram tão boas, avaliam os três. Há novas leis de privacidade e para a contenção de monopólio em discussão tanto nos Estados Unidos quanto na Europa. E uma consciência muito maior do público e dos governos mundo afora, depois de episódios como a invasão do Congresso, nos Estados Unidos. “Temos uma grande oportunidade aqui. As democracias mais antigas do mundo estão reagindo. Os australianos, os canadenses, os indianos, os sul coreanos e os japoneses também. Em todo o mundo, há um debate que não havia há quatro ou cinco anos atrás”, afirma Margarethe, da Comissão Europeia.
Mas é preciso correr contra o tempo e agir com urgência, diz. Para a representante da União Europeia, ao mesmo tempo em que se discute a questão, as ações das grandes companhias de tecnologia ganham mais e mais valor de mercado, e os efeitos de rede de suas plataformas aumentam com a chegada de novos usuários, aumentando o enorme poder que já têm. “Se quisermos combater o aquecimento climático, preservar a democracia e ter mais justiça social, não há jeito de esperamos. Temos que ter o controle sobre o lado negro da tecnologia. Garantir o direito de sermos esquecidos, de escolher, de controlar seus dados”, afirma. “Chegou o momento de agir para que as coisas mudem”.
Veja outros destaques do painel:
1- “O poder dessas companhias está baseado no domínio de mercados, na compra de competidores ou em impedir que cresçam”, Amy Klobuchar.
2 – “Uma boa parte do trabalho será construir relações ao redor do mundo para trabalhar de forma integrada com todos”, Amy Klobuchar.
3 – “Temos tradições legais diferentes nos EUA e na EU, mas acredito que compartilhamos valores como o cuidado como a privacidade e a competição justa”, Amy Klobuchar.
4 – “Vemos surgir empreendedores e tecnologias incríveis, que são escanteadas pelas big techs”, Margarethe Vestager.
5 – “Leis antitruste não serão suficientes. Precisamos de mais. Precisamos que a democracia alcance a tecnologia”, Margarethe Vestager.
6 – “A privacidade deveria ser default em serviços que tratam os dados das pessoas como matéria-prima para o seu próprio negócio. Precisamos ser capazes de confiar na tecnologia, para que possamos tirar o máximo proveito dela”, Margarethe Vestager.
A seguir, os destaques de outras atrações do quarto dia do SXSW 2021:
Digital e confiável
Neesha Hathi, vice-presidente executiva e Chief Digital Officer da Charles Schwab, foi a atração do painel Building Digital Trust in a Transformed World. Entrevistada por Devin Banerjee, editor sênior no LinkedIn, a líder da equipe responsável por definir estratégias de transformação digital da companhia falou sobre como coloca a companhia na direção da vanguarda da inovação na indústria de serviços financeiroser, ao mesmo tempo, a confiança dos consumidores.
A seguir, alguns dos principais destaques do painel:
1 – “Temos visto a colisão de algumas tendências. A primeira é o engajamento digital. Há também um crescimento de novos investidores. E um foco em saúde e bem estar. A pandemia gerou uma preocupação também com a saúde financeira. Todos esses são fatores impulsionando o aumento de engajamento que estamos observando”.
2 – “A mídia fala muito em day trade. Mas estamos vendo também um crescimento muito grande em planejamento financeiro. Os investidores já não querem comprar apenas uma ação da Amazon. Querem entender de forma mais ampla como investir”.
3 – “Há um aumento das expectativas em relação às experiências digitais, à integridade das instituições com quem o consumidor se relaciona, à transparência, ao alinhamento de valores. É uma sensação geral de que deveríamos receber mais pelo que estamos oferecendo como consumidores”.
4 – “A forma como as pessoas decidem em quem confiar mudou. Não é mais necessariamente por causa de uma grande marca. Para algumas pessoas, sim. Mas outras vão conversar com pessoas que conhecem ou buscar informações no Reddit. A marca já não é o único fator.”
5 – “Para ganhar a confiança dos millenials, consistência das ações ao longo do tempo é fundamental. Mas é preciso também entender de verdade as necessidades e desejos dos investidores jovens. E não tratá-los como um grupo homogêneo.”
Criatividade que leva à mudança (curadoria de André Farias)
O painel “Creativity that Leads to Change”, foi marcado por uma conversa entre Marc Pritchard, Chief Brand Officer da Procter & Gamble, Tiffany Warren, vice-presidente executiva e diretora de diversidade e inclusão da Sony Music Group; Keith Cartwright, presidente e CCO da Cartwright, e Justine Armor, diretora de criação na Grey Advertising. O bate-papo girou em torno do papel das marcas na criação de uma abordagem mais genuinamente inclusiva e diversificada no setor de publicidade.
Confira importantes dois destaques do painel:
1- “Não importa onde você esteja na jornada, uma das mais poderosos ferramentas que temos é a criatividade. A criatividade tem um poder único para sacudir as opiniões, mudar mentes e impulsionar a mudança”, Marc Pritchard.
2- “Quando a gente compartilha momentos de mudanças na nossa carreira e no nosso modo de pensar, ajudamos a mudar um pouco mais o mundo. Como mulher negra, tenho muito a compartilhar com o time e todos a minha volta”, Tiffany Warren.
Terceiro dia
“Ter uma carreira à prova de futuro significa fazer coisas que nunca fizemos antes”
Ann Hiatt, estrategista de liderança que já trabalhou com Jeff Bezos, da Amazon, no painel Future-proof Career Strategies, no terceiro dia do SXSW 2021
Em um mundo em rápida transformação, como o atual, é cada vez mais difícil prever quais serão as competências demandadas no futuro. Por isso, modelos de aprendizado e carreira engessados, voltados ao desenvolvimento de excelência em uma função específica, já não funcionam como antes. A alternativa para se manter relevante no médio e no longo prazo, para Ann Hiatt, estrategista de liderança que já trabalhou com empreendedores como Jeff Bezos, da Amazon, é apostar em algo que lhe dê satisfação, estabelecer objetivos ambiciosos, prepara-se para eles e seguir os passos de quem já tenha chegado lá.
A consultora foi um dos principais destaques do terceiro dia do SXSW 2021, com o painel Future-proof career strategies “Construir uma carreira à prova de futuro significa fazer consistentemente coisas que nunca fizemos antes. Isso pode ser meio intimidador, mas é mais uma barreira mental do que qualquer outra coisa”, afirma.
Com base em sua experiência de cerca de duas décadas, que inclui também passagens por empresas como o Google, a consultora conta que desenvolveu uma metodologia própria para ajudar profissionais de diversas áreas a se manterem relevantes. O modelo foi batizado de Personal ROI, mas não tem relação com retorno sobre investimento (return over investment, em inglês). E sim com as três etapas em que se divide: Recognize (reconhecer), Own (possuir) e Implement (implementar).
Na primeira delas, é preciso decidir onde se quer chegar, e com quem. É um processo que, segundo Ann, demanda que o profissional defina o que é sucesso para si e trace um plano de ação que irá orientar outras decisões que irá tomar para alcançar o objetivo final. Isso envolve responder a questões como a que público gostaria de atender, o que gostaria de colocar no mundo e deixar como legado e porque isso é importante, em um nível pessoal e para o público que pretende atender. A partir daí, afirma a consultora, pode-se entender melhor com que indústrias se alinhar e que tipo de oportunidade de trabalho mais vai contribuir para o sucesso da empreitada. “Essa paixão vai impulsioná-lo em direção aos seus objetivos, e vai mantê-lo no auge de suas habilidades e à prova de futuro”, diz.
A segunda etapa diz respeito a reinvestimentos constantes em novas competências, na expansão de redes de contatos e na reinvenção de si próprio. Nela, o profissional decide onde colocar seus recursos e seu tempo. É também o momento de estabelecer novas expectativas, afirma Ann. Não só para si próprio, mas também para as pessoas ao redor, para que comecem a vê-lo e a tratá-lo de uma nova forma. “Pode ser um pouco intimidador no começo, porque você vai desafiar seu status quo, vai sair da sua zona de conforto. Mas é a melhor forma de você ajustar suas habilidades e sua rota de crescimento”, diz.
Para isso, uma dica de Ann é criar uma trilha de experiências e qualificações com base na trajetória de pessoas que já chegaram onde se quer chegar. Outra, é cultivar relações não apenas com pessoas com quem se tem fortes afinidades, mas também com que se tem laços fracos, baseados em coisas superficiais, como a paixão pelo mesmo time de futebol ou por um autor específico. “Porque são as pessoas que vão levá-lo a se questionar sobre coisas que talvez não se questiona-se de outra forma”, afirma. “É quando as oportunidades que mudam o jogo aparecem”.
A última etapa, segundo a consultora, é a de implementação. O segredo, neste caso, diz, é criar ativamente um plano de ação, muito propositivo, em vez de reacionário, em na direção em que se quer ir. Ann, em particular, diz que sempre procurou observar se as empresas em que estava entrando tinham programas sólidos de investimento em educação continuada, equipes altamente engajadas e, principalmente, ausência de complacência.
“Eu sintetizaria tudo isso em uma coisa só. Se você realmente quer estabelecer uma reputação de ser alguém que faz as coisas acontecerem; que aceita os riscos certos, que embarca em projetos e que desafia o status quo, não para si mesmo, mas pelo grupo; de que é consistentemente quem eleva o nível do jogo e dá a todos a coragem para assumir riscos calculados, não se torne complacente. Essa reputação vai fazer com que seja lembrado por colegas e convidado para trabalhos, se tornando sua carreira à prova de futuro”.
Veja alguns destaques da apresentação:
1 – “Transformar desafios em eixos de ação, e mudar nossa mentalidade, é o que realmente nos coloca no controle para alcançar ainda mais sucesso do que poderíamos imaginar se possível de outra forma”.
2 – “Ter uma carreira à prova de futuro significa fazer coisas que nunca fizemos”.
3 – “Sair da zona de conforto pode ser meio intimidador, mas é mais uma barreira mental do que qualquer outra coisa”.
4 – “Se quiser tornar sua carreira a prova de futuro, precisa e cerca de pessoas curiosas que estão constantemente ampliando seus limites e habilidades”.
5 – “Uma forma de decidir se deve ou não se arriscar em uma nova oportunidade é se questionar se, no futuro, vai se arrepender mais de ter assumido o risco ou de ter deixado a oportunidade passar”.
Confira abaixo outro destaque do dia no SXSW 2021:
AI emocional
O painel The Future of Emotion AI & The Empathy Economy, um dos destaques do dia, foi comandado por Rana el Kaliouby, cofundadora e Chief Science Officer da Affectiva, uma empresa de AI nascida nos laboratórios do MIT. Pesquisadora de origem egípcia, com mais de 20 anos de experiência na área, ela falou sobre como a nova tecnologia de leitura facila vem sendo usada para melhorar a comunicação entre homens e máquinas e mesmo entre humanos, em ambientes virtuais.
Abaixo estão alguns dos destaques da apresentação:
1 – “Apenas 10% da comunicação humana é verbal. Os outros 90% se perdem, em alguma medida, na comunicação virtual. Mas já há muita coisa sendo feita em IA para captar essas nuances.”
2 – “Hoje, com base nos movimentos faciais, podemos usar câmeras para captar uma série de emoções”.
3 – “Um dos primeiros usos dessa tecnologia foi com crianças autistas. No MIT, criamos uma espécie de Google Glass com um programa para dar a elas um retorno imediato dessa leitura de face. E essas crianças começaram a fazer contato visual”.
4 – “Hoje, um dos principais usos a IA emocional é em pesquisas de mercado, para saber qual a reação de consumidores. Mas ela pode ser usada para avaliar a saúde mental de um trabalhador, ou a fadiga de um motorista. Ou ajudar um carro autônomo a personalizar o conteúdo apresentado de acordo com o passageiro.
5 – “Acredito que a inteligência artificial emocional vai ser onipresente no relacionamento entre humanos e máquinas. E talvez se torne ainda mais importante ao nos permitir reimaginar a comunicação entre humanos. Mas temos que pensar também nas possíveis consequências não intencionais da adoção dessas tecnologias”.
Segundo dia
“Precisamos construir pontes entre a cidadela da ciência e o público em geral”
Yuval Noah Harari, historiador autor de Sapiens e Homo Deus, foi um dos destaques do painel Why Do We Fear Innovation, no segundo dia da edição online do SXSW 2021
A comunidade científica e os cientistas, individualmente, precisam reservar tempo e encontrar formas de traduzir questões muito complexas para uma linguagem acessível às pessoas comuns. Seja acrescentando verbetes a Wikipedia, seja reservando algum tempo para entrevistas a programas de rádio ou outros meios de disseminação massiva de informação. O risco de não o fazerem, é deixar o espaço livre para que seja ocupado por pessoas muito mais irresponsáveis fazerem isso. Quem afirma é o historiador israelense Yuval Noah Harari, um dos destaques do segundo dia da edição online do SXSW 2021, durante o painel Why do We Fear Innovation. “Precisamos construir pontes entre a cidadela da ciência e o público em geral”, diz.
Além de chamar a atenção para a questão da desinformação, o autor dos best sellers Sapiens e Homo Deus, sobre a evolução e o futuro possível da humanidade, tratou também do que considera as três maiores ameaças a sobrevivência da espécie: guerras nucleares, o aquecimento global e a bioengenharia. Das três, porém, afirmou que a que mais o preocupa é a terceira, porque não há consenso quanto à direção a seguir.
“Se você quiser regular a bioengenharia, vai precisar de um acordo global, ou não vai funcionar”, afirma. “Se alguém for capaz de criar soldados mais disciplinados, ou cientistas mais capazes, ninguém vai querer ficar para trás. Não vejo condições de desacelerar esse movimento a não ser que se consiga que americanos, russos, chineses e europeus cheguem a um acordo”.
Quanto à questão climática, Hahari disse que a única saída para a humanidade será encontrar formas de manter o crescimento econômico sem destruir o meio ambiente. Parar a economia não seria possível, disse. “Crescer economicamente é o objetivo de todo governo. A economia gira em torno do crescimento econômico futuro. Grandes companhias, como a Tesla, fazem hoje pouco dinheiro. Vivem da expectativa de crescimento futuro. Por isso, como sustentar o crescimento econômico sem destruir o meio ambiente é a grande questão.”, afirma.
O painel contou também com a participação da atriz e autora PhD em neurociência Mayim Bialik, dos seriados Beaches, Blossom e The Big Bang Theory, e também apresentadora do podcast Breakdown, sobre mitos e questões mal compreendidas relacionadas à saúde mental e emocional. Questionada sobre como os cientistas podem ser melhores contadores de históricas, disse que, em seu caso, a busca sempre foi por nuances, por visões diferentes de um mesmo assunto. “Acho que perdemos a capacidade de enxergar as nuances do mundo. Minha esperança é restaurar uma noção de civilidade”, afirma.
Veja alguns dos destaques do painel:
1 – “Como sustentar o crescimento econômico sem destruir o meio ambiente é a grande questão”, Yuval Noah Harari.
2 – “Acho que perdemos a capacidade de enxergar as nuances do mundo. Minha esperança é restaurar uma noção de civilidade”, Mayim Bialik.
3 – “Os cientistas precisam encontrar formas de traduzir questões muito complexas para as pessoas comuns. Se não o fizerem, deixarão espaço para que pessoas muito mais irresponsáveis o façam”, Yuval Noah Harari.
4 – “Minha esperança é que as conversas inclusivas sobre direito à vacina se estendam também à saúde mental e a outras questões”, Mayim Bialik.
5 – “No nível científico, estamos em posição melhor do que em qualquer período da história para combater a pandemia. Se falharmos, será um fracasso político. Será porque sofremos de falta de sabedoria”, Yuval Noah Harari.
A seguir, os destaques de outras atrações do segundo dia do SXSW 2021:
Indústria da hospitalidade
A indústria da hospitalidade foi, sem dúvida, uma das mais profundamente afetadas pela pandemia da Covid-19. Intimidadas pela possibilidade de contágio, ou proibidas por medidas restritivas impostas pelo poder público, a maior parte das pessoas deixou de frequentar restaurantes, de viajar e se hospedar em hotéis e resorts. Uma infinidade de negócios do ramo acabou por fechar as portas, ou segue trabalhando com dívidas, em condições muito precárias. Alguns, porém, foram capazes de se adaptar, abrindo novos canais de venda, entrando em novos nichos e/ou contando com o apoio das comunidades no entorno. Três dessas histórias foram contadas no painel “Leading Safely + Motivating Empathetically, um dos destaques do segundo dia da edição online do SXSW 2021.
1 – “A pandemia foi o grande reset da nossa geração. O que a oi talvez a Segunda Guerra para gerações passadas”, Marcus Samuelsson, chef e dono do Marcus Samuelsson Group.
2 – “A coisa mais importante de que nos demos conta na pandemia foi a importância da comunicação. O quão importante é envolver os funcionários antes de tomar uma decisão”, Katie Button, chef e dona da Katie Button Restaurants.
3 – “Na indústria da hospitalidade, ter espaço entre as pessoas é o novo luxo, e vai se tornar cada vez mais importante”, Andy Chabot, vice-presidente de alimentos e bebidas da Blackberry Farm + Blackberry Mountain.
4 – “O virtual é hoje um componente do que somos e do que fazemos. Acho que vamos seguir adicionando formas de como nos relacionamos com nossos clientes, e isso é excitante”, Katie Button.
5 – “Eu espero que empatia é seja a palavra de 2021. Temos privilégio e oportunidade de segurar a barra e possivelmente vamos crescer. Mas a maioria das empresas do setor, não. Então, como eu consigo ajudar o resto da comunidade? Como eu uso meus recursos para ajudar um parceiro que precisa a navegar nessa situação?”, Marcus Samuelsson.
Criatividade na crise
Scott Belsky, chief product officer e vice-presidente executivo da Creative Cloud Adobe, foi a atração do painel Creating Through a Crisis. Em um bate papo com Debbie Millman, autor, educador e apresentador, da The School of Visual Arts, falou sobre a importância crescente que criatividade vem ganhando no mundo do trabalho e sobre o impacto de ferramentas tecnológicas, como a inteligência artificial e o ensino à distância, sobre a forma como interagimos e criamos.
Confira alguns dos destaques:
1 – “Há uma grande excitação com a IA e as diferentes formas de aumentar a produtividade. Com isso, cresce a preocupação com o futuro do trabalho. E em relação ao que podemos fazer ao invés de sermos apenas produtivos”.
2 – “O que só os humanos podem fazer é ser criativos. Por isso, temos que aprender as ferramentas para sermos mais criativos”.
3 – “Talvez no futuro nossos empregos serão mantidos pela capacidade de usar a criatividade para engajar as pessoas, a passar uma mensagem.
4 – “Acho que a inteligência artificial poderá um dia, sim, replicar a mágica da criatividade. Talvez, os algoritmos nos apresentem coisas inesperadas, que não veríamos de outra forma”.
5 – “A inteligência artificial, em última instância, é produto do que somos. Com ela, de certa forma, extraímos ideias de todos nós”.
Primeiro dia
“Não vale a pena prever o futuro: prepare-se para fazer a diferença agora”
Amy Webb, uma das estrelas da abertura da primeira edição online do SXSW, com o lançamento do 2021 Emerging Tech Trend Report
O mundo se tornou complexo e caótico demais para que seja possível tentar prever o futuro. Só no ano passado, o Future Today Institute identificou cerca de 500 novas tendências, 22% a mais do que em seu levantamento realizado no ano anterior. Por isso, em vez de imaginar como o mundo será em alguns anos, as empresas ganhariam mais se preparando hoje para lidar com tendencias já postas no cenário atual e ajudando a moldar o futuro que desejam. Está é, em síntese, a visão de Amy Webb, fundadora do Future Today Institute, apresentada no lançamento do seu 2021 Emerging Tech Trend Report.
Amy foi uma das estrelas da abertura da primeira edição virtual do SXSW, o tradicional festival de tecnologia e cultura realizado em Austin, no Texas, que começou nesta terça-feira, dia 16, com uma programação intensa de palestras.
Durante a apresentação de seu relatório de tendência, disponível gratuitamente online, a fundadora do Future Today Institute destacou três conjuntos de macro tendências. O primeiro engloba o que chamou de YoT (You of Things). Está relacionado a dispositivos que vestimos, ou que estão à nossa volta no dia a dia, e que, cada vez mais, são projetados para recolher nossos dados.
Um exemplo bastante próximo são os smart glasses, com capacidade para gravar e apresentar nas lentes uma série de informações sobre o mundo ao redor. Ou anéis que podem medir a temperatura corporal, batimentos cardíacos e outros indicadores de saúde. Ou ainda sistemas de controle de máquinas diretamente pelo cérebro. E tudo isso ligado e processado na nuvem. “Estamos em uma fase de transição, do celular para uma constelação de novos devices”, afirma.
O segundo conjunto de tendências, segundo Amy, está associado à mistura entre os mundos real e virtual, à forma como os dados são captados no digital e usados para influenciar a forma como as pessoas percebem o mundo real. Há casos, por exemplo, de uso terapêutico de jogos de computador, de janelas capazes de cancelar ruídos e de óculos que permitem ao usuário tirar ou acrescentar elementos à cena que está vendo.
No limite, será possível “ressuscitar” pessoas no mundo virtual, com base no histórico de suas redes sociais, criar cópias ou inventar novos seres vivos com engenharia genética. “Mas temos que começar aqui a endereçar algumas questões. O que acontece se alguém sintetizar alguém morto para falsear a história? Ou uma versão de você para cometer crimes?”, questiona Amy. “Ou ainda, quem decide que direção a vida vai tomar. Ou o que vai significar dar a luz no futuro?”
O terceiro conjunto de tendências está relacionado a mudança profunda no balanço de poder no mundo trazida pela pandemia da Covid-19, avalia a futurista. O uso de tecnologia de ponta para conter o vírus, como câmeras com sensibilidade à temperatura e sistemas digitais de vigilância para evitar a propagação do vírus, por exemplo, levaram as pessoas a aceitarem interferências sobre suas vidas que não aceitariam de outra forma.
De forma semelhante, grandes companhias de tecnologia hoje definem quem bloquear em suas redes sociais ou plataformas de comunicação. Em paralelo, vêm surgindo novas ferramentas e formas de ativismo virtual, ou “hacktivismo”. “O ano de 2020 deu origem a uma nova desordem mundial”, avalia Amy.
Por tudo isso, mais do que respostas, o futuro vai demandar pessoas que saibam fazer perguntas, afirma. Que novas tensões resultam desses novos sinais e tendências? Quais são as nossas premissas? Como podemos resolver as tensões surgidas com as novas tendências? “Hoje, é mais importante do que nunca fazer essas perguntas”, diz.
Confira mais algumas das principais citações da apresentação:
1 – “Sobreviver a uma pandemia e a um governo caótico não nos torna imunes. Pode acontecer de novo. Ninguém pode prever o futuro. E não há algo como a prova de futuro”.
2 – “Gastamos muito tempo julgando as pessoas por suas respostas, quando deveríamos julgá-las por suas perguntas”.
3 – “Nossos dados são usados e refinados para influenciar a forma como percebemos a realidade”.
4 – “O ano de 2020 deu origem a uma nova desordem mundial”
5 – “Não vale a pena prever o futuro: prepare-se para fazer a diferença agora”
Veja abaixo outros destaques do primeiro dia do evento:
Inovação cumulativa
No painel How to Disrupt Billion-dollar Industries, Jim McKelvey, cofundador da Square e autor do livro The Innovation Stack: building na unbeatable business one crazy idea at a time, conversou com o James Altucher, apresentador do podcast The James Altucher Show. No bate papo, contou como partiu de um pequeno problema com cartões de crédito para construir para uma das maiores empresas de serviços financeiros dos Estados Unidos, a Square, ao lado de Jack Dorsey, cofundador do Twitter. E apresentou sua visão sobre como inovar em um cenário em que tudo parece já ter sido feito.
“Não imaginamos que iríamos fazer uma companhia bilionária. Nossa intenção era resolver um problema pequeno e bastante específico”, contou.
A seguir, alguns dos principais destaques do painel:
1 – “Copiar, normalmente é a melhor forma de resolver um problema. Mas o fato é que você nunca vai construir um negócio importante, significativo, se não fizer algo único”.
2 – “O que eu percebi, pesquisando para o livro, foi um padrão. O de que pessoas focadas em resolver problemas que que afetam pessoas comuns são as que ocasionalmente criam inovações que dão origem a indústrias inteiramente novas”.
3 – “Eu acredito que há oportunidade para a construção de companhias inovadoras na base de praticamente todos os mercados”.
4- “Toda vez que algo novo foi feito na história da humanidade, foi feito por alguém que não era qualificado para aquilo. Você não pode ser especialista em algo que ainda não foi feito”.
5 – “O que é fascinante na inovação, é que todo dia temos uma nova ferramenta. Algumas coisas possíveis hoje eram absolutamente impossíveis de fazer há dez anos”.
Identidade virtual
Em apresentação solo, Vanessa Mason do Institute for the Future apresentou uma análise abrangente das muitas startups que estão trabalhando em soluções para aproximar as pessoas, fortalecendo o sentimento de pertencimento. Para ela, embora as plataformas de mídia social atuais nem sempre resolvam a necessidade humana de pertencer a um grupo, a próxima geração de aplicativos pode finalmente começar a lidar com essa demanda por uma conexão mais profunda.
“Startups são ferramentas poderosas para mudar o comportamento humano e a cultura de forma criar um lugar melhor para todos nós”, afirma.
Veja alguns dos destaques da apresentação de Vanessa:
1 – “Não é sobre não ter amigos, mas sobre a qualidade das relações. Qual é a real conexão?”
2 – “Pertencer está se tornando mais mutável, em termos de espaço, tempo e circunstâncias”
3 – “A tecnologia que constrói o pertencimento é relacional e não transacional. Há uma priorização das conexões acima da produtividade”.
4 – “O pertencimento acontece via design e não por acidente”.
5- “Nós não precisamos apenas imaginar um mundo melhor. Nós podemos criar e mergulhar em um mundo melhor”.
Marcas e diversidade
Principal analista e vice-presidente da Forrester, uma das maiores consultorias de mercado dos Estados Unidos, Dipanjan Chatterjee destacou na apresentação Gender, Race, and the Modern Brand Rethink, como o ano de 2020 levou a discussão da diversidade a um novo patamar, sobretudo em relação às tensões raciais provocadas pela morte de George Floyd por policiais no Estados de Minnesota, que reacenderam e deu escala global ao movimento Black Lives Matter.
“Nós assistimos ao movimento de mudança para uma consciência coletiva”, aponta, reforçando que a descrença nas instituições abre caminho para que as marcas assumam protagonismo nas transformações sociais.
Confira alguns dos destaques da apresentação de Chatterjee:
1- “As instituições estão desmoronando. Na Dinamarca, os jovens não acreditam mais na religião; no Japão, a solidão se tornou uma praga. Nesse vácuo, as marcas ocupam espaço e ganham legitimidade na cultura popular”.
2- “As empresas com maior valor de mercado do mundo – Microsoft, Amazon, Apple, Alphabet e Facebook têm em comum marcas relacionais, que conectam a sociedade”.
3- “Em 35 países, 50% da população discorda ou não tem certeza de que existam apenas dois gêneros, masculino e feminino. Nos EUA, 60% acreditam que as marcas devam se levantar em defesa da justiça racial”.
4- “Para enfrentar as forças da mudança, esteja atento e preparado. É preciso compreender que a companhia está inserida em um contexto de três níveis de relevância, abaixo do cliente e, por último, da comunidade”.
5- “Faça a diferença naquilo que tem de melhor. Conecte a diversidade de gênero e raça ao seu core business, e não apenas a um exercício de marketing”.
Dados e privacidade
Angela Benton, fundadora e CEO da Streamlytics, foi o destaque no painel Ethical Startups that Don’t Monetize Your Data. A Streamlytics é uma startup de ciência de dados que avalia o comportamento de usuários de serviços de streaming, o valor desses dados, e paga aos usuários por esse acesso, revendendo depois as informações anonimizadas ao mercado. Angela conversou com o escritor Anthony Ha, da TechCrunch, sobre o modelo de negócio de sua empresa e a demanda crescente no Ocidente por maior privacidade e controle sobre dados pessoais.
1 – “O mundo quer dados mais acurados, éticos e que lhe deem uma visão mais precisa do que está acontecendo”
2 – “Os dados estão no centro de tudo que fazemos como sociedade, agora. Mas em que dados esses algoritmos estão sendo treinados?”
3 – “Acho que mais companhias de tecnologia vão adotar uma abordagem assim, na medida em que as pessoas forem ficando mais indignadas com o uso abusivo de seus dados.”
4 – “Você pode querer compartilhar alguns dados pessoais específicos com uma empresa, e deve haver uma maneira de se fazer isso”.
5 – “Quanto mais o uso de dados pessoais tiver impacto (negativo) no mundo real, mais as pessoas vão passar a demandar mais dos legisladores leis para proteger a privacidade.”