Startup inspirada nos trabalhos do prêmio Nobel Richard Thaler, especialista em economia comportamental, busca diversificar atuação e prepara sua primeira rodada de investimento
Fique ligado:
- Diante das altas taxas de evasão escolar, que podem chegar a 50% no país, startup mescla Inteligência Artificial e princípios da Economia Comportamental para desenvolver ferramenta para engajar estudantes.
- Teoria de Richard Thaler, economista vencedor do Prêmio Nobel em 2017, é calcada na necessidade de que todos precisamos de estímulos, ou o famoso empurrãozinho para conquistar nossos objetivos.
- A iniciativa, que conta com a parceria com grandes empresas envolvidas na causa educacional, já impactou positivamente 5 milhões de famílias e alunos em 10 estados brasileiros e em países como Honduras, Guatemala e Costa do Marfim. Proposta é alcançar também educação privada.
Quando o economista norte-americano Richard Thaler venceu o prêmio Nobel, em 2017, sua área de pesquisa, a Economia Comportamental, passou a ter um novo status.
Desde então, a ideia de que os agentes econômicos não são racionais o tempo todo – ao contrário do que defende, com unhas e dentes, a teoria econômica clássica -, vem ganhando espaço e influenciando estudantes, governantes e empreendedores do mundo todo.
O trabalho de Thaler defende algo bastante simples. Para ele, todos precisamos de estímulos, aquele famoso empurrãozinho (nudge) para tomar as melhores decisões na vida, sejam elas, por exemplo, sobre cuidados de saúde, trabalho ou investimentos.
Um nudge, portanto, não é uma ordem, mas uma intervenção simples – e de baixo custo -, que busca alcançar um objetivo, com a maior eficiência possível.
E foi inspirada nessa ideia que surgiu a Movva, startup que mescla Inteligência Artificial e os princípios da Economia Comportamental para combater um dos principais problemas da educação brasileira: a evasão escolar.
“Foram muitos anos, de muito testes, até descobrirmos o que de fato funcionava. Com pesquisa, chegamos à conclusão de que os nudges têm um impacto muito relevante quando se fala de educação. O objetivo macro é manter todos os jovens matriculados e aprendendo. A empresa nasceu da pergunta: e agora como escalamos essa solução?”, recorda Caroline Schulz, Co-CEO da Movva.
Confira a seguir a entrevista da executiva ao [EXP], na qual ela conta sobre o desenvolvimento do negócio, os desafios e as oportunidades para levar os nudges para os estudantes do mundo todo.
Ciência na prática
A forma inicialmente encontrada para colocar a ideia em prática foi o que a empresa chama de nudgbots, que nada mais são do que mensagens de texto curtas, com cerca de 160 caracteres, enviadas por SMS, para estudantes ou seus pais – dependendo da idade dos primeiros –, e cujo conteúdo procura incentivar os estudos.
A Inteligência Artificial ajuda a calibrar a linguagem. Já a escolha do envio por torpedo e não por aplicativos de mensageria, tipo Whatsapp, aconteceu por uma razão simples. Com uma internet ainda bastante falha, de qualidade irregular e com parte da população do país sem acesso até mesmo à conexão, a entrega via SMS é mais efetiva.
Nova etapa
Trabalhar com o setor público foi fundamental para que a Movva conseguisse ter a escala e a penetração desejadas no mercado. Passada essa fase inicial, a empresa busca outros caminhos. Agora, o objetivo é ganhar espaço no ensino superior privado, que tem mensalidades para todos os bolsos.
O desafio, e oportunidade para a Movva, é que, historicamente, o segmento tem taxas de evasão altas, algo que a pandemia agravou. “A taxa de evasão sempre foi gigantesca, mas agora está surreal. O número que roda o mercado é de 50%, o que é e será cada vez mais impactante para o Brasil”, alerta a executiva.
Entre os principais clientes da startup já estão grandes empresas envolvidas em torno da causa educacional, como Fundação Lemann, Instituto Natura e Votorantim. Eles pagam um valor mensal à Movva pelos serviços, e podem oferecê-los, sem custos, a municípios, por exemplo.
“Dessa forma, já impactamos positivamente cinco milhões de famílias e alunos”, estima a Co-CEO da startup.
Os serviços da Movva já foram utilizados em mais de 10 estados brasileiros e em países como Honduras, Guatemala e Costa do Marfim. A redução da evasão, nesses diferentes locais, com distintas realidades econômica, sociais e de dimensão territorial sempre variou entre 20% e 30%.
A mensuração da metodologia e dos resultados foi validada por grandes universidades, caso de Stanford.
Dinheiro para crescer
Mais voltada à captação de clientes do setor privado, a Movva sabe que precisará também de mais dinheiro para continuar sua expansão. Será sua primeira rodada de investimentos, e deve acontecer ainda ao longo do segundo semestre do ano.
“Estamos nos preparando para isso. E, obviamente, teremos todo o critério do mundo para escolher um parceiro para investir. Até porque, claro, não podemos ter dentro de casa alguém que não esteja preocupado com impacto”, pondera Caroline.
Imagens: Divulgação, gettyimages.
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