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“Criatividade não basta para a inovação acontecer”

Para Barbara Olivier, diretora de inovação e tecnologia do ecossistema de aprendizagem internacional Afferolab, mentalidade aberta, flexibilidade organizacional e diversidade são outros fatores chave 

O povo brasileiro é frequentemente descrito como criativo, mas o país está longe de figurar entre as melhores posições nos rankings internacionais de inovação. Para Barbara Olivier, diretora de inovação e tecnologia do ecossistema de aprendizagem internacional Afferolab, não há aí uma incongruência. “Criatividade é apenas uma habilidade para a inovação acontecer. Uma entre várias habilidades necessárias”, afirma. 

Para que a inovação ocorra nas organizações, afirma Barbara, é preciso que várias peças funcionem de forma conjunta e coordenada. E esse é um problema no Brasil, país onde várias barreiras inibem o surgimento de uma cultura inovadora. São barreiras econômicas, políticas, culturais e barreiras educacionais. “Nossos modelos educacionais são fabris, não são voltados para a criação e inovação”, diz a CIO.

Profissional especializada em gestão do conhecimento, inovação estratégica, foresight (antecipação de tendência) e blended learning (aprendizado híbrido), com uma vasta experiência como conferencista internacional em e-learning, Barbara Olivier enxerga vantagens competitivas nos profissionais brasileiros. “São motivados por um desejo genuíno de fazer as coisas acontecer e deixar sua marca”, afirma.

Em se tratando de inovação, o Brasil também pode ser beneficiado por uma característica inerente ao país: sua grande diversidade social e cultural. A inclusão social, cada vez mais presente nas organizações, cria um ambiente de diversidade nas analises e respostas aos problemas, o que gera soluções com maior potencial de aplicabilidade global.

Confira os principais trechos da entrevista ao Experience Club:

1 – A criatividade e as barreiras à inovação 

“A criatividade é uma das habilidades para a inovação acontecer, mas é uma habilidade entre varias. Dentro do conceito de mundo VUCA (Volatility, Uncertainty, Complexity e Ambiguity) e um cenário de negócios BANI (Brittle, Anxious, Nonlinear e Incomprehensible), a gente precisa de milhares de coisas acontecendo, várias peças juntas e orquestradas para que a inovação aconteça, para que as organizações consigam chegar aonde elas querem, para que os profissionais estejam aptos a contribuir para que isso aconteça”. 

“Quando a gente fala em Brasil, é um cenário de muitas barreiras. Barreiras culturais, econômicas, políticas, educacionais. O mundo inteiro ainda reproduz modelos educacionais que são fabris, não voltados para a co-criação, não voltados para a inovação”.

“Muito disso já foi entendido pelas corporações. Elas investem no que há de mais novo, mais ousado e que traz retorno mais rápido. A educação corporativa fomenta a cultura de aprendizagem, a cultura inovadora, os modelos de trabalho e aprendizagem que viabilizam a inovação”. 

2 – O papel do individuo na inovação 

“Hoje é muito estimulado o desenvolvimento de cada um em termos de suas habilidades e capacidades ligadas à inovação. Resolução de problemas complexos, criatividade, resiliência, colaboração, são habilidades que temos que desenvolver a vida inteira. É o lifelong learning (aprendizado contínuo ao longo da vida). Eu aprendo todos os dias, reaprendo, desaprendo, aprendo outra vez, para ser uma pessoa com habilidades ainda mais afiadas, mais conectadas ao mundo em transformação”.  

3 – Fomentar a cultura inovadora 

“As empresas precisam olhar a cultura e a estrutura. Uma estrutura organizacional muito hierarquizada, baseada em silos, bloqueia a inovação. Controles e grupos precisam ser flexíveis. Profissionais podem atuar em uma área com uma função e ao mesmo tempo em outro projeto com função diferente. As possibilidades de navegação na estrutura precisam de flexibilidade”.  

“Uma cultura onde não existe abertura à exposição, uma possibilidade de erro e ajuste ao pós-erro, uma cultura que depende de hierarquia para você ter acesso a coisas e expor suas idéias… Essa cultura está embarreirando a inovação”.

“Em uma organização com tecnologia legada (desatualizada), a inovação não acontece. A tecnologia é um viabilizador, um acelerador para que a inovação aconteça. O mundo se transformou digitalmente e está se transformando cada vez mais. Tecnologias já implantadas precisam ser constantemente revistas. Precisa haver desapego e reconstrução”.  

“A inovação também precisa de ecossistemas cada vez mais abertos, com diferentes envolvidos, complementares, para que gere novas idéias, novos valores para a sociedade”. 

“As organizações precisam investir nisso tudo, mas principalmente em pessoas. São elas que fazem a mágica acontecer. As pessoas precisam ter as habilidades e capacidades desenvolvidas para usar tudo o que está disponível (nas organizações) e devolver todo esse valor conquistado tanto para elas próprias como para as organizações, que precisam desse retorno, por que é o único caminho de futuro para elas”. 

4 – Mentalidade digital e mentalidade de crescimento

“A mentalidade digital permite que se interprete o que acontece em termos digitais e tecnológicos no mundo e se acolha as mudanças. Permite que se interpretem os impactos (das mudanças) em qualquer cenário e contexto. É isso que faz com que a gente se prepare e crie”.

“A mentalidade de crescimento é entender que não paramos de apreender. O cérebro da gente aprende sempre. É preciso ter abertura para aprender, para analisar, ter resiliência. É preciso aprender com as críticas, com os erros. E também é preciso se inspirar no sucesso dos outros”.

“Aplicar essas mentalidades no dia a dia gera uma nova forma de atuar e navegar no mundo. Com essa base, fica mais fácil pensar em empreendedorismo, intraempreendedorismo, protagonismo”.

5 – O novo líder

“Hoje o líder não pode mais criar um jeito de liderar e o time que se adapte ao jeito dele. Não. Os líderes têm que olhar os diferentes liderados, os diferentes perfis, e também se adaptar. É assim que o líder vai gerar valor para a organização e estimular a geração de valor por parte de seus liderados. O líder não pode ser apenas técnico. Ele precisa ser um facilitador, um fomentador de valor e inovação”.

6 – O líder brasileiro 

“Os profissionais brasileiros em geral, e os líderes em particular, possuem mente aberta, são automotivados. Eles querem saber o que está acontecendo no mundo, querem fazer coisas novas. O brasileiro é muito encantado em deixar um legado. Os brasileiros buscam o desenvolvimento, se encantam em descobrir suas melhores versões. Quando essa motivação é combinada com reconhecimento, o desenvolvimento do profissional é acelerado”.

7 – Inclusão social gera inovação 

“Um dos maiores segredos da inovação não é ter idéias. É encontrar o problema certo e focar nele para resolver. Para resolver, é preciso ter uma análise de contexto, uma análise de economia do comportamento. E isso requer diversidade para fazer a análise. Pessoas de diferentes contextos, diferentes realidades, diferentes valores geram um ambiente rico de discussão e de desenho de caminhos. Quanto mais diversidade na sua equipe, mais a sua atuação é global”.

“A inovação ruma para soluções que possam escalar e atender o mundo. Para isso, é preciso acolher o mundo. Quando os times são formados por pessoas que vivem a mesma realidade, que atuam do mesmo jeito e tem o mesmo espectro de interpretação de mundo, você (a organização) já se limitou, está perdendo possibilidades de ideias”.

“Um exemplo é a inovação aberta. É difícil uma organização sozinha conseguir inovar. Ela consegue acelerar a inovação se estiver plugada a outros hubs de inovação, a outras organizações que talvez fossem vistas como competidoras, mas que na verdade podem ser colaboradoras de valor, um ambiente onde todo mundo ganha”.

“Essa mesma análise pode ser vista dentro de um time. Se eu tenho um time todo igual, o time será muito limitado dentro do seu contexto e todo um cenário em volta se perde, não é visto, não é acolhido.  E aí todo um potencial de inovação não vai ser ativado”.

Texto: Domingos Zaparolli

Foto: divulgação

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