Sandro Magaldi, autor do livro Gestão do Amanhã, defende fugir da rotina e fazer as perguntas certas.
O que explica a queda de 20% na emissão de carteiras de motorista em São Paulo, a mais movimentada e caótica cidade da América Latina? De carona nos dados do Detran (Departamento Estadual de Trânsito), que revelaram esse tombo na primeira habilitação, há algo além da crise. A resposta está nos aplicativos, a exemplo do Uber e no Cabify. Mas, essa é apenas a ponta do iceberg, conforme explica Sandro Magaldi, autor do livro Gestão do Amanhã e palestrante do CFO Week, realizado pelo Experience Club nos dias 17 e 18 de maio no Sofitel Jequitimar Guarujá (SP). Nos bastidores, o que se enxerga é uma profunda mudança de comportamento.
“Na minha geração, ter um automóvel estava no imaginário da maioria. Eu tinha um Fusca 72 e dava pulos de alegria. Esse sonho não existe mais e isso impacta toda indústria”, afirma Sandro.
O compartilhamento de veículos, algo que até as montadoras GM e Ford aderiram, também abriu espaço para o avanço das bicicletas na cidade. O Uber, por exemplo, acabou de adquirir a startup Jump, de compartilhamento de bikes. Outro exemplo é a Yellow, startup criada no Brasil pelos fundadores da 99, que espalhará 20 mil bikes em São Paulo a partir de julho.
O que o Brasil vai é surfar na onda do que já acontece e funciona bem no exterior, observa Sandro. Hoje, há mais de 400 milhões de pessoas cadastradas em ‘bike share’ na China. “É uma transformação imensa, que impacta o mundo dos negócios e faz parte da quarta revolução industrial.”
Perguntas erradas
Aos líderes e à população em geral, Sandro alerta que a sociedade enfrenta dois obstáculos. O primeiro é fazer as perguntas erradas. “Enquanto discutimos a briga entre táxi e aplicativo, o Uber está desenvolvendo o táxi voador com a Embraer. Precisamos acompanhar essas mudanças”, adverte.
Isso ocorreu pelo fato de o ser humano não conseguir acompanhar a velocidade das transformações tecnológicas. O segundo erro é cair na rotina e não colocar a mente para voar. Quem não busca a novidade corre sério risco de ser morto pela obsolescência.
Sandro Magaldi lembra que as empresas e os líderes que não conseguiram fazer a melhor leitura do cenário atual e futuro ficarão pelo caminho, conforme aconteceu com gigantes outrora referências como a Kodak, Blockbuster e Nokia. Em 2007, mostrou durante sua palestra no CFO Week, os 5 maiores fabricantes de celulares – Nokia, Samsung, Motorola, Sony e LG – dominavam 90% do lucro global do setor. Em 2012, o iPhone gerou sozinho 92% dos lucros globais.
“Nos últimos 10 anos, temos testemunhado rupturas em diversos setores como os de varejo com a Amazon.com, de transporte com o Uber, de hospitalidade com o Airbnb, de filmes com o Netflix, e de automóveis com o Google.”
Texto: Françoise Terzian
Foto: Marcos Mesquita/Experience Club