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Afinal, somos “recursos” ou humanos?

Diretor de RH Victor Queiroz conta como o case do banco digital Next e ações de inovação estão transformando a cultura do Bradesco.

Há 15 anos no Bradesco, começando em um programa de treinamento de jovens, o diretor de RH Victor Queiroz simboliza a forte cultura de gestão de pessoas da instituição amplamente reconhecida no mercado. Convidados especial para falar no RH2030 realizado em 8 de agosto pelo Experience Club, o executivo de um dos maiores bancos privados do país destacou que sempre questionou essa visão conceitual do RH, que vem tomando forma desde a segunda metade do século passado.

“Afinal, nós estamos falando de ‘recursos’ ou somos humanos?”, questionou Queiroz  

Na apresentação para um grupo exclusivo de 30 executivos de RH de grandes empresas na sede da Athié Wohnrath, em São Paulo, Queiroz enfatizou que o destino final das transformações que afetam o modelo de negócio das empresas desde sempre: pessoas. Por mais que a tecnologia crie incertezas acerca do futuro do trabalho e as relações entre homens e máquinas, os produtos, serviços e negócios gerados a partir da inovação terão como objetivo servir o ser humano.

Os processos evoluem, por isso o desafio é garantir que as pessoas também o façam. Ele lembrou que, se na Indústria 3.0 chegamos à automação e à computação eletrônica, na Indústria 4.0 as empresas passaram a utilizar ferramentas sistema cyberfísicos, internet das coisas, automação de softwares e robôs autônomos. Mas nada disso mudou a essência, que é o foco no cliente.

“Não vejo um embate entre homem e máquinas na próxima década. A tecnologia, observando a linha do tempo, permitiu incrementar todas as oportunidades de negócio voltadas ao próprio ser humano”, afirmou.

Por essa razão, Queiroz apontou que, embora os processos de inovação possam significar uma ameaça, eles são um fator muito importante para a evolução da cultura organização, sem que ela perca a sua essência. Ele destacou como os cases do Next, banco digital lançado no mercado pelo Bradesco em 2017, assim como a plataforma de inteligência artificial Bia e o hub inovabra tiveram, cada um à sua maneira, papeis muito importantes para a gestão de pessoas na companhia.

Next e Bia

Vice-presidente de Gente, Cultura e Performance da Athié Wohnrath, Clayton Pedro questionou no encontro como o Bradesco estava conseguindo trabalhar o processo de integração do Next com a grande estrutura do Bradesco, lembrando que, em experiências pessoais anteriores, ele havia testemunhado o clássico caso do “elefante que esmaga a formiga”.

Queiroz apontou que, no caso do Next, que em junho alcançou 1,1 milhão de clientes, o Bradesco se engajou desde o nível da presidência logo no início, o que fomentou um espírito de defesa coletivo da iniciativa. “Estamos vivendo uma mentoria reversa com o Next. O projeto sofreu desconfiança na largada, mas a alta liderança teve muita tranquilidade para desenvolver o negócio, com a participa
ção direta na implementação”, detalhou o executivo.

Ele citou uma reunião recente com 25 lideranças que, em tese, poderiam jogar mais na defensiva, mas o que aconteceu foi uma grande colaboração para o Next. Todos se sentindo “pais e mães” do projeto, que pretende chegar a 1,5 milhão de clientes até o final do ano. “O Next é um belo case de como levar mais autonomia para a cultura do Bradesco”, destacou Queiroz.

No caso da Bia, projeto desenvolvido com a plataforma Watson, da IBM, o grande aprendizado foi entender o papel do ser humano no aprimoramento da tecnologia, explicou o diretor de RH do banco. “O Watson aprendeu muito de português por causa da Bia. E, na verdade, isso só aconteceu porque o Bradesco fala diariamente com milhões de pessoas no Brasil inteiro, o que permitiu o aperfeiçoamento da inteligência artificial na questão do idioma”.

Presente também ao RH2030, a vice-presidente de RH da IBM, Luciana de Camargo Pereira, que acompanhou de perto o projeto, elogiou a forma como o Bradesco soube trabalhar com primazia o reskilling dos colaboradores para que os novos processos de automação, em vez de ameaçar empregos, fossem uma alavanca para o crescimento profissional em atividade de maior valor para a organização.

“A forma como o Bradesco trabalhou com a Bia nos mostra a razão de ser do RH: como a gente pode ajudar as pessoas a enxergar que podem fazer muito mais do que elas mesmo se sentiam capazes.”

Um contraponto importante, segundo a executiva da IBM, para as pesquisas que mostram como mais de 50% dos líderes acham que as empresas não conseguem aderir a novas tecnologias por um problema de cultura das pessoas.

Colaboração aberta

Em operação desde 2015, o inovabra é o grande laboratório de inovação e relacionamento com
startups do Bradesco com o mercado. É dali que muitas das ideias que vão impactar no banco nos próximos dez anos estão sendo trabalhadas com profissionais dos mais diversos perfis.

Essa experiência, segundo Queiroz, foi uma comprovação de como o termo “recursos” deve ser enxergado de uma maneira muito mais aberta, porque a estrutura atual das empresas não será mais capaz de digerir sozinha toda a complexidade que surgirá nos mercados daqui por diante.

“Não faz mais sentido falar em ‘aquisição’ de talentos, mas em acesso às pessoas com os saberes e as habilidades que não estarão necessariamente na folha de pagamento”.

Na visão do diretor de RH do Bradesco, as enormes transformações que virão arte 2030 já podem ser medidas pela velocidade com que tudo aconteceu nos últimos quatro ou cinco anos. E não vão parar por aí. “Não estamos vivendo uma era de mudanças, mas uma mudança de era”.

Texto: Arnaldo Comin

Fotos: Marcos Mesquita/Experience Club

Ilustração: Pedro Moraes sobre imagem de Unsplash 

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