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A nova onda de transformação digital será nas pequenas e médias empresas

Pierre Schurmann conta seus planos para a Nuvini, holding de empresas de SaaS que vai abrir o capital na Nasdaq até o meio do ano e planeja 300 aquisições até 2035.

Por Denize Bacoccina

Fundada por Pierre Schurmann há pouco mais de três anos, a Nuvini, holding de sete companhias de SaaS B2B voltadas para o mercado de pequenas e médias, sempre teve como estratégia abrir seu capital na bolsa. Com as dificuldades do mercado no ano passado, Pierre resolveu esperar um pouco até que, em janeiro, a fusão com a Mercato Partners Acquisition, empresa de aquisição de propósito específico (SPAC, na sigla em inglês) do fundo americano Mercato Partners, trouxe a possibilidade de abrir o capital na Nasdaq.

A SPAC já tinha captado um volume de até US$ 239 milhões, recursos que agora serão utilizados para colocar em prática os planos da Nuvini de criar um grupo de SaaS que pode chegar a 300 negócios até 2035. Atualmente, fazem parte do grupo a Effecti, para licitações públicas; a SS Ótica, para óticas; a On Click, ERP para vendas e gestão; a Data Hub, de Big Data e Analytics; a Lead Lovers, de marketing digital; a Mercos, de e-commerce B2B e a Smart NX, de voicebots e chatbots automatizados.

 

 

São negócios diferentes, para nichos diferentes, mas todas com o mesmo foco: acelerar a transformação digital dos pequenos e médios negócios. Trata-se de um mercado gigantesco, ainda pouco explorado e muito concentrado nas grandes companhias. Comparando com a Índia, por exemplo, a penetração de software é cinco vezes menor no Brasil. “A próxima onda de transformação digital será nas empresas pequenas e médias”, diz Pierre Schurmann nesta entrevista ao [EXP].

Um dos pioneiros da internet no Brasil, com a Zeek, ainda em 1995, Pierre Schurmann é também o fundador da Bossa Nova Investimentos, fundo de venture capital para startups em estágio inicial. Com a Nuvini, ele não mira apenas o Brasil, mas toda a América Latina, e vai usar os recursos da SPAC para a aquisição de empreendimentos que já sejam líderes ou vice-líderes em seus mercados. “Isso nos dá mais lastro pra podermos ir com mais consistência”, afirma.

Leia a entrevista exclusiva com Pierre Schurmann:

A Nuvini é uma holding de empresas de Software as a Service e você fez várias aquisições, inclusive uma recentemente, da Smart NX. Como funciona essa rede? Elas atuam em conjunto ou são negócios independentes?

A melhor explicação é: a Nuvini é a Ambev do SaaS. É uma plataforma. Com uma diferença que nós não temos um centro de distribuição e não integramos as soluções dos negócios porque é muito mais eficiente deixar cada um na sua própria estrutura. A Nuvini é uma holding, que tem vários negócios separados debaixo dessa marca.

E quais são os setores?

Somos agnósticos em relação a segmento. Estamos olhando muito mais o conceito de SaaS B2B e o tamanho da empresa. Buscamos negócios que tenham uma solução completa no seu nicho. Pode ser uma solução vertical, como é o caso da SS Ótica, um ERP da área de óticas, ou a Mercos, que conecta indústrias a revendedores comerciais. Ou horizontal, como a Smart NX, nossa última aquisição, que é uma solução de voz e chat para o pós-vendas.

As empresas trabalham em conjunto, com uma única porta de entrada para o cliente?

A ideia não é ser uma rede, mas um grupo de empresas, como as consultorias mais antigas. Cada uma delas não atende a vários clientes do mesmo setor, mas outra companhia do grupo pode atender. Estamos olhando para algo mais macro, com foco nas pequenas e médias. Esse é o denominador comum entre elas.

A próxima onda de transformação digital será nas pequenas e médias. A primeira onda foi indústria, banco, varejo, logística. E a segunda onda é onde o Brasil existe de verdade, onde estão grande parte dos empregos. É por exemplo chegar no posto de gasolina e conseguir, com software, fazer a gestão do posto, a gestão dos colaboradores, dos fornecedores. Fazer toda a gestão ali naquele aplicativo, em vez de usar uma planilha Excel e um bloquinho de notas que pode se perder. É mais simples, teoricamente, mas ela é transformacional para o mercado.

A Nuvini quer fazer a transformação digital nos pequenos e médios, em diferentes negócios.

Hoje essa holding tem sete empresas. Qual o seu objetivo?

Acho que vamos chegar até umas duzentas, trezentas empresas até 2035. Nos últimos 12 meses eu conversei com 430 empreendedores. Tem umas 25 que estamos olhando para adquirir nos próximos anos. A ideia é comprar quatro a cinco por ano neste começo, umas três ainda este ano, e depois acelerar. Agora estamos num ritmo mais comedido.

E tem alguma sinergia prevista entre essas companhias ou elas vão atuar de maneira independente?

Como essas empresas são todas líderes, estão crescendo, gerando resultado, a melhor geração de valor é apoiá-las de acordo com o grau de oportunidade de crescimento, que é diferente para cada uma. Em geral são muito boas em produto, estratégia, tecnologia, marketing. O que a gente faz, às vezes, é apoiar no refinamento da máquina de vendas, com recomendações de como melhorar esse processo. Mas é tudo numa base de sugestões, porque elas são líderes ou vice-líderes do segmento, estão com ritmo de crescimento muito bom, e a decisão final é dos fundadores.

Os fundadores continuam na gestão?

Sim, eles continuam na gestão e continuam como sócios. Vamos aumentando a nossa participação no negócio com o tempo, ao longo de três a cinco anos.

No começo do ano você anunciou uma fusão com a Mercato Partners, que tem um SPAC e isso deve levar à abertura de capital na Nasdaq. Como está o processo e quando deve sair o IPO?

Nós encontramos uma afinidade muito grande com eles pelo fato de já estarem investindo em tecnologia há mais de 15 anos, com um histórico muito relevante, e por terem uma filosofia muito parecida com a nossa. A Mercato foi eleita um dos top 15 fundos do mundo, num universo de 10 mil fundos.

Se tudo caminhar conforme o planejado, devemos listar na Nasdaq no segundo trimestre.

A Nuvini vai assumir o SPAC, que tem aprovação para captar até US$ 239 milhões. O volume final pode ser menor, porque quem não topar a fusão pode desistir. Isso nos dá mais lastro para crescer com mais consistência.

Você pretende abrir na B3 também ou só na Nasdaq?

Por enquanto só na Nasdaq. A SPAC já está listada e o processo fica um pouquinho mais simples. Fazer aqui também teria um custo muito alto. É muito mais fácil abrir na Nasdaq do que aqui. Lá tem IPO de empresas de US$ 50 milhões, tem milhares de companhias menores listadas. Aqui é muito custoso fazer um IPO pequeno: pela complexidade regulatória e porque o número de investidores é muito menor, são 4 milhões. Na Nasdaq, tendo um bom projeto, você consegue captar mais dinheiro.

E qual é a estratégia de expansão internacional?

Algumas das nossas empresas já têm alguns clientes fora do Brasil, mas eles representam muito pouco da receita. Para a expansão na América Latina o projeto é fazer aquisições na região: México, Chile, Colômbia, Argentina. Muitas companhias de software tentaram abrir um escritório local para crescer e foi muito complexo. Não queremos seguir essa trilha. É mais negócio comprar uma empresa local. Cada país tem a sua especificidade. É um pouco como o Mercado Livre expandiu na América Latina, comprando os concorrentes locais.

Desde o ano passado, o financiamento para empresas de tecnologia está em crise, mas o mercado comprador de serviços continua em expansão, especialmente neste mercado que você vai focar, de pequenos e médios, que ainda tem muito espaço para crescer. Qual é o crescimento que você espera?

A penetração de software no PIB da Índia é cinco vezes maior que no Brasil. Para chegar no nível da Índia, ainda precisamos crescer muito. Ainda estamos engatinhando. Para chegar nos Estados Unidos são quarenta vezes, na China são cem vezes. Ainda estamos literalmente no comecinho do comecinho.

Ao mesmo tempo, essa retração no crédito acabou reduzindo o valor de algumas empresas. Isso facilitou, aumentou as oportunidades de aquisições?

Tem um ajuste nos preços, que é natural. O que está acontecendo é uma volta ao normal. Esse período de final de 2020, 2021, foi uma anomalia. O empreendedor brasileiro sempre teve pouco capital e sempre foi muito eficiente com ele. Acho que vamos voltar a essa fase. O mercado deve continuar crescendo num ritmo cauteloso e consistente.

Você é um dos pioneiros da internet no Brasil, ainda nos anos 1990. Como você vê a internet hoje? Como você vê a Web3?

Eu acho interessante a Web3. Quando eu olhei a internet lá em 1995, era dentro de uma visão da capacidade de transformação e das oportunidades de negócios que pudessem ser geradas.

Mais do que Web3, a onda agora é a inteligência artificial. A inteligência artificial distribuída vai ser muito transformadora. Essa é a nova onda da transformação digital.

Como você vê a inteligência artificial para as pequenas empresas?

Eu acho que ela vai cada vez mais facilitar, simplificar, melhorar a vida do pequeno e médio empreendedor. Coisas simples, como a contabilidade e a classificação de notas fiscais, por exemplo, que no Brasil é um negócio supercomplexo. Hoje já existem plataformas que conseguem fazer isso automaticamente cem vezes ou duzentas vezes mais rápido do que uma pessoa, com zero erro.

Isso tem um impacto no emprego, sem dúvida. Mas, por outro lado, vai gerar mais eficiência e, teoricamente, o pequeno e médio pode crescer seu negócio, porque consegue lidar com mais atividades. Por exemplo, o agendamento de um salão de beleza: antigamente tinha que ligar e falar com uma pessoa. Depois veio o aplicativo. Agora, com o agendamento automatizado, se alguém cancelar um horário, a IA consegue agendar outra pessoa no lugar. Com isso o salão pode fazer mais atendimentos e ganhar mais.

A inteligência artificial vai facilitar a vida de muita gente e ainda mais do pequeno e médio empreendedor. As grandes empresas já usam para tomar decisões. Vai ficar um pouco mais nivelado o uso dessa tecnologia e, se bem aplicado, irá melhorar a vida de todos.

Você já tem alguma empresa que atua com inteligência artificial?

Ainda não. Temos a Smart NX, que acabamos de adquirir, que usa inteligência artificial para definir o sentimento da interação. Ela consegue identificar, na voz e no texto, se uma pessoa que está vindo no chat de atendimento tem um tom de reclamação, por exemplo, e ajuda a lidar com isso. Também já está lá o histórico do cliente para que ele não tenha que repetir tudo de novo e o atendente já esteja preparado para resolver o problema. Isso acelera o processo, melhora a qualidade de vida do atendente e do consumidor ou consumidora.

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