David Droga falou sobre a importância da criatividade para os negócios em painel no Web Summit Rio
Denize Bacoccina
O australiano David Droga trilhou a carreira como executivo de publicidade. Se tornou sócio de uma agência quando tinha apenas 22 anos, ocupou cargos importantes em várias agências reconhecidas e, em 2019, vendeu para a Accenture a Droga5, agência fundada por ele que ganhou vários prêmios relevantes do setor. Desde agosto de 2021, David Droga é também presidente criativo e CEO da Accenture Song.
Para muita gente, um profissional da criação não seria adequado para um cargo da alta gestão. Mas David acha o contrário, que as pessoas mais criativas precisam estar no topo das empresas, porque elas são importantes para questionar o modo como as coisas são feitas, criar novas maneiras de agir e atuar de forma mais humanizada.
“Iniciei minha carreira como redator e depois como diretor criativo. Agora sou um CEO, o que parece estranho, mas também sinto que é apropriado. As pessoas mais criativas precisam tomar decisões no topo”, disse ele num painel do Web Summit Rio, entrevistado pela jornalista Claudia Penteado. David disse que existem muitos CEOs brilhantes, mas, em geral eles tendem a olhar para as situações pensando o que podem extrair daquilo. Já as pessoas criativas, segundo ele, olham para as situações e pensam nas oportunidades, no que podem acrescentar. “Esse é um tipo diferente de mentalidade.”
Sobre como implementou a cultura de criatividade dentro da Accenture Song, David Droga disse que é preciso perceber que a criatividade não é privilégio dos redatores, designers ou diretores de arte. “A criatividade é uma responsabilidade de todos. Existem dois tipos de pessoas que eu gosto de procurar em uma empresa, elas atuam em apenas duas funções: fazer o trabalho bem feito ou ajudar outra pessoa a fazer o trabalho bem feito. Se você não é um desses dois, está ocupando espaço. Você é apenas um passageiro”, afirmou.
Veja 10 insights sobre criatividade e a importância do pensamento criativo dentro das empresas:
– Não se pode esperar respostas diferentes se estiver fazendo as mesmas perguntas. Um dos privilégios das pessoas criativas é que elas não veem as coisas de uma maneira temperada.
– As pessoas pensam que a criatividade refere-se apenas às coisas divertidas ou emocionais, mas a criatividade é como um código. É sobre o que poderia ser e deveria ser. A criatividade é um modo de vida, uma forma de ver as coisas e de colocar as pessoas no centro das coisas. Criatividade é sobre conexões. É sobre pessoas.
– É muito importante que pessoas criativas subam na hierarquia. O mundo precisa disso, agora mais do que nunca.
– O que a tecnologia realmente faz é acentuar a necessidade de humanidade e de pessoas criativas. Porque uma vez que todos tenham acesso às mesmas coisas, o que vai nos diferenciar são as perguntas que fazemos ou como mudamos as coisas. A criatividade também tem a ver com não seguir um roteiro.
– A criatividade tem a ver com saltos laterais e colisões de ideias, interpretando mal e reinterpretando as coisas. Isso é que é criatividade. E você não pode programar algo para fazer isso.
– A inteligência artificial vai mudar nossa capacidade de produção, nossa ideia, nossa codificação. Mas não vai acabar com a necessidade de coisas excepcionais e originais. Só vai acabar com as coisas genéricas e a maioria das indústrias criativas é bastante medíocre. Os anúncios médios na publicidade são chatos. Esses a IA pode substituir. Mas o melhor e mais original material emocional ainda vai estar lá. Vai se transformar. O mundo vai mudar.
– Eu acho que a cultura criativa é apenas criar um espaço onde as pessoas sintam que podem ter uma opinião e liberdade para se expressar. A cultura criativa não é determinada por mesas de pingue-pongue, pufes e cerveja grátis. A cultura criativa correta existe em um lugar onde as pessoas podem estragar um pouco as coisas e tentar fazê-las de maneiras únicas.
– A cultura de criatividade e inovação é uma mentalidade. É ter especialistas no comando, não generalistas. Você precisa ter pessoas que saibam o que estão fazendo porque essa é a vocação delas, elas acordam no meio da noite pensando nisso ou se estressam.
– É preciso criar uma cultura construída em torno de pessoas que veem e sentem que são julgadas por sua produção. Eu falo muito internamente sobre recompensar as pessoas pelos problemas que resolvem, não pelo que vendem.
– A única coisa que une todas as empresas, seja uma start-up ou uma empresa de US$ 100 bilhões, é que ela precisa ser relevante para seus clientes e consumidores e para seus funcionários. Mas como ser relevante é algo que muda diariamente, não é mais algo que você pode dar como certo. E isso é muito bom para as empresas criativas, porque agora você é convidado a entrar, porque está mais conectado e tem um ponto de vista diferente.