Empresa de benefícios flexíveis prevê dobrar de tamanho a partir da entrada da nova lei de benefícios e anuncia aplicativo de gestão de viagens corporativas para segundo semestre
Por Monica Miglio Pedrosa
Expansivo, energético e apaixonado pelas transformações do mercado. O diretor-geral da Swile Brasil, Júlio Brito, recebeu o [EXP] no escritório da empresa em São Paulo com um sorriso largo no rosto. O motivo era a galeria de fotos recém-recebidas do neto pelo celular. É com esse mesmo orgulho que ele fala do momento atual do mercado brasileiro de benefícios e o motivo pelo qual ele assumiu a direção geral da Swile no início de 2022, após 7 anos como diretor comercial de uma empresa de benefícios tradicional. “Sou apaixonado por desafios e quero ajudar a escrever um capítulo novo no segmento de benefícios no país”, conta.
A francesa Swile entrou no mercado brasileiro em 2021, comprando a pioneira Vee, de olho em um mercado que movimenta cerca de R$ 150 bilhões por ano, hoje dominado por quatro grandes operadoras – VR, Alelo, Sodexo e Ticket. A oportunidade de entrada de novos players veio impulsionada pela Lei 14.442/22, que muda o Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) e estimula a concorrência no mercado, acabando com a prática do rebate – descontos oferecidos pelas operadoras de benefícios tradicionais na renovação de contratos com empresas – e prevendo a portabilidade para os colaboradores.
No último ano, Júlio estruturou a companhia para um crescimento exponencial a partir deste mês de maio, data em que a lei entra em vigor. “Nossa meta é atingir 1 milhão de usuários nos 12 meses após essa data”, conta. Para isso, ampliou o time comercial e iniciou um programa de parcerias para conquistar novos clientes em todo o Brasil. Na entrevista, ele revela ainda as novidades que serão lançadas no segundo semestre deste ano e o impacto das mudanças previstas para o setor.
Em janeiro você completou 1 ano de Swile. Qual o balanço que você faz desse período à frente da empresa?
Júlio Brito – Nesse primeiro ano dobramos o número de funcionários. Hoje temos cerca de 230 colaboradores, que atuam além do eixo Rio-São Paulo. Temos funcionários em todas as regiões do país. Estruturamos uma área nova de parcerias, que desenvolveu relações com grandes empresas que já vendem produtos e serviços para RH – como softwares, planos de saúde etc – para aumentar a venda do nosso produto. O time comercial foi ampliado, e além das equipes internas agora temos um time que vai a campo para dar um atendimento mais personalizado ao cliente.
Participamos de vários eventos de RH, como o Conarh, e iniciamos ações regionalizadas com várias entidades para ampliar a divulgação da Swile. Internamente, fizemos uma parceria para oferecer um Programa de Desenvolvimento da Liderança, com foco em formação de pessoas. Tenho orgulho de dizer que nosso eNPS (employee Net Promoter Score, ou o NPS dos colaboradores) é uma das referências hoje no Brasil, superior a 75%.
E em relação à carteira de clientes, qual a meta para 2023?
Estamos trabalhando para mais do que dobrar o número de clientes e chegar a 1 milhão de usuários ativos até maio de 2024, 12 meses a partir da entrada em vigor da nova lei.
Você veio de uma empresa tradicional de mercado de benefícios. O que o atraiu para essa mudança?
Uma das coisas que me chamou muito a atenção é a possibilidade de ajudar a escrever um capítulo novo no segmento de benefícios no país. Sempre fui movido a desafios. Entrei como menor aprendiz no Banco do Brasil e segui carreira no banco por 16 anos. Até que veio o Plano Real e, com o advento do dinheiro de plástico, uma oportunidade muito grande se abriu no mercado. Duas grandes empresas dominaram esse movimento, a VisaNet e a Mastercard, e eu quis explorar esse mundo. Abri mão de um emprego estável. Na época morava na Bahia, e fui para Manaus abrir o escritório da VisaNet, que se tornou depois Cielo, onde fiquei por 15 anos.
Em 2010, com o surgimento de novos players no mercado de adquirência, fui convidado para trabalhar no Safra e criar do zero a empresa deles neste mercado. Depois de três anos, fui para a Alelo, como Diretor Comercial. A partir de 2017 o mercado de benefícios começou a mudar e mais uma vez vi uma oportunidade de inovar.
Uma das principais mudanças da Lei 14.442/22 prevê o fim da prática do rebate, o que deve dar mais oportunidades para os novos entrantes. Que outros impactos o fim dessa prática deve promover no setor?
Essa é uma prática nociva do mercado promovida pelos incumbentes e no final quem paga essa conta é o trabalhador. No modelo de arranjo fechado, os incumbentes estabelecem taxas administrativas que são abusivas para os estabelecimentos comerciais que oferecem alimentos para os trabalhadores, vão de 4% a 8% do valor do benefício. Além disso, estabelecem longos prazos de pagamento, de 30 dias.
Sabemos que os estabelecimentos comerciais precisam de fluxo de caixa e não podem esperar tanto tempo para receber, então eles pedem antecipação de recebimento e são taxados novamente, em percentuais que chegam a 11%, 12%. Para que essa conta feche, o estabelecimento vai acabar repassando esse custo para o consumidor, aumentando o preço do alimento. Imagine que o benefício de alimentação foi criado para melhorar a qualidade da refeição do trabalhador e na prática está acontecendo o inverso.
Qual o percentual de taxa de administração cobrada pela Swile?
Nós operamos no arranjo aberto, não cobramos nenhuma taxa de administração dos estabelecimentos, apenas recebemos a taxa padrão de intercâmbio da bandeira, que é menor que 2%. Na minha trajetória, vivi essa transição do mercado de cartão de plástico. Enquanto o mercado estava polarizado entre Visa e Mastercard, as taxas eram de 4 a 5%. Hoje, com a entrada de mercado de novos players, a taxa caiu para menos de 2%. Vamos viver um movimento similar a esse com o cartão de benefícios.
Qual é a capilaridade da rede de estabelecimentos conveniados à Swile?
Uma empresa que atua no arranjo fechado tem em torno de 300 a 350 mil estabelecimentos afiliados no Brasil. O nosso cartão, por ser bandeirado, é aceito em mais de 4 milhões de estabelecimentos no país.
Uma das críticas feitas por gestores do modelo fechado é que o arranjo aberto pode permitir que um colaborador use o valor do benefício alimentação em um estabelecimento que tenha vários CNAES e que venda também outros produtos que não sejam alimentares.
Nossa tecnologia só permite o uso do benefício alimentação em máquinas de estabelecimentos que vendam comida. Caso contrário o próprio sistema trava a utilização indevida. Também não permitimos transferir o valor recebido para alimentação para uma conta que pode ser usada para outros benefícios. Um dos nossos diferenciais é que temos um único cartão para até sete subcontas, ou seja, sete benefícios diferentes. O colaborador tem autonomia para transferir os valores recebidos entre as demais subcontas, respeitando, claro, a política de cada empresa.
Como você vê a questão da portabilidade, prevista na lei, mas que depende de novas regulamentações do governo para entrar em funcionamento?
O objetivo maior do governo é dar mais liberdade ao trabalhador, inclusive liberdade de escolha. Então é muito importante entender o que virá nessa regulamentação adicional para que as empresas não burlem a legislação, não deem cashback para estimular a migração de serviço, o que não deixa de ser um rebate disfarçado. Se o processo for totalmente justo, claro e as operadoras usarem de ética e respeito à legislação, a portabilidade vai ser muito boa, pois a escolha do usuário será feita pela qualidade do serviço oferecido, não por um valor disfarçado de cashback.
O benefício flexível tem sido um recurso usado pelo RH das empresas para atrair e reter funcionários. Quais são os diferenciais da Swile?
Aumentamos nosso time de inovação no ano passado, porque entendemos que teremos que estar mais bem preparados para esse novo momento. O cliente que experimenta nosso produto hoje fica tão surpreendido positivamente com a experiência que não quer mudar. Para o RH das empresas, é um processo de migração muito rápido e transparente. Para os colaboradores, não é necessário ligar numa central, gastar crédito do celular dele para isso. É tudo feito pelo aplicativo.
Somos a única empresa de benefícios flexíveis com X-Pay, em que o funcionário faz o download do cartão e pode usá-lo para fazer pagamentos apenas encostando no equipamento eletrônico, com reconhecimento facial. Usamos essa solução há um ano e até agora ninguém conseguiu acompanhar. Temos parcerias e programas de desconto que podem chegar a 50%. O resultado desse cuidado é que nosso NPS é superior a 72%, enquanto a média do segmento é 58%. Nossa nota no Reclame Aqui é 85%, fomos a única empresa de benefícios flexíveis a estar entre as 5 mais na nossa categoria em 2022.
Que outros diferenciais vocês pretendem oferecer ainda em 2023?
Vamos trazer um novo serviço para o Brasil no segundo semestre, voltado à gestão de viagens corporativas, que já é usado na Swile francesa. Esse é um segmento complexo, que envolve prestação de contas, conciliação, processo de pedido, aceite e compra de passagens e todo esse processo será facilitado por meio do nosso aplicativo. O colaborador poderá fazer a captação das notas de serviço da viagem e automaticamente a informação já vai para o sistema de conciliação e contábil das organizações. Estamos estabelecendo convênios com plataformas de viagem, companhias aéreas e locadoras para integrar os processos.
Como vocês se posicionam em relação às práticas ESG no Brasil?
Entendemos que essas práticas devem ser globais, portanto, iniciamos o processo criando um Comitê de Sustentabilidade que tem dois embaixadores de práticas sustentáveis. No segundo semestre do ano passado levamos vários cases de ESG em empresas brasileiras para discutir isso globalmente. Em termos de equidade de gênero, nosso time hoje está com uma distribuição praticamente 50%/50%, mas vejo oportunidades de melhoria em posições de liderança para mulheres. Queremos buscar a certificação B-Corp nos próximos anos e já estamos trabalhando nessa direção.