Startup que nasceu em São Paulo transfere operações para o Sul da Flórida para competir com as gigantes do setor e faz planos para um IPO em até cinco anos
Disputar em terras norte-americanas um mercado dominado por grandes corporações, como o de integração de sistemas de tecnologia, parece ser uma barreira instransponível para uma empresa nascente que deu os primeiros passos no Brasil. Mas a Digibee, startup fundada em São Paulo em 2017, pelos sócios Rodrigo Bernardinelli, Vitor Sousa e Peter Kreslins Junior, está disposta a encarar o desafio de se tornar uma marca global no setor que conta com players do porte de Salesforce, Oracle, IBM, Zapier, entre outras.
A empresa brasileira colocou Miami no centro de sua estratégia de expansão e está transferindo gradualmente as operações para o sul da Flórida. Na nova base, já captou uma rodada de US$ 25 milhões do Softbank Latin America Fund, líder global de aportes em empresas de tecnologia, com participação da Kinea Ventures e da G2D Investments. Antes deste aporte, a startup já havia levantado mais de US$ 6 milhões em outras rodadas no Brasil.
Em 2021, a Digibee atingiu uma receita recorrente anual (ARR) de quase US$ 10 milhões, um crescimento de 213% frente ao ano anterior. A projeção para 2022 é crescer 230%, com mais de US$ 30 milhões em ARR. Entre os clientes, estão grandes corporações de áreas como varejo (Carrefour), bancos e a bolsa de valores brasileira (B3).
Parte significativa do aporte será investido na contratação de profissionais sênior, com experiência no mercado de integração de sistemas, nas mais diversas áreas. “A Digibee faz vendas enterprise, então não dá pra começar de forma tímida. Tem que chegar para competir com os grandes, jogar de igual para igual”, afirma Flavio Pripas, empreendedor que também atua no mercado de venture capital e que recentemente integrou-se ao time de sócios da Digibee como diretor de Estratégia (CSO).
Para entender:
Em meados do ano passado, ele se mudou com a família de São Paulo para Miami, observando a nova cena de tecnologia local e de olho em novos desafios – algo como levar uma startup em expansão à liderança de mercado e uma oferta pública de ações (IPO) nos EUA.
“Estou nesse mundo da tecnologia desde 2008. Depois do que já fiz, da concepção do CUBO (um dos maiores hub de startups de São Paulo) ao meu papel também como investidor na Redpoint Eventures, tenho uma visão privilegiada de como cresce uma startup. Primeiro, você tem que ter um bom produto – e saber que aquele mercado vale a pena”, afirma.
Estratégia desenhada até o IPO
De maneira “orgânica”, como ele define, surgiu uma oportunidade com a Digibee, após alguns contatos e apoios informais na área de estratégia junto ao CEO Rodrigo Bernardinelli. “Fui num dia à sede, conversamos, voltei logo depois e, aos poucos, já estavamos definindo qual seria o meu papel. Se der certo, vamos construir uma das maiores empresas que já saíram do Brasil. Temos uma estratégia sólida e planejada, vamos buscar um novo aporte neste ano e chegar ao IPO nos próximos três a cinco anos”, diz.
O mercado de integração de sistemas, ressalta Pripas, vale a pena. “Todo mundo de TI tem desafios nesta área que, junto com cibersegurança, é uma das principais dores do mercado. Nossa plataforma é para missão crítica, ela não pode parar senão os clientes param. Mas nos convencemos de que temos produto para disputar o mercado dos EUA, porque ajudamos a fazer mais rápido. Não há prova de conceito em grandes empresas que a gente tenha perdido”, afirma o CSO. A Digibee executa mais de 400 milhões de integrações diariamente e afirma que reduz o tempo de projetos que geralmente levam meses para alguns dias.
Confiantes no produto, os esforços agora estão na expansão e montagem do time, que deve somar 100 pessoas em Miami até o final do ano. Em todo o mundo, a expectativa é chegar a 450 funcionários – atualmente são 210. “Nosso maior desafio é a máquina de contratar a pessoa certa para o cargo certo, ter fit para o mercado dos EUA, preferencialmente senior. Atualmente, temos 30 pessoas. Mas toda a liderança virá efetivamente para cá. A cada dois meses, queremos reunir todos para desenvolver nossa cultura e os processos internos”, diz Pripas.
A nova localização é estratégica para os objetivos de ser a plataforma líder na América Latina – enquanto começa a batalha no mercado dos EUA. “Estamos em Miami pela proximidade com o ambiente brasileiro, onde somos muito relevantes. É um hub natural para entrada de negócios latinoamericanos e, além disso, muitos executivos querem se mudar para a região. Com o movimento atual de atração de empresas, Miami tem todas as ferramentas para crescer no mercado de tecnologia”, avalia.
Ficha técnica:
Foto: divulgação
Texto: Fabrício Umpierres